quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

entrepausa:


(escrito sob a morte de Thiago)


Assoviando a meio palmo da janela, a gente nunca sabe o que vai encontrar quando, depois de fazer o vapor, passar o dedo. Não sabe ou se sabe que os carros passam sempre diferentes, modelos, na rua? E eu gosto disso, cê gosta? Quando eu passo o dedo no embaçado; quando sussurro é isso, é vidro e vidro tem umas coisas...

de quebra.


Doutro lado (que vontade de escrever “do outro lodo”) outro parco, outro importe e aportes novos, diferentes dos que nunca aconteceram, mas que vão se desmanchar como tudo – não quero ver. (hot kiss on cold window), melhor vem ser o ar de garganta.

Assoviando a meio palmo da janela, eu sei muita música boa e inventada (boa), ouço três mil diferentes trinados, tudo delirado, nada acontecido. Eu fui ter amigos bem mais muito tarde, eu sentava embaixo da árvore e nunca houvia ninguém lá. E nem mesmo aqui esperando a hora dar (je ne regrette rien) recordo do que é que ficava pensando quando tava tão sozinho como os últimos desejos dum pão dormido. Esqueço dessas memórias como cresci quando nem tinha nascido. Reminisço apenas ter estado.



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img. par Luana Silense

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Clube do Coma apresenta: #2 nunca houve um beijo na boca

Terezinha, você que saiu no carnaval de 1968 vestida de Chiquita Bacana, você, Terezinha, que por causa disso seu pai deu uma surra e de manhã você fugiu na carroceria dum caminhão com cheiro de boi, de vaca, Terezinha. a roupa de Chiquita Bacana que a tua mãe lhe fez Terezinha e agora seu pai diz que a mão dói pesada, Terezinha, ele te espera na recepção, ele tá morrendo, Terezinha.
(Sangue de Coca-Cola)



a verdade é que Tereza não fala de si. falar de si é expansão e Tereza, essa Tereza... ela exclui-se das rodas todas entre os seres outros.
macabra, Tereza, acha que vai falar de mim e ri de mim. ri! ri-se. finge que não entende dos meus medos, finge que ignora se me exaspero...Tereza... não faça assim! uma preta tão querida assim não devia me querer tão mal pra tanta troça. penso em atirar primeiro, penso em denunciá-la, penso em matá-la e ela salta rojões enquanto passo minha mão lhe averiguando se usa calcinha; usa uma calcinha rosa. faço isso em agonia, pra dissuadir.

o clube do coma (coma's lonely hearts club) não tem orgulho, mas apresenta aos poucos que expectam essa coisa insignificante do ser, do ser ninguém. há mesmo é falta de divulgação, não falamos de nós. você mesmo pode estar aqui, nos deixe saber que você quer estar aqui porque fornecemos máscara à todos os que contam, todos que vem ver. assistiam aos beijos em silêncio, assistiam meus pedidos: silêncio. Tereza, Terezinha... você tem uma boca tão gostosa, malvada. vou contar aqui, desgraça, as coisas tuas antes que você desabe as minhas pressas pessoas com caras de papelão. Tereza é forte, é tão forte que quando peca, quando erra, ela não liga e não sei como meu Deus, ela não liga; ou ela finge bem, muito bem, que não liga.

Tereza sentada no saco de supermercado na beira da rua, querendo um pedaço de pão, uma rosquinha. sei que passou um carro, dois, na beira da rua vazia. Fica quieta que eu tenho aqui as pessoas e vou contar, vou detalhar que você tava fugida na estrada esperando carona pra onde quer que fosse e que isso só aconteceu mesmo foi na sua cabeça, você queria fugir e viver grandes aventuras, o que realmente nunca ocorreu. não essas aventuras que viram filme, Tereza, as suas são de outra natureza; eu me arriscaria a dizer que tão mais lindas, você devia falar delas, mas você esconde porque nunca ia se repartir com ninguém.
Casou-se cedo, num susto. Assim, ar todo pra dentro e (abismada), casou-se do nada em algum lugar de Resende. ela comia chuviscos (o doce, não a água), fazia chuviscos, vendia chuvicos. chuviscava (a água). Tereza achava que casar era o mais importante e que casar tinha de ser por amor; casou. pro espelho, declara que nunca mesmo amou. a coisa na verdade não começou assim.

Tereza vivia na casa com os pais e, numa certa festa de carnaval, foi vender refrigerantes. ela pequena com os irmãos pequenos vendendo coca na rua e as pessoas brincando carnaval. ela tinha especialmente medo dessas fantasias em que a pessoa coloca na cabeça uma tiara que é uma faca? num carnaval passado ela tinha visto e então não queria mais sair na rua, pânicada. enfim, tinha horror àquela tiara. passou um homem bêbado e perguntou dos preços, ela que ainda mal era nada mocinha respondeu e falou; disse. a mãe viu que o homem não comprava porque tava bêbado, mas sorriu. ele cochichou algo com a mãe e a olhou, Tereza não ouviu, nem entendeu, mas copiou a mãe daí também sorriu com muita educação. o homem sussurrou e ninguém ouviu. que? a mãe disse que podia. o homem tinha um cheiro mais forte que as próprias garrafas de vidro e uns cabelos grandes pro alto, chegou no nariz de Tereza e pousou a boca molhada dum fedor e baba. o nariz dela ficou molhado por aqueles longos demais minutos. depois ela sorriu, pouco mocinha, boa educação. Tereza olhou pra mãe que ria. Tereza olhou pro homem e cruzou na rua com ele outras 21 vezes pelos anos que vieram, em todas elas quis correr e quis matar, quis enfiar a cabeça no vaso sanitário; ficou com medo do homem pra sempre.

agora tava casada. não tinha mais o homem do segundo carnaval, nem o irmão que na cozinha se esfregava nela, nem o pai que antes de sair enfiava o dedo debaixo das saias e depois chupava, nem o amigo da mãe que lhe dava maiôs, nem o vizinho retardado que lhe cuspia na cara e depois roubava a bicicleta; a chamava "muito feia". agora tava casada.

Tereza chegou no Rio de Janeiro em épocas imemoriais, acho que Tereza conheceu Tia Ciata (de vista), Tereza comprava coisas na Saara quando tinham árabes na Saara, ao invés de chineses e coreanos - quem hoje ela observa com satisfação e compra sombrinhas prateadas por dentro. Dizem que Tereza trabalhou no Mangue, que fez ponto na praça Tiradentes, que frequentou o Real Gabinete Português de Leitura, que sambou na Praça Mauá e que teve medo da Barra. isso tudo é coisa de demonstrar que eu não me importo com o tempo, Tereza nasceu com nome com "z"e é de cor misturada. Tereza mudou-se pra Santo Cristo depois que largou do marido. Tereza morou em Santa Teresa e afirmo o quanto sempre se fez honesta trabalhando não sei em quê. Ela me representa o desejo, ela é maldita pelo desejo que dá nas pessoas. Tereza foi estuprada tantas vezes que nem pode contar, ela mal sabe ler (o que também finge). mora numa vila de 6 casas tristes que ficam felizes às noites de quinta e sexta, quando as pessoas poem as cadeiras na calçada e comemoram os engarrafamentos que fazem os ônibus desviarem ali pra dentro da rua. espera ansiosa o carnaval, gosta de se doar. gosta de amar como quem grita se jogando na grama pra não ouvir a notícia clara de que é tragédia.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

O Clube do Coma apresenta: premier de Suzana Flag

é um clube onde as palavras vão falar dentro de um porão escuro e vai haver as coisas ditas baixas. coisas que já são mesmo baixas. o clube vai apresentar. a febre...




o começo da cena é fácil de ser descrito porque é o cenário, e o cenário não tem nada dentro que não seja a si mesmo, branco e lento, feio e só, triste e próximo. branco atrás dos olhos, branco lá dentro do pensamento que ela costuma cruzar; lá fora eu pus teu palco escuro e arranjei um fósforo. acendi, apagou por causa do vento. acendi, apagou. acendi, traguei, acendi metade da ponta que apagou. acendi e gastei uns sete fósforos até encontrar o isqueiro nos bolsos da frente da bolsa bege. sentei no branco dos olhos, lá fora pus teu palco escuro: o que você vê é justo isso que é o palco e o teto baixo do teatro 30 lugares, nenhum vento, eu só imaginei, mas não abafado. é inexplicável, entre outras sensações, que os ouvidos fiquem com zumbido e o lóbulo quente. não, quente é a luz, a luz porque não sou platéia. explico: me vejo e a vejo. eu vou contar o que ela diz, eu vou assistir ela dizendo. os outros por perto (lugares cheios? lugares vazios?). ela vê branco porque a história não começou e o vazio disperso é como uma saída de ar tipo ar-condicionado central.
aqui fora, espreito, a cortina verde pesa em cima da madeira-tablado e a pessoa do meu lado tem o ombro direito suando, me roça e incomodo porque não gosto do suor dos outros. não devia ter vindo de camiseta.
agora o palco, ela acende o cigarro protuberante com o isqueiro. agora eu sei, é branco na luz dum milhão de watts brancos bem em cima do cílio: spot. eu não ouço nada mesmo a boca mexendo. o dente aparecendo e as palavras aparecendo e tudo silêncio como seu eu tivesse mergulhado no tanque lá de casa. o suor do ombro direito onde eu tava enfiada não me conseguia pensar ouvir, nada ouvia pensar, nada. ela fala e eu conto. (...tenho vontade de lamber a marca de vacina do braço esquerdo molhado).
o homem vem carregando a câmera entre as cadeiras improviso, uma dum jeito que de outro e tamanhos diversos. já disse que o teto é baixo e que tem um ventilador de igreja que ventila, não, não disse, não são importantes. eu levantei quando tinha de levantar, un-. eu de pé corri porque ia mostrar aqui nas linhas o que do palco havia sendo. cheguei e ninguém que assistia ficou atônito.
a platéia, aliás, quem é? eu nunca vi essas pessoas, nem as que não ocupam cadeiras viradas lugar vazio; não conheço esses vácuos de brisa dos que não vieram. eles vêem a câmera sendo levada calma. a rodinha do andor (andor) tropeçando nos buracos, o rapaz ou mão que leva ia pelo canto e - agora atrás da cortina muito pesada - coloca a câmera do lado dela, brutalmente perto como se fosse pra furar a cara. não sei como a luz chega através do pano.
o clube do coma reúne ou não essas coisas e essas pessoas e as coisas das pessoas e as pessoas nas coisas. acho importante que eu diga que não conheço todos os desconhecidos apesar de ser fundadora e colaboradora desse clube do coma. estamos abertos aos aficcionados pela miséria, anestesia do anestesiado, dor. penúria - foi isso discutido numa reunião de pauta. agora eu sei que é frio porque os ventiladores estão realmente desligados e o teto não é baixo, mas era o meu chapéu que comprei pensando em parecer a Sabina do Kundera. Amplitude dos 170 lugares (84 desocupados) e a luz forte em cima da mulher que, doravante, se fazia pessoa.
mas levantei num susto (percepção) e corri no ar extremo d'agonia como se fosse a hora de cortar o cordão do recém parido mas ninguém quisesse fazer o serviço.
a câmera perto, a cortina abriu, a luz duma lanterna porque o que acendeu foi atrás o cinema. a projeção. eu parei que vi a [inha] brincar de argola no filme passado atrás da mulher. tragou o cigarro forte num soluço do cadafalso.

Teresa me olhou quando eu cheguei no palco e a achei envelhecida. Linda, envelhecida. o que fiz ali? ninguém sabia. uma das fundadoras do clube do coma invadia o palco mais parda que a casa sétima. eu conheci, reconheci Teresa e ela ia contar, eu ia dizer e escrever, não podia! eu queria as coxas de Teresa com anos de idade. queria ela nova e feia, ou gorda, velha como rabanada na Páscoa. eu fiquei confusa embotada e ela ficou de olho pra mim. eu corri e me atirei pra Teresa, pro seu sangrado do carnaval. beijei a boca da Teresa sentada na cadeira nessa luz de lanterna, levantei ela, levantei a saia dela e ela fez justamente isso.... me abraçou e me disse no tímpano que eu era um peixe.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Coma sem título. Letra vista.

sem título
(não é perda se não fizer, mas , se clica duas vezes, a imagem fica maior)


terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Coma. 1º 2008: passanário

Dance, dance, dance, dance, dance, to the radio
Dance, dance, dance, dance, dance, to the radio
Dance, dance, dance, dance, dance, to the radio
Dance, dance, dance, dance, dance, to the radio
(ian curtis)

antes:
dormir na areia da praia e frio.acorda areia da praia que o dedo do pé inflamou, o vestido é curto você é feia na no preto (tinta?)embaixo do olho... e mais...

pausa lembrança:
te amo.
que assim seja!
querido, você realmente sabe congelar o coração de uma garota...

ainda antes. telefone e Fabrício misteriosamente atende:
pra onde você acha que vão os barcos de Iemanjá?
mas porque você me faz essas perguntas? ... acho que eles desmancham e afundam; o que fica inteiro, aparece em outras praias diferentes.
você vê pra mim até onde vai o barco?
vejo.

justo agora:

foto do nascer do sol pela janela em Vila Isabel, mas esqueci as pilhas da câmera em casa...

antes (pouco) d´agora. passanário:
daí o erro te-me enfeita o tempo feito acerto

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