quinta-feira, 27 de março de 2008

Cidades #9: trechos que não faziam sentido ou outras idéias abandonadas

intro recortada pelo Seven do texto que foi
Pode-se traçar uma forma geométrica no mapa de lugares onde, você não sabe, nem como, mas se faz presente na suspensão de toda necessidade de ir: é chegada.

a idéia (a) eram as fachadas que me atraíam porque tinham virado pontos ordinários
Por isso digo tão abertamente sobre os detalhes mais estúpidos, sobre os ônibus, sobre os mendigos, sobre os 1861 escrito no alto das fachadas de casas que já ruíram ou que já puseram em bom neon escrito “club”.

(b): imaginei que nevava
Naquele dia éramos uns dezessete parados em frente ao prédio baixo de uns cinco andares, observando os artistas, os trapezistas que evoluiam as danças pendurados por cordas. Desde a escolha do lugar, não sei, porque havia uma pressa imensa de chegar onde não se é pra ir. Os moços iam empurrando as carroças brancas e esperei o caminhão da prefeitura passar raspando o chão até poder atravessar em frente à rodoviária numa impossível conformação ao frio de toda aquela manhã cedo. Esperei na caixa amarela da roleta aparecer escrito “Passe...” e passei e sentei feito um saco junto da janela parecendo um cachorro cansado. Descemos lentos a Zona do Porto até o Estácio, os trens estavam parados porque a neve tinha coberto tudo, os trilhos...

idéia de contar do dia com ela, (c) - que, na verdade, foi a primeira idéia. ia começar contando da despedida na rodoviária do Rio.
Ficamos ali sentadas na frente da papelaria: roxo, verde, vermelho, amarelo, verde. Na vitrine o Cristo Redentor em miniatura, em resina, em ligações elétricas, ia mudando de cor e apostei que conseguia dizer cada uma delas a cada mudança. Ela riu não sei se de impaciência. A papelaria não tinha janelas; a parede do fundo era um painel quadriculado como tela de arame onde estão pendurados pelo lado de fora O I R O V O, que é o letreiro. Não lembro de ser feriado, mas a rodoviária cheia não deixava um banco livre, sentamos num tablado no chão azul e com sono.

Cinco pessoas escrevem sobre cidades, reais ou imaginárias, mas vivas dentro de si. Porque uma cidade tem vida e é esta que a define. Nova Iorque, Hammershoi, Lisboa, Fava ou Rio de Janeiro são cidades vividas dia a dia, passo a passo, cada qual à sua maneira. Página das cidades no Obvious.

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...