quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Só no ano que vem

uma perda pra dentro - toda vazia - que a irrazão enche costumeiramente dos enxertos; lembrar do que ia, viajar pr'onde foi e entupir-se de cabou.
nessas horas aflitivas em que não se deve contar nenhum segredo, costumam bater à porta de algumas das trezentas moças de caráter duvidoso os estrangulamentos do vazio. dias em que não chove, mas faz sol.
de qualquer forma, não é difícil de estranhar que ela ou eu estivéssemos sobre a mureta, olhando pra baixo e vendo as pessoas passando como formigas lá longe. essas reflexões nos acometem quando o silêncio cresce e precisa sair nas contrações. lembro que, nas cartas emocionadas, Dita me contava do alívio que sentia quando os coágulos se expeliam. Segurando a folha, eu pensei - naquele instante exato, um caminhão velho e azul subiu a rua (quebrado) e as letras eram cinzas agora - pensei na dor que se sente antes dos coágulos ansiosos escorrem pelas pernas, como o desnecessário saindo e finalmente somos poesia sintética. balada de alívio.
Só que Dita chorou por meses e ainda chora porque não sabia se eram coágulos ou pedaços de lembranças que se perdiam sem que ela houvesse autorizado os esquecimentos.
Em cima do meu muro eu já não vejo mais tanta gente passando lá em baixo como formigas (ou formigas?). o sinal fechou. nunca quis que fosse de verdade voar. A outra perguntou: quem mais? Mas eu não soube responder. depois do carnaval, todas as dispersões destoaram e não pude pagar a conta da inspiração; resultado: o silêncio que é teu.
nessas horas aflitivas em que não se deve contar nenhum segredo, costumam bater à porta de certas moças duvidosas as virtude do castigo. como seguir as linhas se as prateleiras ficaram vazias desde aquele domingo? domingo é o dia das tragédias, você disse próximo só de si. Colombina em suas sem-bem-querências ouviu do moço arlequinal: eu o ceifarei. foi como se tivesse uma faca. mas esperávamos eu e ela, vimos tantas cenas bem depois do que dava pra ver, cenas completas, vielas, expectativas outras ordens num mesmo útero. eu também esperava, minha amiga. e não foi só dele. queria poder um dia te contar sobre isso.
relendo as pautas azuis da carta de Dita, as moças - agora irrepreensíveis - decidiram conhecer a rua de perto pulando num vôo infinito pela janela do térreo.

4 comentários:

Isabella Kantek disse...

Para não copiar e colar o texto todo [!] vou deixar aqui o trecho que melhor representa o seu estilo [na minha modesta - nem tanto - opinião]. E é tão lindo que dói.

nessas horas aflitivas em que não se deve contar nenhum segredo, costumam bater à porta de algumas das trezentas moças de caráter duvidoso os estrangulamentos do vazio. dias em que não chove, mas faz sol

Isabella Kantek disse...

tenho uma proposta pra você. just drop me a line.

Anônimo disse...

Tão perto... tão longe... tão...

Ricardo Rayol disse...

esses coágulos são tranformistas metamórficos trazendo as lembranças ao presente e remetendo-nos ao passado distante..

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