sábado, 5 de fevereiro de 2011

A submissa

Aos beijos inteiros afagados numa cama outra. Subimos num prédio onde eu nunca entrei. Em consideração ao meu rosto, que você olha rápido e que é vítreo, eu não te reconheci, jurei isso pra sempre. Nosso encontro é o mais novo plágio: quantas vidas já ateadas fogo sob o mesmo passado repetido, mesmo clichê, em que eu ficava agora só porque tivemos antes um abraço...?
Foi na sala do café, eu passada por entre as estantes de papéis empilhados, os seus olhos sempre acompanhando, foi na sala do café, você disse, fechando a porta, umas palavras disformes que eu nunca tinha ouvido. Não por recato. Peguei rápido um coque no topo da cabeça e com o rabo suave trepamos sob um plano de madeira azul. Eu piscava uns olhos que já tive e havia perdido, um medo gigante de te esperar na rua, no shopping e você não aparecer, você apareceu e então passei a ter um pavor que me acompanhou pra sempre. Nos dias e nos anos que se seguiram, eu te pedia que me batesse, por favor, me bata na cara e você batia com a beleza inexperiente dos novos encaixes. Meu amor é de tração. Eu acordava vestida, sempre fui cuidadosa. Coisa que gosto é morder as suas ordens, morder minha posição debaixo dos seus pés, estender a mastigação, transferir de molar à molar. Subimos o prédio. Seu amigo estava lá, você tem aquele capricho e me apresentou desfeita o rabo de cavalo, nunca compreendi seu raro talento de me pegar, me levantar, me sufocar. Seu amigo não quis logo me beijar, eu fiquei com o rosto fugindo. Tenho os peitos normais. Seu amigo me parecia assustado, meu olho fechou. Você explicava e persuadia, que eu sou uma vadia... Seu amigo me beijou intranquilo, você me pressionou pra junto da boca, eu dele, e despontamos pro sabor de língua. Você assistia, era como se fosse Natal. Eu ruminava os seus carinhos, o cheiro do seu ordenar. Nunca fui inteira (aos beijos inteiros afagados numa cama outra...) Como os galhos do arbusto furando o desenho: um passarinho, numa cerca, um círculo, um quadrado, um coelho. Eu sou uma murta. Seu amigo enfiou devagar e você rápido. Nada me denegria no abandono, no abdicar. Minha dor é ter de escolher, eu nunca quis escolher, a liberdade que nos contam me dói que pesa. Você decide meu almoço, um purê, transpareço ofensa e então nós sorrimos, chega a ser escroto, muito bonito.

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