quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Aspectos cansados do sentido

a demência, o slpeen..., as inquietações estranhas que o leitor preferiria não ex-
perimentar..., a culpabilidade de um escritor que rola sobre o declive do nada e
despreza a si mesmo aos gritos de alegria...
(Lautréamont)


para bruno e rafael

Passando pela calçada, disseram p'ra tomar cuidado. É sangue! Era sangue dos tiros. Mas passamos pela calçada em cima do sangue mesmo porque não era um sangue nosso, o que achei muito natural; ia ter de haver muita água dentro dos corpos pra se chorar tanta gente desconhecida. De qualquer forma, passamos na calçada e nem havia mancha nenhuma lá; mas houve, eu achava; sangue dum atropelamento. Os dias passam e a calçada desbota mesmo. É coisa do tempo, desbota e apaga que ali tinha tido muita tragédia, tragédia de cruzamentos e que iam sumindo um mais ou um menos.
Pensei que partíamos, mas só andávamos na calçada quase sentidos da pouca certeza que assim entre nós se estabelecia então. Maria não poderia se chamar outro nome se não não seria Maria, seria uma outra pessoa que não faço idéia de quem seja, Maria, se se chamasse Sandra, talvez fosse até parecida mas, por exemplo, se fosse Laura, ia ser outra sem o menor sentido. Maria se chamava Maria porque Maria é o nome de toda heroína de doçura resignada, retardada; já muito diferente de Teresa. Teresa descia o morro de Santa à pé porque achava desaforo pagar 60 centavos de bonde. Teresa tem umas coxas tão duras que eu queria morar numa casa feita nas coxas de Teresa. Teresa sabe ser doce, mas geralmente nunca é porque são passagens da rudeza da vida, igual a calçada, a doçura em fade in. Teresa nas histórias é sempre toda combatida (ou combalida?) e declara neste ato que gosta mesmo é de ser comida de quatro.
Mas não é de Teresa que íamos dizendo, mas de Maria.
Maria apaixonou-se, como já era de se esperar, e íamos todos passando pela calçada. Ele disse: reter a existência me empobrece a alma... Como Maria não tivesse mais nem um centavo e a alma já não lhe nunca pertencesse mais, chamou hipérbole e sacou o próprio corpo, atirou-se em baixo do ônibus vindo, imagino que por pensar muito forte que fosse Anna Karenina. Era assim de fazer tudo nos seus impulsos fracos, mas extremados, porque sentiu-se culpada por não saber fazer mais nada além de querer segurar o tantinho que tinha, não só daquele amor histérico, mas daquela razão calma que lhe dava sentido e identificava para além da inveja que sentia de Teresa, ficava feliz com ele assim de ser Maria por ser bem querida e cantada de tiara branca: nunca antes havia sido notada. Ele disse: isso é coisa que demora, não é assim mas, sabia lá ele que o tempo de Maria, ou o meu, de Sandra, Dita - não o de Tereza que não precisava de ninguém - demorava exactos dois segundos pra fazer uma hora? Ele escorria (o tempo), vazava e correndo no meio fio não há água que fique potável! Ela não pôde e o que fez, implorar, entristecia por gargalhadas a alma do seu rapaz que não a mais quis. My love grows more and more passionate and selfish, while his is dying, and thats why we are drifting apart.
Eu lembrava Maria, devia lembrar porque minha mãe constantemente me chamava assim, mas nunca realmente a conheci. Tinha sangue na calçada, mas algo muito insinuado já tão ido, alguém tinha caído e batido com a cabeça.
Eu segurei a sua mão um pouco aflita e disse: me segura qu'eu tô escorregando. Assíndeta nessas coisas imperiosas d'eu ter te conhecido... Queria ser a mulher do padre.

6 comentários:

Ricardo Rayol disse...

Um texto extremado, de sangue e lágrimas, brotando das grotas.

Isabella Kantek disse...

CARACA! Afiadamente, bom. A Priscilla que eu quero ler sempre.

Carola disse...

Nha! Preciso retomar a leitura Ç_Ç
mas não tenho mais tempo.
a prova é domingo, torça por mim.

vim comentar de uma foto sua com máscara q está la embaixo, uma gracinha!

Carola disse...

PS - hahahaha some, aparece, pede favor e some dinovo.

Sandra Leite disse...

Prill,

Não sei pq(claro que sei :-) ), mas identifiquei-me demais com esse post!

"Era assim de fazer tudo nos seus impulsos fracos, mas extremados, porque sentiu-se culpada por não saber fazer mais nada além de querer segurar o tantinho que tinha........"
Falou de todos nós em um só personagem. Tinha que ser Maria!

Isabella Kantek disse...

ahhhhh, sede de posts ....

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