terça-feira, 22 de junho de 2010

Limão Expresso no Twitter

Salvou-se a nossa alma, como um pássaro do laço dos passarinheiros; quebrou-se o laço, e nós nos vimos livres. (Salmo 124)


Limão Expresso é um fruto do limoeiro pra entregas rápidas. Tambor aforista, traz a pessoa amada em três dias.

Indo na sua vocação, que é velha, em falar pequeno, em falar difícil, em desentender e, PRINCIPALMENTE, em musicar fictiones fictionadas, o Limão Expresso está passarinhando no Twitter.

Administrado por mim e pelo Luis Eduardo - nós dois admiradores daquela fantástica personagem que é a Bicha Android, nós dois que nos amamos e bebemos às 4ª num boteco arrendado pela Irmandade de Ns. do Rosário e Igreja de São Benedito dos Pretos - a conta vem recortando os textos que já conhecemos e outros que não, não sei cadê, e é isso. Está lá.

Proposta: recortar, subescrever, pretender. Ter na timeline uma pausa que, estranha, refresca.



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Setembro de 2008:
(esses povos fronteiriços pensam que devo apenas transitar por eles e há você, meu amor, você que comigo formou um dadosnós; você que agora vai comigo quando páro de ser minha pra dar pra todo mundo, pra todas as gentes no meio do gás, do petróleo, da religião, dos Porcas de Murça e da merda. derretidinha, maníaca, exótica. e a minha mãe)

domingo, 13 de junho de 2010

Sendo a anti-Mulher Perdigueira

12/06/2010
Oi Pri
Realmente, não foi nem um pouco fácil falar com ele. Ele ficou P. da vida comigo, disse que eu achava que ele era um vagabundo e um sanguessuga! Eu fiquei me sentindo muito mal, porque apesar de tudo ele sempre foi um amor comigo. Mas no final das contas, ele prometeu pensar na vida dele e tomar uma decisão. Agora é esperar para ver.
Valeu pela ajuda, vc é muito fofinha e carinhosa!
Bjos

13/06/10
Minha querida, estou pensando aqui agora depois duma briga que tive em pleno dia dos namorados. Não, não foi uma briga, foi eu ter acordado carinhosa e disposta, com planos de um dia dedicado e delicado. Fui frustrada do começo ao fim. Outro dia chorei loucamente porque ele saiu sem me dar um beijinho nem dizer tchau à porta. Penso, há quantas semanas estou correndo atrás e sendo rejeitada sistematicamente.

Então fui e falei. Veja, eu não sou tão incrível quanto gosto de fazer vocês pensarem, não sou. Meu negócio é ser qualquer uma, sabe, uma mulher que lava à louça? Eu queria que ele tivesse catado uma flor na vizinha e colocado no meu cabelo recem escovado e pranchado.
Ele tem estado cansado. Eu disse como me sentia e ele ficou p. da vida comigo, disse que eu estava pensando que era fácil aguentar o cansaço e tanto trabalho como ele estava aguentando. Eu fiquei me sentindo muito mal porque, apesar de tudo, ele sempre foi um amor comigo.

Homens - e quando digo homens digo o homem médio, o homem da vida real consagrado pelo ocidente cristão-judaico-candomblecista - tem esse poder, esse enorme talento e poder de desvirtuar a verdade. E é algo que fala fundo e alinhado com o nosso catolicismo de ver delícias e mais delícias na culpa. Aceitamos a culpa, despercebemos o que pra gente estava claro como a luz do sol: quem está ferida aqui é ela e pelo motivo tal e tal, não vamos ficar concorrendo em quem tá com o joelho mais ralado.

Não sei o que dizer sobre o seu caso, nem sobre o meu. Penso que eles aprendem a fazer isso na escola. O Rafael diz que é por isso que os homens preferem as Mulheres Perdigueiras do Carpinejar.
Concluí que a mulher só pode amar se tiver um revólver.


Espero que as coisas realmente melhorem por aí, que seu rapaz realmente repense e se regenere. E que você permaneça firme da verdade que está posta: é um sanguessuga. Eu que te agradeço o carinho e a fofura que sempre tem tido comigo.

Beijo beijo
Pri


Mulher Perdigueira é o último lindo livro de Fabrício Carinejar

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Show me from behind the wall

Só quero ficar perto dos meus amigos e de quem gosta realmente de mim. Ou pelo menos de quem eu acredito que gosta. é claro que muitas vezes a gente erra feio. Só quero estar em lugares onde sou bem recebido. A vida é curta, meu irmão. Eu sei, porque estive quase do outro lado. E já que não fui, quero passar os anos que ganhei de "bônus" de um jeito que eu me admire por minhas atitudes.
(Bortolotto, em 06/06/10,
Atire no Dramaturgo)

Alguns me desconhecem e não suporto ser desconhecida. Não falo dos de fora, dos que nunca vi eu falo das pessoas da minha convivência, possivelmente do meu afeto e que belo dia chegam e me desconhecem e apontam só o que eu não sou. Vejam o caso da Luana; minha amiga de sempre, minha parte de alma andando por aí com os cabelos compridos e o sotaque do sul. Extremamente viva e forte, gastávamos um tempo na frente do espelho experimentando roupas, comentando nada, colocando óculos, pensando em como se chamaria nossa banda, pensando na melhor posição pra colocar o OB. Nossa banda se chamaria "Chinelo Chinês" porque a gente gostava de usar os chinelinhos da Saara. Minha irmã, não sei se entendem, quem não conviveu conosco não vai entender porque é raro quando duas pessoas cujo útero nem tem nada a ver serem tão fraternalmente próximas. Eu penso nela sempre, que me desconheceu um dia e disse que eu pisava em cima dos mais humildes, que me vangloriava por ser Zona Sul.
Penso nela com freqüência - não sei se já disse - porque ela sumiu depois disso e é como se nunca tivéssemos existido, nós duas e todas as coisas que passamos. Ela conheceu o que eu sou, de onde vim, passou o que eu passei. Agora eu fico nesse velório de caixão vazio sem entender porra nenhuma.

Quem não me entende não me interessa. Ela e os outros, não me interessam. Só quem sabe o que já me houve é que entende a minha felicidade de estar ali com a mão cheia de cloro lavando a privada da minha casa. Uma alegria, um carinho que eu tenho limpando os azulejos em movimentos circulares e sentindo como a esponja escorrega nas partes já sem lodo. Só quero os do meu afeto, que me vejam e onde eu me vejo. Quem me estranha serve pra que eu afirme intolerantemente quem eu não sou e só assim alguém se forja.

Só os do meu afeto.

domingo, 6 de junho de 2010

Rafael me escreve, diz que prefere a fala e duvida dos dedos


Rafael me escreve
06 de junho
de 2010
tem aqueles com dedos mais enrolados que a língua.
nunca sei se convenço porque falo bonito ou porque nunca miro nos olhos.

com os dedos não sei dizer muita coisa; e mal convenço quando passo eles na bunda que gosto.

minha literatura tá na língua, mesmo quando guardada na boca.




E eu lhe respondo
28 de abril de 2008

então... as minhas palavras precisam dumas suas pra soarem um pouco mais que sempre disseram

(com tanto, já desentendem) e precisam reverberar no que você me permite, no que me exige. e se não no corpo, aonde? sinto no corpo, sinto e espero a dor, então preciso das palavras denotadas. você as diz.
queria completar essas frases que são bem simples (imaginei bem simples) foi assim que me esqueci do...
umas tantas vezes fiz só silêncio e você perguntou: pensando em que? perco a expressão em minutos-litros quando te amo e não relembro. uns diálogos massivos com teu olho, e outro olho que ficam olhando em cima de mim. já me vi lá: lugar verde, os cabelos espalhando, uns modos de perdição brutal

sua metalíngua na minha boca.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Esquecidos, imaginários: que presenciara tantos encontros


O reverso da história é nada, creia-me

Diálogos imaginários de histórias imaginadas são a profusão nas idas ao mercadinho, nos cinco minutos antes de dormir. A inventividade, a intimidade com os lugares e as pessoas nos lugares com roupa sem roupa e o que elas trocam, mais do que dizem, como se esfregam extremamente perto do que gostariam de mostrar, o que gostariam de ser. Esbarrar o cotovelo em alguém na saída lotada do metrô, realmente às seis, não deixemos falhar. Não deixemos que de manhã, com luz, eu já não me lembre das histórias nem dos cenários, ou do que disseram e principalmente o que ficou forjado como silêncio, necessário ao segredo da retórica lembrada minutos depois, aquilo de deveria ter sido dito, eu não gostaria que sumisse. O teletrompter dos sem atitude oral, a agressividade de ser, no desejo, a junção sincrônica do ser e estar ali bem ali no movimento perfeito número 3 do seu corpo, do seu corpo.

Bem, se conheciam. O tempo bastante pode variar e neles era curto, com memórias seletivas dos momentos mais duros e importantes, aquilo os ligava. Ele sentado na escada à porta, ela que chega pela manhã com o dia nascendo do trabalho, ela que chega de manhã com sandálias de plástico que lhe deixam os pés levemente tortos, ela que já tem as pernas quase arqueadas. Cheia de varizes. Ele, percebam, de perto, belo e com seu rosto farpado, desses que doem posto que deliciosamente doem na junção dum rosto com um peito, dois mamilos. Ela chega - vemos apenas suas pernas, as ligeiras varizes, a barra de um vestido velho, embora muito social, e que ela pára e o vê sentado. Ela estanca. Não posso me lembrar do que dizem, visto que formulei à noite e agora apenas sinto que sinto que havia um erro lá naquela estada, na escada, dele homem, belo, conhecido, amarelo, consubstanciado ao Pai que ela não merecia e anos depois rejeitara; que lhe fizera um filho e ele não mudou nada, parecia o mesmo encostado na cerca esperando as ordens e os cavalos, na terra. Frondosa Ana Vera que ele fez se abrir e suar demais nas coxas enfiando e enfiando escorregadiamente até que ela pensou que era ali, estava ali consigo mesma no seu auto-endosso, been there done that, até que engravidasse ali mesmo após repetidos encontros com um homem que mal articulava palavras, como todos ali que ela presenciava: a miséria é muda, ao seu redor as pessoas, as coisas e os cavalos não tem nome, a miséria é confusa e ruidosa e a todos nós afoga vez por outra.
Ele parecia o mesmo. Quantas vezes Ana Vera, mulher já refletida, se pensava no espelho e calculava a quantidade de creme aplicável à devolução do passado, para que prosseguisse como era a pele que presenciara aqueles e tantos encontros. Seus. No entanto ele era ali o mesmo e era como nem poderia se lembrar, o mais braços, o mais novela, o mais sabia chupar um pedacinho junto da orelha derramando saliva no inescapável. Ela, tivera o filho. Ana Vera tivera o filho e em toda cidade ela tivera uma filha a qual recebera o nome de dezenas de tias e primas e outras filhas mortas antes de saberem até andar ou que foram atropeladas por algum trem ou tiveram meningite, câncer. Dias depois ainda olhava bem diante dos seus olhos a poeira canalizada pela luz do sol, incapaz do sangue ou do amor, da placenta, de si, das moscas voando porque aquele lugar era sujo, sempre sujo e tinham as moscas.
Fugiu, fez as malas, fugiu e foi como um chá abortivo. A vida oportuna, o esconderijo de um nascimento como se jamais houvera sido, muito menos seu, o encanto com as casas, com a cidade, com os novos sons e as vastas oportunidades de acotovelar-se realmente às seis num comboio cheio e isso não é troca é esbarro e os dois e os demais permanecem desconhecidos e sós numa sensação delirante de corpos não reconhecidos que é assim... agradável. A filha se lembrara que na cidade chovia mais em janeiro como antes, passou-lhe rapidamente a imagem da primeira boneca na cerca onde se abraçara ontem veementemente num sanar da dor. De chinelos e vestido chorou inaudível.

Todos esses anos que se passaram, teve, e era de se esperar, de sustentar por pouco o susto e o pavor. Da volta dos ossos ou da boca. Não me recordo.
Era claro, ele rescindia a mordida e suor. O cheiro impregnou e virou limo nas paredes do corredor que levava à casa simples feita de concreto, tudo cinza e húmido, e agradável, com vasos de planta junto da porta e do carpete. Parada como só quem se vê com as peles caindo lentamente, impossível na contenção dos dias dos homens e das cervejas, os peitos e a bunda e o envelhecimento no encontro com o que não, não que isso não existe mais. Parou com susto, dirão que horror safado. Levantemo-nos honrosamente no momento da volta.
- Ana, tô no Rio pra te achar; ele anunciou.

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imagem: Janteloa, flickr.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

A Esbofetada

Sigo com Nelson (vou dizer mais tarde que essa é uma semana Nelson Rodrigues e que ela tem sido meu ânimo nesses dias em que ando tão caminhando prum lado de mim onde me descolo exatamente de mim). A Vida chave de Como Ela É: uma das chave de compreensão da obra rodrigueana e delícia perfeita é "A Esbofeteada". Assistam.
No final, depois de respirar, pegar a bicicleta, comprar um sonho na padaria e outros etceteras depurativos, reflitam: quando a Globo produziria algo assim novamente? Reflitam. Elegância e arejamento, never again?


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