quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Fatos casuais (meio)

Alice was so much frightness...
4. Eu tinha ficado sozinha em casa e triste por não estar na igreja (mentira, tinha preguiça). Depois todos os dias foram tão iguais que eu habituei mas, antes do hábito, uma reflexão: sobrevivência, teimosia, senso de obrigação... principalmente senso de obrigação. É o que me leva a, todos os dias, sem pular, tomar minhas duas ou três doses injetáveis de insulina. Digo que não dói e, se você não acertar sem querer um vaso que passava por alí, de fato não dói. Você não pensa muito, simplesmente coloca as unidades da ampola pra seringa, escolhe um lugar agradável pra se furar e aproxima a agulha - por favor, compre uma na farmácia, não use as subvencionadas pelo governo; são grossas e um pouco de querência ao conforto não é de todo mal. Como dizia, aproxima a agulha e pensa... aí entra o senso de obrigação; a questão é toda muito racional: você contraria o instinto de auto-preservação que grita NÃO ME FURE! e simplesmente se fura. Acredite, três meses depois, a sua barriga (lateral) vai estar tão roxa e dormente que não faria a menor diferença.

i do wish some of them had stayed a little longer...
(ou o quinto fragmento é pequeno e expansível - pode ser ignorado, passar batido)
5. No Obvious há a seguinte legenda: "muito haverá a dizer sobre esta amante". Não me espantaria acordar belo dia desses e descobrir um câmbio brusco. "O que der errado aqui, a culpa é dela". Expansível... tenho a impressão de que não sou Woody Allen, muito menos Lars von Trier. Não há genialidade nessas lascivas confusões. Só o que tem é um impossível se acostumar, impossível conformar sempre com o próxima vez (e ela nunca vem, eu sempre vou escolher o caminho onde ando mais ou onde vou gastar mais dinheiro ou onde vai sobrar menos tempo), terríveis de acompanhar esses movimentos da improbabilidade, os esquecimentos, as desatenções, os atarantos. Tinha considerado isso burrice há meio minuto atrás mas, como pretendo arrancar algum sentimento de piedade, completo observando que é só uma disfunção neurológica no córtex-pré frontal. Mas, assim como detesto que as músicas que eu ouvia faz tempo se tornem um sucesso vulgar, finjo não é nada... assim, fica mais indie, cool mesmo, etílico. E é tormento.

why Mary Ann! what are you doing out here?
6. Não sabia quanto tempo ele tinha ficado ali. Horas talvez; é o tipo de coisa que a gente não percebe tanto quanto o tempo passar. Ficava brincando com um sorriso fresco cor de ameixa que ajudava na dispersão do estar perdido - ainda que perdido fosse ação que não se podia fugir. Ele estava ali se esforçando, tentando. Ela queria os agrados em formato de descontrole, queria que eles desabassem logo e pensou em de-repentes, pensou num vento que sopra sempre nos ouvidos e que levam, arrastam. Ela era magra, sempre fora muito magra e com uma barriga de criança faminta. Magra e levável. Pensar no outro era alegre dentro d'uma idéia infeliz e pensava naquela vez absurdamente colchonete em que ele perguntou num modo bastante simples. Está com frio? Não sabia do tempo não... ele gastaria toda a vida, mas nem tinha paciência para tanto. O organismo, as veias expandidas, seus homens desconhecidos, normalmente não têm paciência; sempre agradecidos - ainda que preferissem sexo anal. Se gostou? Se veriam então? Onde te deixo? São tantos hematomas de não foi com você isso, foi tilintando refletida e (nem ao menos) o do táxi. Como as virtudes são gostosas quando gastas...!
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imagem: alice no país das maravilhas - manuscrito
títulos: são trechos

2 comentários:

Anônimo disse...

preguiça de ir na igreja é rs ??
sei sei

Isabella Kantek disse...

Wow!

Por que eu geralmente termino de ler os seus textos com o coração acelerado e apertado?

Beijo.

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