terça-feira, 12 de agosto de 2008

3 minutos: des-sentido

Questionado sobre o que se devia dizer a respeito, pronunciou o parágrafo:
Linhas de escrita só se mostram verdadeiras quando molhadas em delírios demandados feito pão de três dias em café com leite. O bom delírio é o que pesa e causa preguiça de carregar mas, ainda sim, vão lá as vírgulas, os acentos circunflexos, mergulhar nele e deixar ir enchendo de cinco horas da tarde quando a gente junta o ânimo e o sol começa a melhorar.
Mas se o passar do pensado pro dito-escrito tem de ser entrado em coisas que flanam, que voam e que se não têm sentido, como então o texto vai ser texto? Pergunto:

Daí de cima, então? Como o texto vai ser texto?

O parágrafo desconversa, os repórteres resolvem que é boa hora de começar a fotografar todo mundo, o parágrafo toma água, o parágrafo ajeita os óculos e os papéis, penso que entramos na TV Senado:
Não há mesmo texto se for só delírio, mas ele tem de ser afresco. Não existe afresco no gesso seco, só no molhado, por isso uso isso de mergulhar. As linhas do escrito precisam vir dum caos tão grave que, quando imaginado, dão uma preguiça constante e o moço, que escreve, pensa que não quer ir lá não, apertar as teclas ou procurar o grafite 0.5. O dito que se põe pra escrito, precisa vir do surto. Quanto à forma estética, que transforma escritos delíricos descompassados em texto, essa vem durante e vem depois mas, como é que vem durante, isso eu não sei.
A assembléia levantou-se atônita. Ele não sabia. Não esperávamos. Cruzei as pernas e ninguém ignorou que esqueci de pôr as calcinhas - ficaram penduradas juntas no varal por detrás da toalha. O delírio tinha de ter forma?
Minha senhora, o delírio, o des-sentido tem de ter forma. Forma de baleia que é peixe, pero mamífero.

Um comentário:

Mago Ykhro disse...

Tem razão, o sopro dessas palavras!
E por acaso não é a seiva do encantamento que nutre o verde da poesia? Ou seria a pena do escritor, o teclado ou mesmo o software? Ou seriam, ainda, a enciclopédia, o discurso, a rima técnica, o suor sobre o papel?
Não, nada assim tão tátil...! Não mesmo!
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Esperem sob a sombra da palmeira, pois o oásis começa aqui.
E na região onde é possível à semente cítrica ser regada, ainda ouvirão falar dela.

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