sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Resumo fantástico do escrito anterior

Dos quatro aos treze vemos o nascer exuberante dumas coisas que crescem em qualquer lugar.

fotografia que a isabella kantek tirou

Mais de um ano com o limão e tenho pensado constantemente nos escritos e nas mudanças de rumos. não, essa não é uma postagem que se despede, é só reflexão, exercício de reflexão que passa pelo estreito canal discurso em primeira pessoa.

talvez porque eu não seja primeira pessoa, nunca consegui me perceber bem assim: não tenho povos fronteiriços. e no início do espaço pensei nisso, em criar umas cercas separativas entre o que parecia comigo e todo o resto. deve ter sido isso, não lembro direito.
na época, a idéia era escrever qualquer coisa, eu não fazia idéia de que algum dia ia acompanhar ansiosa o lançamento daquele filme sobre a Clarah Averbuck, e morrer de inveja da lagartixa da Rita Apoena, a Judith. eu não conhecia essas pessoas, nem o inseto; a compenetração era toda a universidade e as coisas vistas por lá, coisas da pesquisa. sabem, eu trabalho com pesquisa há algum tempo, ou tento, eu gosto muito de fazer isso, mesmo sem saber se faço direito -fatal que não.

só vi na vida uma pessoa que fale mais mal do que faça do que eu, foi a Diana Krall no programa do Jô. ela dizia que cantava mal, que tocava mediocremente e que não fazia ideia do que estava fazendo ali. foi um bocado constrangedor, como não elogiá-la? ela é incrível. ela se acha miseravelmente artista, disse que era mesmo muito dura consigo. constrangedor, não sei explicar. mas ela disse que estava melhorando.

enfim, o que ia dizer não era isso.

o limão começou falando de coisas completamente dispersas. num carnaval que passei em Sta. Teresa ano retrasado, um casal muito querido não parava de transar (amorosamente) no quarto ao lado e me vi compelida a escrever , não sei que me houve. peguei uma agenda que a Luiza havia me dado de presente e comecei a despejar frases e frases sem a menor ligação entre si.
1.
Cinco situações diferentes o levaram até ali; mas nenhuma poderia se caracterizar numa boa história que valha a pena se contada.
Basta ao leitor saber que ele estava ali, em frente a praia, parado, sozinho, em pé, nu.

3.
As canetas nunca tinham tampinhas. Nem as novas. Cito esse dado por me parecer intrigante, ainda que sob a aparência de inultilidade.
assim.
eu escrevia em fonte Trebuchet e o layout tinha só duas colunas.
depois não conseguia mais parar, tornou-se um hábito escrever pequenos textos como se fossem partículas de uma história maior. talvez fossem. era algo que me agradava, me dava uma sensação alucinada de que, não só não haviam povos fronteiriços, como eu era uma ilha que vai afundando.
nessa época eu já conhecia o Bruno. passamos a conversar muito e desenvolvi por ele uma paixão doentia de base poetica, o máximo que ele permitia. a partir dessas conversas foi que a ilha finalmente se dissolveu e os pólipos ficaram visíveis, bem visíveis sob a água. coloridos à beça

serei

a

sereia

serei-a

foi o texto roubado que mudou os rumos do que eu vinha fazendo. desde então, infiltrei nos paralelepípedos diversos mundos imaginados e semânticos que vertiginosamente foram publicados, e publicados e publicados. veio a Kantek e foi laço. quem tinha aparecido antes fora o Benjamin, o Obvious, todo sedutor, cheio de propostas muito decorosas e algum tempo depois eu etava lá escrevendo apavorada para uma quantidade de pessoas apavorante.

mas a Kantek foi laço. a minha escrita foi amarrada por ela. desenvolvida, instigada, treinada, exigida enquanto mexíamos cada uma numa panela e pensávamos em formas geométricas, doces esporádicos que pausam com dois pontos: como se encantamento fosse certeza.

nessa época eu já ouvia a Winehouse, bebida desvairadamente e caía igual a Björk em Triumph of a Heart. nas descontruções que me vinham do Bruno, pensava em outros lugares feito contar histórias antes de dormir. o moço era muito de outros mundos, outros lugares. veio "a terra dos balões voados" onde tinha o moço e o laço; foi de lá que achei que via as formas escritas que eu queria pra sempre igual na fotografia (que é) do Bavcar.

a terra dos balões voados


tua bicicleta e a pista secreta dos pássaros
não sei se você sabe, mas existe a terra dos balões voados. acho que você recorda bem daquele dia em que você deixou o balão escapar - sem querer, coisas de quando se tem menos de 9 anos. ele escapou, eu vi...estávamos juntos e fiquei em silêncio vendo você acompanhar a subida do balão (não lembro a cor). ele subiu muito, foi muito alto mesmo e tinham umas ávores e ele foi mais alto que a mais alta e, de repente, desapareceu. esses dias eu fiquei pensando nisso...pensando muito forte nisso. daí acabei descobrindo que você tem razão, ele desapareceu. não estourou, nem ultrapassou a estratosfera... ele foi para a terra dos balões voados, a terra onde estão todos os balões que nós ganhamos nas quermesses, festas de aniversário, feiras e pracinhas. estão todos lá, como a gente lembrava que eles eram. fácil de chegar lá não é...não mesmo. há de se seguir alguns pássaros e outros balões que constantemente vêm sido perdidos por meninos e meninas com menos de 9 anos. o que sei com certeza é que ele fica bem próximo da Terra das Sombrinhas desaparecidas.
foi o período, o junho, em que mais escrevi. obcessivamente, passionalmente, alcolicamente. olhando esse ponto, considero que o que de melhor já fiz está lá e não sei se volto de novo. em diálogos cortados com o Bruno e constantes com a Isabella, a Estella, mais o bebê que a gente ainda nao sabia que ia nascer.

em agosto, certamente por conta dos abusos etílicos, entrei o agosto muito doente, neuropatia, disseram. passei os dias antes do aniversário dentro do hospital, neropatia dos meus versos e o Bruno desaparecido dentro da propria cavidade umbílico-esquizofrênica. não sentia parte da minha mãe esquerda e me perguntava: a mão ou a garrafa?
foi numa noite desses dias que conheci o Raphaël e ele disse que, se eu escolhesse a garrafa, ia ter de beber de canudinho. ri. eu não fazia idéia que ia me apaixonar por ele, de forma alguma, essas coisas a gente não sabe. ou sabe completamente, mas o que está na nossa cara é impossível de ver, como se sabe.

em outubro o volume de escritos já tinha despencado de 23 pra 9 textos. o primeiro do mês se referia ao livro que ele tinha me dado. fiquei feito idiota lendo o cartão meio disléxico que tinha vindo junto. eu sabia, eu já devia ter sabido pela quantidade de vezes que lia aquele cartão meio disléxico que aquilo ia ser abismo puro.
por conta dos atrasos frequentes, que derrubaram metade da minha vida na pesquisa, o de Góes me recomendou um psicanalista e passei a ir vê-lo. não escrevi mais 23 textos por mês.

o envolvimento com a pesquisa e com o término da faculdade, com a monografia minaram bastante a esfera aleggro-imaginativa que se via no limo, mesmo nos momentos melancólicos. acredito que foi o momento de consolidação das linhas. algumas chaves como a letargia da miséria, a questão do conceber uma criança sem sentido mais a assumissão das personagens femininas ficaram bastante recorrente. tudo isso sob a disciplina da Kantek, ela vai discordar, mais foi. faltava amarrar o que havia e, nesse momento as vírgulas pararam de recorrer à vodka para ser sentir sóbrio.
Eu queria poder dizer o nome dela que passou as fichas duma mão pra outra, deu bom dia imaginário pra moça da fila, olhou o retrato e se convenceu que nem tão distante se podia enxergar a grandeza da sua precipitação hílare (ainda que com suas suspeitas de trágica). Desocupavam o telefone e se afastavam, ela se tropeçou, agarrou o fone vermelho, telerj, telerj e girou o disco com 8 5 2 – 2 4 8 – 9 5 3 1
por influência do Raphaël, via Kundera, também houveram aqueles pequenos e bestas ensaios que me ajudaram a ver outros rumos. gostei. veio a revista piauí e o Bruno já tinha ido fazia tempo, cuidar das construções navais. o Desmemorium da Kantek foi embora uns meses depois por conta da gestação da Virgília, foi justo e feliz.

hoje temos isso, eu escrevo, os povos fronteiriços vieram, foram embora e nem deixaram um bilhete, nem mesmo um vago. o Dostoievsky me alimentou. o Raphaël estava parado mostrando umas fotos da família e - ínterim - pedi um beijo que ele deu igual se dá dança. acho o que eu escrevo muito ruim e tenho bebido muito, muito menos. não me lembro bem do tempo em que tinham os homens, as marcas de noites e dias mal, essas coisas paralâmicas. não lembro, parecem outra vida. era.
tenho escrito muito pouco porque ainda não consegui terminar a monografia, é a minha Virgília, tenho de gestá-la, não tem jeito. agora ouço muito Feist e converso com a preta Juliana mais raramente, é um pouco pena. fiquei sem o álcool, é isso, acho que ela compreende [não aceita] (e) que podemos sempre fazer roubos efêmeros. outro dia andamos de metrô e dormimos num hotel na Lapa.

7 comentários:

Anônimo disse...

Prill, esse foi um dos seus melhores escritos.
Será que você sabe quem sou? rs
Hoje não poderia deixar de vir aqui e deixar registrado.
beijo

Anônimo disse...

very cool.

Anônimo disse...

Porque eu estou vivendo em um universo paralelo - entre as mesmas panelas riscadas - longe da escrita formal.
Porque barrigante e com os sentidos apurados, percebo que o limao tomou rumos. Seguiu a pipa e o balao de helio e viu neste um ano de possibilidades, as liberdades que no comeco nao continha. No-nao arriscava. No sol, se foi, arava.
Saudades,
Kantek

Isabella Kantek disse...

Quando eu faco essas visitas pro limao penso "o desmemorium foi assim um dia". E isso da um orgulho! Entao contemplo as suas, os titulos, as fotos e ideias. Fico estupefata.

Mago Ykhro disse...

P_rill,
A_nseios
R_enovados:
A_migo
B_om
É
N_obre
S_orte.

Anônimo disse...

Prill:
Foi bom te encontrar de novo. Bom saber também da Iasabella. Adoro as duas.
Prill, vc tem uma escrita diferente. Como se estivesse escrevendo para si mesma...
às vezes pego o fio da meada, às vezes. Não sei se já te falaram isto.
Beijos.

Anônimo disse...

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