
Eu espero que os analistas de redes sociais, que o pessoal do marketing, que os latu senso em sociologia que trabalham nessa área estejam atentos à beleza da coisa toda. Não digo tanto dos sociólogos, eu confio minimamente que os cientistas sociais leiam quem deve ser lido e tenham o feeling de perceber a bela oportunidade de observação do comportamento humano que se desenham nas redes sociais; porque são modelos tanto isolados, reduzidos e nos permitem perceber coisas que ficam confusas e difíceis de apreender no macro - que seria a própria sociedade. Pensei em escrever, ao invés de "a própria sociedade", a sociedade offline, mas é justamente esse o ponto que eu espero estarem marketeiros, sociólogos, antropólogos e o diabo atentos: que não existe uma sociedade off e outra on, gente é gente e as relações, embora em meio digital, permanecem lá enraizadas na condição humana, nos sentimentos, psicoses, etc, se fundam no real.
Toda essa introdução é para comentar das reflexões que tenho feito desde ontem depois do stress que se instalou - também entre a gente - quando o Rafael, meu amásio, deu um mass unfollow. O resultado foi desagradável e pedia a gente pensar sobre. Acho uma pena que meus colegas da área de história considerem esse assunto "redes sociais" uma bobagem. Imaginem que se eu chegasse para algum deles e dissesse sobre o quão desagradável podem ser as situações em torno de um unfollow. Por não considerarem parte do real, considerarem redes sociais como quando a gente brinca de Barbie e, tipo, não é real, é apenas a Barbie se arrumando para a festa, é a fala da boneca, não é a sua, é um faz de conta, uma manipulação de avatares, não acreditam fazer sentido que alguém se sinta triste ao parar de ser seguido, ou que parar de seguir determinadas pessoas pode te colocar em situações constrangedoras.
Estou falando, redes sociais, mas, já tá compreendido que estou focando no Twitter. Acho o Twitter um lugar ótimo! Que oportunidade interessante de observar miudezas cotidianas, comportamentos e relações cercadas de aridez por todos os lados. Porque o Twitter é um meio sintético, não sintético de plástico, sintético porque é um lugar cheio de síntese, onde dezenas de palavras e reações podem ser substituídas/expressas por um #medo. Como nos comunicamos quando há um espaço tão reduzido para comunicação? Que novas comunidades linguísticas surgem nele? Quais são os gestos? Quais são os símbolos que só lá se compreendem e florescem, recriam? Por ter essa forma - micro gestos donos de grandes significados - é que considero os follow/unfollows como os momentos críticos nesta rede social. É neles que podemos apreender a dinâmica da própria rede o que é, por tabela, a apreensão do próprio comportamento humano. Juro por Deus.
Dizem que a moeda de troca do Twitter é o RT. O que valoriza cada pessoa, ou cada empresa sei lá, é a sua capacidade de ser redistribuida, citada, multiplicada através da replicação do que disse. Quanto maior essa capacidade, mais influente é esta pessoa. Vejam, microgestos, grandes interpretações. É fantástico. E o que mais caracteriza um @ influente? Pois, é o seu número de seguidores. São coisas atreladas: o cara mais seguido tem maior probabilidade de ser mensagens replicadas e, quanto mais tiver mensagens replicadas, quanto mais influente, mais seguidores terá, enfim, é um ser amado. Todo mundo quer ser amado. Receber um follow é saber-se querido, nesse pequeno gesto, há a larga consequência do envaidecimento. Já o unfollow é o contragolpe do ego, é saber-se desinteressante, é ser desconsiderado, considerado desimportante, é perder a real moeda de troca, que são os seguidores, esse distintivo imediato, o cartão de visitas. Enfim.
Ontem fiquei refletindo sobre o mass unfollow do Rafael. Ele depois tentou se explicar porque fazia aquilo, conjurou nas entrelinhas aquilo de que o Twitter é o que o que você faz dele e o que ele queria fazer era um mural de feeds informativos, de música, de ideias, mas então você descobre que não é tão simples, que há vaidades, gentilezas e futuros contrangimentos em bares que devem ser considerados. Talvez ele pudesse ter feito tudo de outra forma, mandado um e-mail para as pessoas explicando tudo, que não era nada pessoal, mas a pessoa tem o direito de ficar puta e ele ficou puto de se ver preso na armadilha da impessoalidade, da relação entre avatares. Ele sabe que é relação entre pessoas e relação entre pessoas é um negócio que sempre dá merda.
O caso é que não há etiqueta para o Twitter nesse momento, digamos, traumático, do deixar de ser seguido. Se, como considero, esta rede se pauta em pequeniníssimos gestos repletos de significados, esse retorno negativo tão singelo, o deixar de seguir, possivelmente equivale a uma cusparada. Agora vocês vejam, eu gostaria de dizer "que bobagem!", mas o que nos escapa é que somos, interpessoalmente, patéticos. Então, se já admiti que tudo é pessoal então ferrou porque é uma cusparada mesmo, às vezes nem é nada pessoal, você só quer seguir sites de música, mas tudo é pessoal, como me ensinou o Manolo Florentino.
Não sei se existe solução para essa falta de etiqueta, não sei se haveria um modo mais bacana, mais explicativo, não é que eu não te ame, só não quero assinar o seu feed. É fantástico os lugares para onde a condição humana nos leva. Espero que meus colegas estejam atentos à essa oportunidade, à esse microcosmo, essa aldeia indonésia que é o Twitter.
Gostaria de ter mais cabeça e constância e escrever sobre o assunto, debater sobre ele - aliás, outra coisa bárbara no Twitter é que você pode emitir opiniões, mas, se eu discordar dela, fica chato, ainda não aprendemos a debater; o que é uma incapacidade crônica do país, Twitter é reflexo, tudo é pessoal. Mas não resisti a essa digressão. Adoro o Twitter, adoro o cotidiano e o nada absoluto do vai pra lá vai pra cá das pessoas: cortar o dedo, ir ao médico, parir, mandar beijo. O pointless me fascina. Acima de tudo, espero que meus colegas da história valorizem esses movimentos digitais e que os analistas de redes sociais tenham lido o Questões Fundamentais da Sociologia do Georg Simmel porque eu odiaria descobrir que estou gozando aqui sozinha.
Toda essa introdução é para comentar das reflexões que tenho feito desde ontem depois do stress que se instalou - também entre a gente - quando o Rafael, meu amásio, deu um mass unfollow. O resultado foi desagradável e pedia a gente pensar sobre. Acho uma pena que meus colegas da área de história considerem esse assunto "redes sociais" uma bobagem. Imaginem que se eu chegasse para algum deles e dissesse sobre o quão desagradável podem ser as situações em torno de um unfollow. Por não considerarem parte do real, considerarem redes sociais como quando a gente brinca de Barbie e, tipo, não é real, é apenas a Barbie se arrumando para a festa, é a fala da boneca, não é a sua, é um faz de conta, uma manipulação de avatares, não acreditam fazer sentido que alguém se sinta triste ao parar de ser seguido, ou que parar de seguir determinadas pessoas pode te colocar em situações constrangedoras.
Estou falando, redes sociais, mas, já tá compreendido que estou focando no Twitter. Acho o Twitter um lugar ótimo! Que oportunidade interessante de observar miudezas cotidianas, comportamentos e relações cercadas de aridez por todos os lados. Porque o Twitter é um meio sintético, não sintético de plástico, sintético porque é um lugar cheio de síntese, onde dezenas de palavras e reações podem ser substituídas/expressas por um #medo. Como nos comunicamos quando há um espaço tão reduzido para comunicação? Que novas comunidades linguísticas surgem nele? Quais são os gestos? Quais são os símbolos que só lá se compreendem e florescem, recriam? Por ter essa forma - micro gestos donos de grandes significados - é que considero os follow/unfollows como os momentos críticos nesta rede social. É neles que podemos apreender a dinâmica da própria rede o que é, por tabela, a apreensão do próprio comportamento humano. Juro por Deus.
Dizem que a moeda de troca do Twitter é o RT. O que valoriza cada pessoa, ou cada empresa sei lá, é a sua capacidade de ser redistribuida, citada, multiplicada através da replicação do que disse. Quanto maior essa capacidade, mais influente é esta pessoa. Vejam, microgestos, grandes interpretações. É fantástico. E o que mais caracteriza um @ influente? Pois, é o seu número de seguidores. São coisas atreladas: o cara mais seguido tem maior probabilidade de ser mensagens replicadas e, quanto mais tiver mensagens replicadas, quanto mais influente, mais seguidores terá, enfim, é um ser amado. Todo mundo quer ser amado. Receber um follow é saber-se querido, nesse pequeno gesto, há a larga consequência do envaidecimento. Já o unfollow é o contragolpe do ego, é saber-se desinteressante, é ser desconsiderado, considerado desimportante, é perder a real moeda de troca, que são os seguidores, esse distintivo imediato, o cartão de visitas. Enfim.
Ontem fiquei refletindo sobre o mass unfollow do Rafael. Ele depois tentou se explicar porque fazia aquilo, conjurou nas entrelinhas aquilo de que o Twitter é o que o que você faz dele e o que ele queria fazer era um mural de feeds informativos, de música, de ideias, mas então você descobre que não é tão simples, que há vaidades, gentilezas e futuros contrangimentos em bares que devem ser considerados. Talvez ele pudesse ter feito tudo de outra forma, mandado um e-mail para as pessoas explicando tudo, que não era nada pessoal, mas a pessoa tem o direito de ficar puta e ele ficou puto de se ver preso na armadilha da impessoalidade, da relação entre avatares. Ele sabe que é relação entre pessoas e relação entre pessoas é um negócio que sempre dá merda.
O caso é que não há etiqueta para o Twitter nesse momento, digamos, traumático, do deixar de ser seguido. Se, como considero, esta rede se pauta em pequeniníssimos gestos repletos de significados, esse retorno negativo tão singelo, o deixar de seguir, possivelmente equivale a uma cusparada. Agora vocês vejam, eu gostaria de dizer "que bobagem!", mas o que nos escapa é que somos, interpessoalmente, patéticos. Então, se já admiti que tudo é pessoal então ferrou porque é uma cusparada mesmo, às vezes nem é nada pessoal, você só quer seguir sites de música, mas tudo é pessoal, como me ensinou o Manolo Florentino.
Não sei se existe solução para essa falta de etiqueta, não sei se haveria um modo mais bacana, mais explicativo, não é que eu não te ame, só não quero assinar o seu feed. É fantástico os lugares para onde a condição humana nos leva. Espero que meus colegas estejam atentos à essa oportunidade, à esse microcosmo, essa aldeia indonésia que é o Twitter.
Gostaria de ter mais cabeça e constância e escrever sobre o assunto, debater sobre ele - aliás, outra coisa bárbara no Twitter é que você pode emitir opiniões, mas, se eu discordar dela, fica chato, ainda não aprendemos a debater; o que é uma incapacidade crônica do país, Twitter é reflexo, tudo é pessoal. Mas não resisti a essa digressão. Adoro o Twitter, adoro o cotidiano e o nada absoluto do vai pra lá vai pra cá das pessoas: cortar o dedo, ir ao médico, parir, mandar beijo. O pointless me fascina. Acima de tudo, espero que meus colegas da história valorizem esses movimentos digitais e que os analistas de redes sociais tenham lido o Questões Fundamentais da Sociologia do Georg Simmel porque eu odiaria descobrir que estou gozando aqui sozinha.