segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Verkitschen: te digo se delírios

via só os números escritos na coxa, já até esquecia que não apagava, seus números. as outras, oito pares de olhos observatórios, viam e se encheram de raiva: números escritos? e quem se importa? despertou inveja de toda uma cidade que mal sabia ler, quanto mais enveredar. chegava bem na praça, atrapalhava o jogo de dama dos cavalheiros velhinhos, levantava a saia e saía no orgulho da exibição de números estruturados. pitágoras! a mãe fez nada, o pai dizia que era caso pra pé de mesa. pé de mesa? era só a hóstia subir pra saia ir junto. cidade despovoada, primo casava com primo, é sempre choque. até me dói a agonia - tentar lembrar o passado d'ela verkitschen, não lembro. garantiram que era o calor que fazia e ela realmente não se fazia de rogada nem no açougue, se abanava, se ventava amplamente e era estampa pra tudo quanto era lado, e era surda de nunca ouvir adeus.
mas é que era esperado só pra quem ouve a história, que uma coisa só é que ia suceder. e nem era um rapaz dos mais bonitos, nem rico (pobre de homilia), nem acendia vela, pulava janela bem à beça. contava que vinha encomendar copo. ela correu o que pode e a laringe quase estrangulou o coração de pânico. dia hora, escreveu na coxa, minutos pra ele aparecer no balcão d'ela atender. ele: moça... a cena, por que repetida, foi exatamente a mesma. segurou nas bainhas pelas pregas e deu bom dia pros estrangulamentos. depois não aconteceu nada, nada com o resto da vila, silêncio até nos que sempre diziam que um dia (!um dia) iam ver o mar. sacou a caneta: -1, em baixo, zero - e - ontem e você hoje se é fim dos pressentimentos tristes. poucos sabiam ler que dirá dar telha pra quem escrevia coisa na mão, no pescoço, nem o término do escândalo das calcinhas expostas em paralelepípedos públicos preocupava; vida é pra cada um achar que está. e ficaram tanto tempo lá, ele parado escolhendo copo e ela com a cabeça enfiada entre os pés, se calculando nas coisas do dizer, que ficou tarde e eu vim embora. agora conto a história, sem saber o fim que vai ter de aflitos.

4 comentários:

Ana Paula disse...

Cara, que lindo isso: 'e ficaram tanto tempo lá, ele parado escolhendo copo e ela com a cabeça enfiada entre os pés, se calculando nas coisas do dizer, que ficou tarde e eu vim embora.'

Sou fã da maneira como vc escreve. Beijos.

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ricardo Rayol disse...

Conte-nos sobre o escandalo das calcinhas expostas... achei um tema interessante.

Isabella Kantek disse...

Não estou conseguindo ler Contenção ...

Beijo carinhoso. (sonhei com você e com a Flávia)

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