domingo, 28 de outubro de 2007

Resumos imaginários da coincidência noturna anterior

mas, na verdade, será atroz o peso e belo a leveza?
o mais pesado fardo nos esmaga, nos faz dobrar sob ele, nos esmaga contra o chão. na poesia amorosa de todos os séculos, porém, a mulher deseja receber o peso do corpo masculino. o fardo mais pesado é, portanto, ao mesmo tempo a imagem da mais intrensa realização vital. quanto mais pesado o fardo, mais próxima da terra está nossa vida, e mais ela é real e verdadeira.
(Kundera)

parece difícil transformar em texto, e realmente é. intimidades elementares só pedem silêncio pra paralisias convulsas. desse jeito, não se sabe direito como me tornei diversa, como foi que quis te procurar com as mãos e vocalizar sentidos que nunca expressei. são todas imagens que, tão aproximadas, são muito turvas: te procurar com as mãos, os dedos e as unhas num movimento tão irreconhecível que dei passos pra trás. ineficiente. se eu escrevesse a palavra, escreveria num espelho pra ter coragem de olhar pra ele, em dizeres, dizer que foi um salto do desejo; suprimir o que até hoje me pareceu proibitivo. saltando pelas sacadas, prestando
uma atenção suicida, aturdi mil beijos pelo pescoço e desenhei quadris perfeitos para encaixe; não menti, quis estar infugível contra paredes. a impressão que se tinha dali era que o querer era vindo e era seu. era eu que te acordava, que achava hora pra parar os seus sonhos, que te procurava com as mãos, que te engoli nos seus sonos, que fiz cercos de língua e realidade como se fosse cafeína.
e o que mais havia de ser? eu bocejava e sentia os seus dedos em mim. eu reclamava mais cinco minutos e só o que tinha era o preenchimento de todos os vazios universais pelos teus dedos, pelos meus dedos, pela minha vontade de me esconder, pelo meu excesso de pudores. parece extremo mas, digo, é urgente que se saiba que você circunscreveu meus seios e que você me ladeou e que houve essa posse e que fui pelos cabelos puxados. violentamente estive devota.
simplesmente quis devassar, singelamente forçada, frondosamente aberta. eu quis joelhos, quis ponta dos pés, quis beber. transformar em texto parece fácil quando se você soubesse nas exigências que... podia mesmo ser todas as sonolências, se eu dormir, se você me morde, se eu te chupo; são percepções acetinadas do não comparecimento. parece corrente: li teu cartão pela vigésima vez. li teu livro. foi pela insistência da sua demora que me toquei.

3 comentários:

Ricardo Rayol disse...

é sempre um exercício extenuante transformar experiências em letras. mas o faz de um jeito único e voraz.

Isabella Kantek disse...

Lindo. E só agora deu para sentir o eco das suas palavras.

... li teu cartão pela vigésima vez. li teu livro. foi pela insistência da sua demora que me toquei.

Anônimo disse...

Olá. Cheguei aqui pelo blog da Isa. Esse texto está lindo! Vou voltar mais vezes.
Beijos.

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