sábado, 5 de fevereiro de 2011

A natureza da mulher: quem por ela escolha

Eu subi num prédio estranho. Você estava do meu lado. Qual a semelhança entre um e outro quando vejo os dois mal refletidos contra a superfície polida da porta fechando e anunciando - é uma gravação - que estamos subindo. Eu sou um rosto vítreo, eu mal posso piscar, eu sou como que por uma obrigação; eu sou alguém que você tem.
Deslumbrada caminhando entre as estantes de livros e papéis, pastas, os seus olhos sempre me acompanhando. Numa sala de café, você me disse que deveríamos trepar, trancou uma porta estreita de correr, mas eu não quis porque essa palavra, "trepar", e assim realmente dita pra além de imaginada, me entristeceu. Certas coisas que você me disse (e diz) eram todas sem forma, eu só as pensava, queria de modo impensado. Você criou todas as palavras que hoje eu digo.
Há violência, todo esse tempo houve. Meu amor é de tração. Entre os papéis amontoados, e as pastas, você me ordenou ordens diversas e assim jamais fui demitida. O clichê passava por nós e nos abraçamos como se existisse vida que fosse inédita - e tudo já foi passado, escrito, lançado. Por muitas tardes, levando minhas avós que iam conversando na praça em suas cadeiras de rodas, retesei meus músculos para que ficasse, para que eu não fosse. Sua. Tenho uma vida comum, eu sou uma mulher na praça ao fim da tarde que é normal, que é comum, com sol e o barulho da rua que vai diminuindo a cada caminhada pra dentro de onde tem mais árvoresw, agora, agora, eu tenho peitos fracos que são muito comuns. Suas palavras diziam me ameaçar para que eu ficasse tranquila e eu então eu ficava tranquila, assim eu não fazia nada, me sinto tão pura e tão quieta, que a culpa não é minha, eu me martirizo, você me obriga, ameaça, blackmail.
No seu prédio, entramos duas portas à esquerda saindo do elevador. Eu subi num prédio estranho. Você estava do meu lado.

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