quarta-feira, 30 de maio de 2007

Necessidades

E assim concluiu que não havia nada de ilícito em seu modo político, polido, patético e apático de viver.
Conversava consigo próprio e com livros que, no falar baixo, exalavam quase sempre uma coisa que condicionara chamar de sabedoria.
Não teve filhos, - costumava jurar a certeza - mantinha dois empregados que administravam as questões domésticas, lhe engraxavam os sapatos e coziam as roupas necessitadas. Seus gastos eram poucos além deste; arroz, feijão, um quilo de legume, poucos gramas de alguma carne - que só não podia ser peixe de pele, por alergia.
Os únicos luxos eram os ternos do antigo emprego público, que gostava de ter sempre como se houvessem acabado de sair da alfaiataria e sabonetes que, dizia não serem assim caros, mas que custavam o quádruplo do preço popularmente pago. Mantinha esses detalhes em segredo por uma vergonha humilde. Assim, como não dava satisfações a ninguém, se permitia nunca pensar a respeito dos motivos e se entregar a espumas abundantemente brancas.

4 comentários:

Carola disse...

Sua carta... está qase pronta. Juro, estou escrevendo, muitas coisas pra comentar. odeio quando eu vejo que nossas percepções são parecidas, embora agimos de maneira diferente - e quão chocante é isso.
sua carta é maravilhosa e eu preciso de um tempo enorme de dedicação pra ela. um tempo que nenhum idiota venha falar comigo e que eu possa falar com meu jeito peculiar - alias, qual é a graça se não for a tia Carola falando?
creio que até o fim da semana eu acabei. posto assim que terminar, um envelope só. mais fácil, de receber e de ler.
pareço surpresa porque sempre falamos nele. parece coisa de outro mundo... tudo gira em torno dele. eu não consigo entender e você não consegue explicar.
promete pra mim que quando eu for te visitar (sabe a Deusa q dia isso), você me apresenta?

Isabella Kantek disse...

Muito bom: "E assim concluiu que não havia nada de ilícito em seu modo político, polido, patético e apático de viver.
Conversava consigo próprio e com livros que, no falar baixo, exalavam quase sempre uma coisa que condicionara chamar de sabedoria." Já li três vezes esse mesmo trecho. Gosto da sonoridade.
Beijos =)

Anônimo disse...

sim... eu lembro!

Prill disse...

sim, ela lembra...

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...