quinta-feira, 10 de julho de 2008

O Clube do Coma: reacende e se afoga para #10

Noutra parte eu vejo as duas e elas estão conversando. Uma delas diz que queria ficar e a outra também. Elas entram num consenso, mas ele não faz o menor sentido porque, veja, elas querem ficar, mas não podem, não como duas. Cada uma devia ir, elas deviam. Elas não vão. Uma está sentada e a outra de pé. Uma delas está gritando, acho que é a que está sentada quem está gritando, não tenho certeza, e gritando e as unhas no braço da outra a batendo. Acho que ela está pedindo para a que está de pé ir embora. Talvez eu não consiga ver nada direito, é bem possível. Não queria nada disso, não queria que elas estivessem aqui. Queria ter entrado naquele ônibus e ido para casa porque estava lá: todos me esperando em casa e elas resolveram justo naquela noite que ia virando dia pelo horário pegar o mesmo ônibus. Eu não devia ter virado dois.

barco
Nesse modo novo, ela ficou bem na beira pondo tudo pra fora pelo vômito. Pensei que talvez fosse isso, que Maria fosse parir e fazer nascer alguma coisa além de ficar caindo, caindo e sendo abismo. Ela costumeiramente cai igual abismo, infértil, sem algum arbusto por perto e você não segura. As pessoas se aproximam dela e não sabem explicar porque. Maria se mudou para a Rua fonte da saudade em tempos imemoriais; Maria via Nara Leão na praia, mas nunca teve coragem de ir lá, de ir lá e falar com ela, nunca tinha, na praia. Maria não é coletiva, mas as pessoas assim mesmo se aproximam dela e vão sendo todas tragadas pra dentro dessa coisa que ela tem, essa coisa feliz, essas reuniões de sábado à tarde que ela tem dentro dela. Dentro dela é sempre sábado no final da tarde e está sempre frio, embora com sol. A lua fica aparecendo no céu igual unha e isso deixa todos felizes. Maria usa roupas largas, Maria não se lembra bem que nasceu igual se nasce de tédio. Ela não sabe que o pai chegou perto da mãe por tédio e que a mãe abriu as pernas por tédio, e ele foi metendo por tédio, e ela gostou por tédio, e ela estupro como gostava por tédio. Maria nasceu exatamente onze meses depois. Não queria sair, pra ver o que? Não queria, fez bem. Queria que ela morresse. Maria, a sua mãe, ela não confessa isso pra ninguém, esse lugar tão comum das mães que não querem ter filhos, e não querem mesmo. A Maria tem um rosto que não chega a ser bonito, mas ela paga um boquete muito bem. Maria dizia que a mãe e o pai tinha largado ela num barco e ficaram na proa esperando a água levá-la: estibordo.... as pessoas chegaram e viram que é isso? a criança vai embora com o mar! E eles a cataram, a acolheram felizes feito quando é luz naqueles letreiros de propaganda, dos prédios. Nossa! A mãe virgem que concebeu o menino Sidarta, andando sobre as flores brancas, depois o crucificamos. Magro... magro... Maria, me deixe te dizer, calma, não vira o rosto, não fica fugindo... eu sei que é tão ruim, vou falar baixo, te contar baixo que ela te pegou, encheu um tacho azul, tão azul.... ela ia te dar banho, Maria, te limpar, te deixar . Ela te deixou lá e por que? Você batia os bracinhos, você batia as braças e ela ia te afundando e a sua cabeça ficou submersa com aqueles olhos que eram daquela cor abertos. A sua barriga ficou toda cheia dágua.

pesadelos recorrentes que maria tem
1.
ela está num caro com alguém, com um homem, e ela tinha ... ela gostava dele e ele gostava dela, ele era mau. eles vão numa subida, numa rua, numa estrada e vão subindo a estrada com a calçada branco e preta do lado direito, aparecendo no vidro da janela do carro tão rápido que nem dá pra ver os desenhos que são ou branco, ou cinza. e daí o carro para e ela sai correndo - a câmera vê isso de longe, como o carro pára de repente e ela parece na porta e correndo usando um vestido preto. e ela pula ou se joga, mesmo avoa e cai direto na areia - a câmera mostra o braço dela de perto e a areia indo pros lados e ela está chorando porque o homem disse alguma coisa que ela queria muito ouvir. e ela consegue continuar correndo, mesmo que a calçada seja uns metros acima da areia, ela sai correndo e ela pára, e ela entra na água, ela olha a água - a câmera mostra que ela solta o ar pela boca e pisa - e pisa, de novo, de novo e então ela se atira na água como se a água fosse cair alguns metros acima da areia. e vai nadando, entrando.

2.
ela está no topo de uma escada caracol e a mãe está lá em baixo dizendo alguma coisa e ela esta procurando alguma coisa numas estantes, numas gavetas e é um mezanino e ela desce a escada mas ela fica balançando e é mole, mas a mãe dela continua lá em baixo chamando, dizendo que ela tem de levar a coisa que ela pegou e ela disse que não pode porque a escada está caindo. a escada é cinza, mas ela pisa no primeiro, no segundo degrau. e desce a escada e os olhos ficam muito... vermelhos... ela diz, ela vai com a coisa da escrivaninha na mão dizendo coisas, gritando um monte de coisas e ela diz grita umas coisas: você já viu o quanto essa escada está bamba??

3. o clube do coma
ela está num teatro e as pessoas filmam as pessoas e as pessoas contam as coisas e tudo aparece na tela. aí ela, outra, outra, sobre no palco e começa a contar a história que era dela. ela sobe e ela grita, todos gritam às vezes, ela só grita pra dentro porque a outra.. por que a outra vai dizer e todos vão ver? ela beija a outra, ela põe a mão na calcinha da outra e ela sente que a outra está molhada e ela continua passando os dedos porque acha que ela está molhada, ela beija a outra de boca gostosa. a outra diz: você é um peixe.

4.
ela está num carro com um homem e o homem gosta dela. ele não é muito bom. ela se joga na água, é um sonho que acontece toda hora, igual o sonho de que ela está num prédio e tenta subir as escadas mas elas estão interminadas e dá pra olhar pro teto e ver os fios, os canos passando. ele fica abraçado e ela s´o queria nadar na água, entrar na água até o fundo onde tudo fica muito, muito silencioso num vestido solto, longo, de crepe. a barriga dela ficava cheia d'água e ele ficava lá só segurando ela e ela ficava lá com frio se debatendo. e não era. ela ficava querendo correr e fugir, e afogada, cheia com a água. água. água. água.

4 comentários:

Rafael Abreu disse...

Não entendi nda! Mas talvez pq naum tenha lido o todo... mas naum tenho tempo pra ler o todo agora.... mas naum posso dizer q o blog naum eh autentico e de bom gosto!

Anônimo disse...

C_onstrói-se

L_entamente

U_m

B_elo

E_nredo.


D_enso,

O_scilante.


C_onciso

O_lhar

M_alte

A_dentro.

.........................

Anônimo disse...

Muito bom Pri,
Fantastica como sempre...
Instigante como nunca !!!
pena que naum tenho tempo pra ler sempre !! Sucesso guria !!!
beijo

Anônimo disse...

Mereceu citação.
Ah, mereceu!

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