quinta-feira, 14 de junho de 2007

Chegou com o amanhecer

episódios

#1
Quando amanhece, pras seis da manhã, eu acordo e me bate uma insônia terrível... de repente então durmo e só consigo acordar novamente (definitivamente) ao meio dia. Agora tenho conseguido acordar às 10h mas, mesmo assim, as pessoas reclamam que nunca conseguem falar comigo ao telefone esta hora.
Sei que fiquei pensando em cachos e comecei a me sentir muito mal, não por causa os cachos, mas alguma virose. Isso é um blog? Então qual o pudor de descascar e descascar, por imaginações à fio, eu? Porque parece crime. Fui pra cama dormir na parte da tarde e pensei nas hostilidades de quando ponho os pés no chão e o caos gira. Quando foi que comecei a ser tão vítima? Quando foi que começaram essas pedras imaginárias? Bem direto na testa. Pronto, o episódio acabou. Porque é muito chato.

#2
Sentada entre os dois, na cama. Alguém iria descer pra pegar o pão, ele começou a ler o jornal na cama e ela abraçou o outro porque fazia frio, também chovia do lado de fora, como sempre. Pra lá é sempre estação das chuvas, é só cruzar a porta e sair, sol mesmo é a des-hostilidade da parte de dentro das portas. Seus amigos, seus amantes. Uma preguiça absurda sempre tomava conta nos momentos mais próprios. Alguém ia comprar o pão, ela ia ver se a água fervia. No almoço comeriam fora. Não havia pressa pra escolher: seus amigos, seus amantes, nunca seus irmãos. Escolheria os pães, talvez frutas, e compraria a peso.

#3
Insônia. Seis da manhã era a hora da insônia. Sentou na beira da cama e o sol refletiu nos cachos tons avermelhados de uma tintura antiga. Depois bateu um vento e não parecia que fosse chover hoje. Depois espirrou porque não conseguia dormir de meia, não conseguia dormir vestida e esse era o pior do inverno. Espirrou. O sol agradável, o silêncio dos pequenos barulhos numa sensação de estar só - ruim. Pensou em fazer e não tinha ninguém com quem fazer amor nem nada, mas pensou: Rua Serra do Cipó... que era pra amar por carta, que era pra ficar pensando na subjetividade inútil das coisas que acontecem com todo mundo. Olhou desvairada pro telefone que tocou de-re-pente. Não atendeu. Nunca atendia - motivava protestos por isso. Foi para o banho e riu travessa num som que até o vizinho do quarto andar ouviu (por intuição) o que o levou a escrever um poema que achou tão estúpido que depois rasgou, só porque não era poeta, ou não achava isso de si, era até bobagem. Só achava que devia deitar em papel todos os sorrisos que lhe transbordavam às seis da manhã.

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Don't you have a word to show what may be done
Have you never heard a way to find the sun
Tell me all that you may know
Show me what you have to show
Won't you come and say
If you know the way to blue?

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imagem: Getty Images
verso: Nick Drake

Um comentário:

Isabella Kantek disse...

Infelizmente as pessoas fazem muito mal uso da sua liberdade de expressão.

Gostei da divisão em episódios, vou reler com calma para falar com mais autoridade. Posso rir dessa minha fala?

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