quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Desejos incontidos, fingidos de tropeço (ou, Bela Lugosi's dead)

Algumas certezas são mesmo peça de incredulidade. Veja Reinéria, ela se levanta a cada dia numa hora diferente que é sempre a hora errada. Mantém discursos de escritório mas contraditórios, nunca condizente com os espíritos que, volta e meia, correm pra sua cara fazendo com que ela ganhe feições de quem é Reinéria: ela faz política. Também não gostaria de ceder o lugar na janela do ônibus, apesar disso, seu doce é gentil e deixa sentarem. Acredita que nada mais importante no mundo que ser gentil, mas queria saber como é o vento e os quadros que vemos nos coletivos e esquecemos.
Não sei se devo escrever muito mais dessas coisas dela porque são só detalhes, apesar de que Reinéria pensa muito neles. Ela acha fortemente que quando ela é feliz é que fica mais difícil viver. Olha, é que Reinéria não sabe como fazer com as mãos, em que bolso pôr, quando acontece aquele algo de bom e daquele que é bom durando por hoje e amanhã e amanhã, dias à frente, durando. Ela fica toda sem jeito segurando as rosas e tão nervosa que finge que tropeçou e as flores vão lá e caem e daí passa um caminhão da Comlurb por cima delas, meu Deus. Reinéria mete os pés no bolso.

Vai andando e, porque não sabe andar, Reinéria vai trotando pra pegar as flores ou rosas que ela derrubou por desejos incontidos fingidos de tropeço. Proposital era também porque deitava com o rapaz louro do RH sob argumentos de que ele lhe daria lições administrativas auto-gestoras; e ela usaria tudo na sua empresa de roupas, com paredes de vidro, móveis conceituais, chá com bolachas e recital toda quinta-feira. Reinéria que é tão amiga e tão próxima da amiga que semana passada teve terçol e ela foi em sua casa fazer compressa morna, mulher do rapaz loiro que trabalha horas explorativas no RH da Contax.
Reinéria agora toma banho esperando a novela e vai limpar os vidros da janela mas, e se, sem querer, pular? Disseram que ela ia ter um amor mas foi que chegou atrasada e ele foi embora. Desde então prefere limpar os vidros suicidas da janela, ser sozinha. Desse modo, preocupada em como vai resolver as coisas tristes de amanhã (desenvoltura nas tragédias de um minuto) só consegue fechar um olho que. Enviuvado, floricida.

Um comentário:

Anônimo disse...

"...quando acontece aquele algo de bom e daquele que é bom durando por hoje e amanhã e amanhã, dias à frente, durando".
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Aconteceu... Mas... Postado por Prill às 10:54
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Se ela pula, que caia sobre os ombros de um halterofilista que seja meio que lerdo... meio que mago!

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