sábado, 22 de setembro de 2007

Diálogo dram[ático]

Sim, é mera conversa. Mas por que é mera conversa? Porque, meu amigo, beleza, pureza, respeitabilidade, religião, moralidade, arte, patriotismo, bravura e descanso não são nada além de palavras que eu ou qualquer um podem colocar ou tirar como uma luva.
São realidades? Você pode até se sentir culpado por meu julgamento mas, afortunadamente, para seu auto-respeito, meu diabólico amigo, não são realidades. Como você disse, são meras palavras. Inúteis para convencerem um bárbaro a adotar a civilização, ou o pobre civilizado a se submeter ao roubo ou à escravidão.
(Bernard Shaw, Don Juan - Ato III)


e você, não fala?

infância! infântica! enfática sempre e agora
muda

abelardo, assusto até os mortos se falo...


se falasse. falha, sempre fala. arredava o pé daqui se fosse
surdo,
mas não sou e, impulsivo, fico pra querer te ouvir


abelardo! chega! estranho você, sempre estranhei, não quero
beijo nem
que fique pra me ouvir. me ouvir pra que? um
franco!

sim, sou um franco

um fraco!


também


abelardo... (era esse o meu apelo); que você ficasse e que me
ouvisse
francamente mas é incapaz de ser franco... se fosse mas
é à você, abelardo,
que ainda apelo ouvidos


francine... (seu nome sempre ficou doce quando eu pensei, até que
não pudesse mais, até transbordar nos nossos diálogos loucos e esféricos)

não comece a frase com nomes próprios


você começou antes

abelardo!!
é como se eu pudesse morrer agora

e pode


é como se eu poudesse morrer mais agora

e qual a diferença?, todo mundo pode, e eu não sou budista, nem você

vou morrer agora! de asma estomacal

infância!!

corrompida!!


infância, francine...

infância corrompida, abelardo, morro de infância corrompida
e
de lirismo estocado da laringe até o estômago! corrompida!!, abraçada
por trás, beijada no pescoço, abelardo e
mordida

quando?

sempre

você revive?


revivo

infância de francine...

eu queria um escape. me oferece escape?


só a minha farta janela, mas é segundo andar,
talvez você só
quebre a perna. se for dinheiro, também não tenho

você é frio


não, só não ouço porque é melhor, eu me esqueço, francine...

egoístas nunca ouvem e, se ouvem, esquecem


mas e a franqueza?


essa eu deixo em casa

aqui é a sua casa ou você se mudou?

nunca é nem foi aqui. era como se fosse, mas agora já não

você agora é o confuso abelardo da caixa de atum?

não, agora eu sou o confuso abelardo dos diálogos que você
preferir

mentira!

verdade!, você é quem vive só de mentira, mente, memento...


me deixa ir


então vai


então vai foi uma frase tão largada, foi o estilingue que me caiu pra longe. e agora você repetindo;quando pára?

não sei. se viver for só repetição, eu não saberia


alitero, já...


nao devia...


vai me recriminar mais quantas vezes?


(mudo)


acabo, sempre acabei


não é desculpa. quem mente agora?

você ainda! e em terceira pessoa.

exponho e expus, quer mais o que? me abcesso! você nunca quis
nem que eu
ficasse... você finge

é crime querer que você vá logo embora?


é... as vezes demora pr'eu me convencer,
é assim que a gente
descobre que ama, quando fica descrente.

não somos dois


sei. quero só uns segundos pra me decidir pela sua expulsão


um, dois...


decidi


prazer.

igualmente

(sumisso)

2 comentários:

Várias Coisas disse...

Pri Cutiaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Morrendo de saudades de vc....
Os textos estão ótimos...
Fui no trote mais nao te vi...
Saudade grande do tamanho do Piauí!!!rsrsrsrs
bjs...
te lovu eternamente!!

Ricardo Rayol disse...

isso é um dialogo vertiginoso e alucinado... você ralmente tem um dom pra isso.

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