segunda-feira, 7 de abril de 2008

Variações de leves ritmos

eu não era ninguém e era mil seres
C. Drummond

prende, força...

querendo como se fosse só a consistência, e, depois de tanta coincidência, de tanto ainda ficar, pronde mais ir? porque, se não no corpo, pra onde? (o amor aparece como os ratos dum navio afundando) à bom-bordo

atenta de escutar a tua voz, de escutar com atenção porque (verbo no pretérito imperfeito) impossível falar, foi assim que ficou: um suspiro e um advinhado desmaio em cada uma das palavras, das vírgulas da sua língua.
não é por fim que digo aqui o que não quero. é queda, mas sem fundo: atravessar umas milhas imaginativas porque, num pensamento forte, o que encontro à volta é só pele e quanto isso dói. você acredita que dói? como sente em você?
puxar o ar pelo nariz, soltar o ar pela boca, assim dizer de vez (recomendação sua, olha o preço do interurbano). demorou cerca de cinquenta e três horas a palavra sair e saiu torta porque, se não no corpo, pra onde? tropeçou sem nem beber. saiu letra por letra até virar frase que no total tinha muito pouco, mais escondido en-trepausas, fio de som mesmo. isso era necessidade confessada, necessidade protestada pelos meus dedos, meus cabelos, meu pescoço, minha boca, meus seios: com que castidade abria as coxas... minha vulva. e derretia toda a cautela - se bem que o dito não saía - então virou suspiro de beijo e só. me vejo no fundo duma garrafa tantas vezes... uma imensa garrafa vazia onde estou esperando um navio passar; pulando, dobrando os braços. o navio não passou.

me vejo tantas vezes no fundo de uma garrafa transparente, agora ela enche de algo que não sei o que é, que é fresco, fresco e quente, e sal, e Alice... toda cheia de mim, tão liquefeita de qualquer pedido teu, qualquer desejo teu, de diversas devoções pelas quais, hoje, vou acender velas na Lampadosa. e ansiosa porque... você me bebia, me retorcia e ali, exatamente ali.




disse baixo dos meus sentidos e os livros do quarto rodaram duas vezes quando senti vergonha. te desejo pros indefesos afetos do possuir. te desejo pelos meses em que nunca chegaram cartas. te deixo me colocar do seu lado sonâmbulo e disfarçado por saber que você mente bem, me escondo entre os vãos da poltrona pra que você não veja que eu danço e que gozo e que seu nome sai repetido quase rido, derretido; entraram em mim seus dedos. o amor.

2 comentários:

rafael disse...

sim eu sei.
mas perdõe, pelo menos dessa vez.
é que falta vocábulo que expresse tudo como este na sua simplicidade:

está lindo!

me perdõe mil vezes por essa única vez, não mais única porque repito:

lindo

Ricardo Rayol disse...

sei como é isso de sair letra por letra na tentativa, vã para mim, de se formar algo que se preste

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