segunda-feira, 11 de junho de 2007

Quem levou você pra longe da minha terra?

Tem dias que eu saio de casa pra chegar num lugar mas eu me perco. Olhei pro endereço umas cinco vezes e já esquecia o que tinha acabado de ler. Pelo menos não peguei o ônibus errado. Andei pro lado errado, fui parar numa rua que não tinha nada a ver. Casas lindas, lugar deserto. Cheguei, assisti à reunião num outro colégio com uma proposta pedagógica alternativa que se quer "crítica dos conteúdos" - segundo Demerval Savianni. Subornei meu irmão e ele foi ao banco por mim. Esqueci de tomar insulina. Senti o dia perdido quando tudo parou no engarrafamento.
Escrevi no e-mail: não sou poeta, sou amante. Ainda sim enviei. Sinto uma saudade tão estranha... tão estranha.
Devo procurar um psiquiatra novamente?
Na sala de espera, que tem uns quadros abstratos na parede amarela - o prédio é lindo mas a atendente não gosta de mim, será que sou psicótica? Eu ia me lembrar do vaso de petúnias, não sei se vocês conhecem essa história, o vaso de petúnias materializa-se no espaço e começa sua trajetória de queda livre; a única coisa que lhe passou pela cabeça foi: oh no... not again!. Muitas pessoas já refletiram sobre isso.

láforismo
eu tinha dois olhos
que te viam
dois olhos, eles tinham visões de
sumissos
mas viam acima de tudo três ou cinco pessoas
que passavam por mim mas eu quase não sentia

eu tinha dois olhos muito comuns
que podiam fechar
dois olhos, eles sempre souberam que nos veríamos
inúmeras vezes
em várias paredes
vários centros
e cidades, e nos vimos

eu tinha dois grandes olhos brancos com marrom
que as vezes não te viam
porque você não vinha
e dois olhos de onde saia muita água
eu tinha três filhos imaginários contigo
eu tinha olhos pra tirar roupas
os anos todos se passaram com os olhos que eu tinha
o tempo todo d'eu fingir que cria
que você queria

eu tinha dois olhos encantados
que morreram caindo lá de cima
fazendo um barulho tão horrível
que nenhum ouvido quis ouvir

--
das petúnias: Curiosamente, a única coisa que se passou pela mente do vaso de petúnias ao cair foi: Ah não, de novo não! Muitas pessoas meditaram sobre esse fato e concluíram que, se soubéssemos exatamente por que o vaso de petúnias pensou isso, saberíamos muito mais a respeito da natureza do Universo do que sabemos atualmente. (DOUGLAS adams in: Hitchhiker's Guide to the Galaxy ).

vídeo e verso da postagem anterior:
Nick Drake, Pink Moon

4 comentários:

Isabella Kantek disse...

" ... o vaso de petúnias materializa-se no espaço e começa sua trajetória de queda livre; a única coisa que lhe passou pela cabeça foi: oh no... not again!. Muitas pessoas já refletiram sobre isso."

Sublime, surreal, flor rara!

Des[Construíram] disse...

Sim. Chegou. Apenas queria criar um clima de suspense. É o e-mail que mais utilizo. Reconheço algumas passagens dessa póstagem, moça. Como o poema [ sim, tu bem sabe que sabe escrever um belo poema ]. A barra tá um 40 graus de neve típico do Rio de janeiro. Hoje não foi um dia produtivo. Quiçá amanhã seja um pouco melhor. Teu dia, como foi?


PS: Preciso te confessar: não sei apagar.

PPS: Li o Guia do Mochileiro. É maravilhoso. Essa parte da trajetória da queda do vaso de petúnias e a baleia é fantástica!
Qual era o numero-resposta? "42?"
[ não lembro ]

PPPS [ se é que existe um pós-pós-pós ]: Te adoro, moça!


Fica na paz!

Ana Luiza Paes Araújo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ana Luiza Paes Araújo disse...

é por essas e outras que terei que comprar uma barraquinha de cachorro quente.
HAHAHAAHHAHAHAHAHAHAHAH
Serei uma empresária bem sucedida no ramo dos hot dogs e lerei compulsivamente os seus best sellers.
é a vida!

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