domingo, 11 de março de 2007

II

RESUMO: o desencontrado começo

E as mesmas flores estavam lá, intensamente, excessivamente vermelhas. Os cabelos estavam num corte diferente e não poderia tê-la reconhecido de imediato. Casada. Como aquilo tinha acontecido? Proclamas, noivado, vestido...num tempo tão curto. Responderia tempos mais tarde: paixão fulminante e irresponsável, uma gravidez inventada só para dar sabor de escândalo familiar à cerimônia.

Tomou o chá de uma vez só. Ainda sentada no banco de mármore, ela levantou o braço esquerdo e consultou o relógio discretamente. Revirou em seguida a bolsa, não encontrou o que não procurava, enfim, tornou-se estática mais uma vez.
Pensou em ir lá, em falar com ela, cumprimentar, esbarrar ou pedir informação sobre a exposição. Pensou cinco vezes sobre cada possibilidade e, antes que entrasse na sexta, lá estava ela com os olhos grandes e pintados de mais bem voltados pra sua testa.
Naquele mesmo lugar ele a tinha visto chorar e esfregar a cara compulsivamente dizendo que estava tudo bem, que se ele queria terminar que, assim fosse em frente, terminassem, que tudo bem, que chato, que coisa ruim, tudo bem...
E olhava para sua testa.
Cinco meses depois ele ainda se martirizava pelo que fizera, ela se limitava a enrolar ainda mais as longas pernas no lençol de forma obcena, e nada era mais contundente que o seu silêncio aterrador.
A cerimônia de casamento fora simples, os amigos de sempre presentes e ela agindo como se tivesse nascido exclusivamente para ser sua possessão e inteira desgraça confusa.

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