terça-feira, 18 de março de 2008

Clube do Coma #4: entrepausa

será?

serão?

serões?

serei?

sereia.



Faz onze dias que o asfalto conheceu Maria direito. Maria da Glória nasceu na Freguesia da Candelária embalada num barco que chovia, e naquele dia, um sábado às 07 e quarenta e seis da manhã o dia tava cinza, tava nuvem e foi um barulho grande e longo. Deve ter sido por isso que a água salgada invadiu o convés onde tava a menina, os pais não queriam nem quiseram ouvir um choro, ouvir um grito, é por isso que ela conta que não tem pai nem pai. A gente sabe que não, nem é verdade, mas ela insiste. Maria da Glória insiste e faz enfática as voltas com a mão que gesticulam essas particularidades parturientes que a lembrança, ao que importa à mente, se esqueceu.
Na madeira era água e era da água que aparecia Maria junto com os sacos plásticos de supermercado que ficaram ali boiando. A mãe mal quis tocar, sentiu sono, o pai demonstrou-se feliz, mas á lá: a criança submergida no verde dum cinza azul, tão azul, peixe... berrando à beira do que nem sabia, do que percebeu, do que quis voltar. Ela na água e eu nem posso fazer nada, escorregando por tudo que´ra canto mas se fazia tão mudo paz.




Maria vingou como doença em velho, ficou, nunca pertenceu, mas esteve e fez. Devia chamar Sidarta à menina, mas os pais conheciam? Os pais constrangidos, olhando pra criança que não tava morta, cataram do chão de mar, de chuva. Ela bateu as perninhas gordas e depois daquilo quis voltar sempre pro mar, o mar que lhe tinha surgido, o mar pra onde prometia ir num dia fugido, de noite.

4 comentários:

Anônimo disse...

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Ricardo Rayol disse...

o asfalto ou o mar?

Isabella Kantek disse...

Demos pra receber spam...

Muito bom, amiga. com um quê de desme. ;)

Prill disse...

rayol, mar é de nascer, asfalto de andar. desentendimento e referências sem sentido são só pra contorcer mesmo.

bella, não coloque o desme num patamar assim; foi obra do caboclo burocrático. não penso que fica como definitivo, só um rascunho do que realmente aconteceu.. vamos ver, vamos ver...

obrigada aos dois por não me fazerem acreditar que não estou falando sozinha - surtos psicóticos. até ao spam agradeço. rs

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