sexta-feira, 3 de agosto de 2007

...uns escritos largados

quadro geral
um tanto doente. desânimo. mas filme, pipoca e coca-cola com a mamãe. noite anterior foi bar, pessoas, frio [nenhuma grana] conversa, partenogênese, alguém encheu nosso copo, Ju! darwin, uma da manhã, carona gentil, esqueci a chave, sms, interfone... novamente... com a mamãe..

muito, toda, lânguidamente, envergonhada, pretensiosa; Nelson.
(para José Roberto e Isabella. ele por não achar nada, ela por gostar)

Rio, 1957
Ótimo! Me vejo já apegada aos teus paletós... Maria Elisa deu cinco passos até a estante, abriu a primeira gaveta e pôs-se a procurar como louca o maço de cigarros. Onde estão os meus cigarros?
Sim, ele já começara... escondera-lhe os cigarros; começaria nas coisas mínimas. Sem cigarro, sem pedicura e com o cesto de roupas sujas à frente.
Não cuidarei de você! Olha que nem encosto em você! Não sou tua mãe! Quero os cigarros!! gritou pela criada. veio atarantada da cozinha ajudar na busca pelo maço - recém comprados - perdidos. Ataulfo permanecia como um soldado de chumbo, na mesmíssima posição, em frente ao telefone. A boca sempre aberta, respirando num desvio de septo.
Ataulfo! Meus cigarros! Assim não quero!
Desistira por fim dos surtos histéricos, a espuma já virava o queixo. a própria empregada trouxe os cigarros do namorado, um funcionário do Jockey Clube que já esperava desde o início da tarde lá no portão dos fundos numa discrição e dedicação prodigiosos.
Ataulfo... não vou cuidar das tuas roupas! Maria Elisa tragou vigorosamente a fumaça e a atirou sobre a sala. Não cuidaria das roupas, em definitivo. Ataulfo muito quieto ainda, um São José complacente.
Fale algo!! Não vou ficar aqui gritando! Não sou tua mãe, Ataulfo! Procure a tinturaria, homem! Pra quê? Não vou pôr um dedo numa gravata tua, num colarinho! Não lavo nem passo nada, chame a criada!
Ataulfo suspirou longamente (pela boca). Novamente estendeu a cueca a Maria Elisa, a Elisinha. Foi como se a houvesse mostrado um cadáver. O rosto tornou-se tão branco que nem o melhor pó de arroz, da melhor japonesa, podia comparar-se.
Ataulfo... não lavo...não sou tua mãe, Ataulfo! Sou... tua mulher!
A peça branca estava ainda à frente de Maria Elisa. Estancada, alçada, exigente. Restou à moça chorar. E chorou por segundos à fio. O maço de cigarros desaparecido, Ataulfo na falta da mãe a delegava para lavagens de roupas, até de cuecas. de cuecas! Maria Elisa não safava-se. Como as moças mais prendadas, mais caprichosas, mais pobres e mais fêmeas desta cidade. Debruçava-se sobre o tanque esfregando as roupas do marido. Para a criadagem era o escândalo, o assunto das seis da tarde, sufocador até das Ave-Marias Candelárias.
Ataulfo...Sabão de coco ou aquela pedrinha de alfazema nesta?

2 comentários:

Isabella Kantek disse...

Que coincidência significativa!

Vou te passar um e-mail. Beijos

Ricardo Rayol disse...

Capaz, um escrito intenso e interessante. Gostei muito.

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