quarta-feira, 21 de maio de 2008

Escrito muito delirante para o 1º ano de Obvious

para Benjamin e A.P.
porque já não me posso apartar


rodas dentadas
O número ao certo, quando se quer ter, escapa. Além do mais, não são coisas da lógica. Tenho acordado todos os dias e em cada um deles – poucos – vejo os mesmos gostos, os mesmos aportes, os mesmos olhos e mastigam e eu vejo bem em frente a minha janela, engravidam, montam um armário e ele cai bem de madrugada. Os vejo desde então, nunca os conheci, nunca, não os conheço e o mesmo comigo, os toco no que está ao alcance da minha crueldade, porque os descrevo. Recomeço a contar olhando minhas letras. Deviam ser delicadas, não são.

De longe não há o caos, os eventos giram iguais umas rodas dentadas, e se aproximam, e nos aproximam, e nos apertam. Assim, de muito perto é possível que eu não compreenda, nem ninguém mais. Na verdade, as pessoas que me são próximas me dizem que eu devia parar, dizem que levo isso como uma tortura, sinto que dia menos dia eles vão dizer que devo parar, que levo isso como tortura. As rodas dentadas são isso: laço. Escrevo e lá estão três ou quatro parágrafos do que antes eu fiz só angústia. Não são angústia, eu os fiz.. angústia, e dor, e parto. Tenho medo que me mandem embora, tenho medo que descubram que me dói, tenho medo que descubram que gosto da dor; a dor de trinta mil olhos me olhando subir em um tablado mal-vestida de estudante a dizer as tais linhas de puro embuste.


queria que escrever fosse ofício
Escrevo com a dificuldade que se tem pra lavar uma calça jeans à mão num tanque de fibra, que parece plástico. Faço porque passo pelos vãos da porta e sou constantemente estranha, isso quando vista, não sou vista quando passo pelos vãos da porta e fica uma luz posicionada bem na diagonal dos passos que não dou, não se percebem. (Teve um tempo em que eu achei que podia explicar, teve até quando eu achei que era escolha, que era ofício de escolha. Mas é que esse meu escrever é missionário, me convenceram disso, catolicismo romano, e acreditei que, em dezenas de passos que dou, meia dúzia foi por praxe divina. [e fica sem-fim o parêntese]

Eu queria que escrever fosse ofício, mas eu escrevo e não escolhi o horário.

O número certo, quando se quer, escapa. Acho que também nunca fui boa em contar, é disperso. Disperso. Mas imagino que debrucei na janela e imaginei tão forte que... e alta – se bem que queda não é medo, atrai. Me debruço em três ou quatro parágrafos que me saem, escolho os assuntos, estudo os assuntos, descubro que amo as imagens, percebo que me falta mais som, finalmente está claro que a poesia não necessita significar, poesia tem de ser; e é. Foi assim que aconteceu: o caos são rodas dentadas que giram e nos encontram, nos apertam. Dei um bom dia largo ao vizinho, não estreitou a resposta, vim aqui em casa escrever para o outro lado do oceano, meus afetos que me tratam por tu. Eles me poem sob trinta mil pares de olhos. Eles olham para mim e penso suportável. Escrevo pelas razões ridículas, roubo idéias dos outros, assisto filmes criminosamente, desejo lamber a gravura do Picasso, venho aqui relatar tudo. Venho aqui - faz um ano e semanas interrompidas, quase mudas – porque agora o sentido de não fazer some, é pelas incapacidades de deixar. Quis deles, para todos os inícios, que fossem meus amantes d'além-mar, então eles foram. Um já quis me matar, o outro pagar na saída.


epílogo
We accept you, one of us, one of us, daí vou me colocar feito admiração na janela. Quero um cado mais de tempo, quero que rondem mais palavras todas vestidas de jazz, que é preu não usar vírgula, que é pra descansar no parapeito feito namoradeira, suspirar, inacreditar... me deixar toda extensa, me entregar duramente prum olhar mais demorado.

6 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

O Limão continua, resiste, mesmo sendo o tempo das mexericas.

Anônimo disse...

"We accept you, one of us, one of us...".
...
Você tem o dom.
Queira Deus que sejas uma de nós, pois te admiramos pelo amor que tens à arte de escrever.
Quando eu me disfarço de Mago Ykhro, gosto de ter ler "me comentando".
Quando eu sou apenas um cidadão pernambucano sob o estereótipo de Lerdo em Surtar, passo a ser rápido em amar teu estilo de escrever.

Anônimo disse...

Ao retornar para conferir se expressei bem a crescente percepção do teu texto, notei que precisava absorver ainda mais a beleza do estilo.
Também, corrigindo uma frase para:
- "gosto de te ler me comentando".
.....
Pretensão minha, que tive um post meu (quando colaborava com o blog dos magos) comentado por ti.

Sandra Leite disse...

Prill

adoro seu rebolar na tua escrita que reflete tanto sua vida.
E continua à frente da bateria Unidos do Obvious :)
O mestre-sala deve ser o número :P


beijokas e parabéns por teu talento

Anônimo disse...

Hummm... não sei o que te diga...


obvious

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