domingo, 30 de setembro de 2007

Episódio endereçado

a gente entrou pelo portão meio indiferente com a sujeira. tinha acabado de chover e eu e você ficamos sentadas num frio absurdo e os bancos molhados, ainda não sei como saí de casa com os cabelos pro alo. imagino que foi o abalo de você na porta com os olhos com água e o casaco de veludo da Luana: preciso de um abraço seu bem forte, me dá cachaça? e a noite não teve uma frase melhor do que bebe, bebe. tudo pra você esquecer porque você precisava de um apertado que eu nunca soube dar. contou que achou que doeu pra cacete, que ele reclinou o banco e ficou por cima, você olhando pro teto. espera, espera; eu quero ver o mar. ela virou a cabeça e viu a praia de noite em Alice através do vidro do carro. piscou e calculou a consistência do absolutamente enxovalhado: tudo bem, pode continuar. e ele continuou de onde tinha parado num admirável senso de concentração. acabaram, beijo, fecho, cobre, ajeita o banco, gira a chave. merda! merda! caralho! caralho, o carro não quer funcionar. celular: pai, pai o carro não quer funcionar. que? tô na praia, pai. tudo bem , era a bateria que tinha arriado, o cara do casal do carro de trás (alitero) se ofereceu pra ajudar. você saiu e empurrou. daí a menina do casal do carro de trás acenou com a cabeça e depois, há meia hora atrás tava lá o teu rapaz em juras eternas, preocupado com o aniversário, não com o teu que já passou, mas com o da menina dele. a sentença na gravidade dos seus 16 anos foi: toda mulher precisa dum canalha. bebe, bebe. foi de início, não tinha - como você tinha dito - não teve lençol branco (sabia que ela adora lençóis brancos?) e champagne (minha nossa, acabo de me lembrar que você não tem idade pra beber!). a gente entrou pelo portão meio indiferente com a sujeira e subiu a portaria; você disse eu te leio sempre, só não comento. sei lá, acho que lá tá meio chato agora, esquisito. eu sei.. eu sei... eu pensei em dizer "correndo atrás do rabo" - minto, só pensei nisso agora. eu preferia quando você falava dos velhinhos aqui no banco, era engraçado. isso sim eu quis dizer, nunca foi engraçado. parece engraçado, mas nunca foi (foi?). seu primeiro homem e fomos tomar uma Sol. eu não soube te apertar como devia, é uma incapacidade, aleijamento, te peço perdão. só achei de um extremo mal gosto a tua história assim ser tão repetida, eu não quis que você continuasse e me contasse os filmes que eu já vi. desculpe também se me alongo. já termino.

sábado, 29 de setembro de 2007

Manchete

Em baixo da cama descascou um bis e refletiu entre as camadas de waffle: num nada, num bom dia se abriam as pernas, mais pros estrangeiros, num ranço colonizador de Darcy Ribeiro. Seu prazer era tornar-se aquela flor que a gente assopra espalhando, caminho se perder.

Estava quente e sentou logo atrás de um bom suco-de-laranja-gelada... a mãe anunciou: olha, chegou a conta do cartão do teu pai. O suco protestou na saída do estômago, só que continuou Glorinha lendo a revista Manchete. Assim não era possível! Gastou muito com bobagem, com restaurante. Tinha conta de restaurante não sei de onde. Virou uma página da Manchete e ficou pensando se aquilo era só jogando verde... será que estava falando dos nossos chopps na cervejaria cara? Se fosse, ótimo. Virou outra página da revista: a dúvida. Será que eles tinham sentado pra analisar a fatura do cartão? Era uma sigla. Sei lá. Lembrou do dia no motel que o cara reclamou tanto do preço que ela jogou o cartão de crédito e anunciou pro funcionário maquineta: paga logo. Mas que miserável! O mínimo que se espera de um homem pra quem se acabou de dar sexo é silêncio e gratidão, é o pago tudo, o te monto casa. Se fosse sexo ruim ainda ia mas... Glorinha virou mais uma página da revista Manchete e fingiu interesse no que lia. Nunca mais queria vê-lo, tinha decidido ainda no táxi. Era uma sigla, não era? Esses motéis costumam colocar uma sigla na fatura. Vá que a mulher é casada? Vá que tem pais que analisam a fatura do Mastercard? Mas e se o pai já tinha levado uma mulher praquele endereço? E se a mãe fosse, além de vastíssima católica, versada em rende-vouz? Vá saber. Podia bem ser. Detestava o cigarro dele, mas tinha ido pra cama com o cara porque era assim mesmo igual D. Noêmia: "bom dia", e se entregava. Num bom dia se entregava... Arrastou um, mãe... a senhora sabe que comer fora está caríssimo... Não sabe?? Pois é, te digo que está caro! Esses caras arrebentam até na alface! Vou almoçar um tantinho de nada - você sabe que eu como pouco - e quase tenho de deixar um olho no caixa. E o chopp do Devassa?! Assalto! O chopp é de ouro! Mas tem jeito? Vou comer como? Onde? Glorinha entretida na reportagem, gesticulou parecendo com preguiça e lançou a Manchete em cima do sofá. Era indiferente. Nada tinha mudado, fora deflorada, nada mudara, nadinha de nada. Lia a contracapa do Vik Muniz. Prometo economizar mais esse mês, mãezinha... Em algum pedaço da casa, da cabeça, chorou por que se lembrando do que perseverantemente esquecia, ignorava.
--
ref.: O Casamento, Nelson Rodrigues in Obvious.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007



Je suis Mephisto
Je suis Mephisto
(Fausto, de Goethe)

estupro! ruído de estupro. fui estuprada, abelardo!, sempre fui

francine, não diminuiu, diminui o tom, não o assunto

estupro eu e eles todos. UMA CURRA!!

(ri) páre...

parar? mas você disse que eu diminuía!

até onde eu vi alguém morreu ou sumiu, francine. tínhamos concordado que você morreu

você! você acordou! eu disse apenas que morria num ato contínuo praticamente gerúndio e você já me vem com a pá de cal. você é a coisa mais vazia dos meus dias, abelardo.. queria que você fosse o meu ouvido, mas você não e é nisso que me sobra muda...

já disse que não somos dois. sou o monossílabo do monólogo.

(soluço ou ar suspenso)


ESTUPRO! estupro por todos os lados! em todas as minhas épocas!, dum dente na cama até aqui, de tudo, sempre, meus primos, meus irmãos, tios, médicos, professores, padres... principalmente os padres todos me corromperam!, me repartiram, me forçaram. devorações!

se eu estivesse lá, te salvaria?

( )

se salvaria? ... certa vez, uma das primeiras vezes numa festa dos amigos dos meus pais, eu estava perto da piscina e um deles chegou e perguntou no meu ouvido se eu ia usar biquini. eu tinha um rosa que não gostava, mas ia. eu não entendi, não devo ter perguntado por quê dos seis aos nove, mas disse ia. porque estou louco pra ver as suas pernas... você me salvaria?

não.

depois ele me disse que queria me ver, que gostava de mim, me deu um beijo no nariz... um beijo no nariz, um beijo molhado no nariz não é algo de se esquecer...


eu prefiro que você morra novamente porque gosto de você, francine; mas de você longe! me deixa só
ser as reticências porque que parte tomo nisso se nem te desejo muito?, pouco, pouco, de dormirmos juntos sós, não me interessa você, nem a pessoa você. na pessoa você, me assombra! o único dom que me cai é o assombro, é o meu movimento, minha ação principal. não você, mas a presença francine. ela é muito sua!

ele me deu um beijo molhado...não equivale a um defloramento?

por um segundo não fui reticência... quando? não, não vale

os meus irmãos sempre me beijaram, mas na boca, sem língua. um tio na cama dos meus pais cravou o dente no meu pescoço e fui a lucy de bram stocker. ele me tocou fogo até que o vento custou a bater pra levar o que ficou de cinza. noutra um tarado, um judeu tarado. um médico judeu tarado. um clínico com um carro prata, me deu um beijo na coxa e pediu telefones. os professores chupei todos até descobrir que não existiam presentes, só há venda.

e os padres?

me puseram no púlpito pra sedução letárgica da miséria.

quando você finalmente vai?

agora. é o fim da postagem

--
acabei vendo só a dispersão do enlace e é o que tem me elevado. escrever não escrevo mais.

Dispersão do enlace

1.
acidentes temperados nessas rotas. voltas.

2.
uma expressão que me ocorreu à pouco!: canalha labial. como seria o canalha labial...?

3.
Cinco situações diferentes o levaram até ali; mas nenhuma poderia se caracterizar numa boa história que valha a pena se contada.
Basta saber que ele estava ali, em frente a praia, parado, sozinho, em pé, nu.


4.
Momentos ouve em que doutor Odorico temeu misturar o discurso em que exaltava as virtudes do morto ilustre com as infâmias que lhe estavam passando pela cabeça. Teve medo de dizer em voz alta, diante dos túmulos:
"Meus senhores e minhas senhoras! Não é nada disso! O que interessa são os peitinhos da nossa Engraçadinha! Amigos, orai por esses dois seios pequeninos" (Ruy Castro na biografia de Nelson Rodrigues)

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Sexta-feira, Setembro 21, 2007

No quarto,
acorda!

O outro lado da dimensão
Volta aqui! Te pego, seu coelho maldito!

No quarto,
Hei, pode me ouvir?
Doutor, ele não apresenta sentidos. Que quer dizer?
Calma! Não é caso de óbito.
O que é então?! Por favor, Doutor! Salve meu menino!
É uma espécie de letargia.

O outro lado da dimensão
Coelho! Maldito, coelho! Não adianta se esconder. Posso te achar. Vou te achar. E quando isso acontecer você vai me levar até o flautista dos portões do amanhecer. Só ele pode me ajudar.

Hahahahaha. Struch. Struch.

Quem é você?

Hahahahaha. Struch. Struch.

Anda, diga logo quem é e o que faz aqui!

Struch. Vistruch ajustruch menistruch perdistruch

Não entendo nada do que diz.

Hahahahaha. Struch. Struch.

Um balão. Quer que eu entre?

Hahahahaha. Struch. Struch.

Por que deveria confiar em você?
Confiei no coelho e ele roubou meu relógio. E agora estou preso aqui nesse mundo onde o tempo não passa.

Struch.struch.

Que tipo de espécie é você?
Olha ele ali! Coelho, devolva meu relógio!

Esquestruch o coelhustrusch....hahahahaha. coelhustruch istruch ladrusch de tempstrusch.
Sostrusch atrastrusch vostrusch.

Como se eu estivesse entendendo tudo que diz.
Tudo bem. Vamos pegar esse balão e ver onde ele nos leva. Que os bons ventos estejam comigo.

Hahahahha. Struch. Struch. Azikabhaaaaaaaa! flystruch!

Ahhhhh! Que vista insólita!

Hei! Struch? Que lugar é esse?

Continua [?]
--
escrito por Bruno Cabelo. publicado em (e apagado de) Espaço em [Des]construção. fica aqui à salvo da fúria delética do autor, a quem eu pediria novamente em casamendo.

sábado, 22 de setembro de 2007

Diálogo dram[ático]

Sim, é mera conversa. Mas por que é mera conversa? Porque, meu amigo, beleza, pureza, respeitabilidade, religião, moralidade, arte, patriotismo, bravura e descanso não são nada além de palavras que eu ou qualquer um podem colocar ou tirar como uma luva.
São realidades? Você pode até se sentir culpado por meu julgamento mas, afortunadamente, para seu auto-respeito, meu diabólico amigo, não são realidades. Como você disse, são meras palavras. Inúteis para convencerem um bárbaro a adotar a civilização, ou o pobre civilizado a se submeter ao roubo ou à escravidão.
(Bernard Shaw, Don Juan - Ato III)


e você, não fala?

infância! infântica! enfática sempre e agora
muda

abelardo, assusto até os mortos se falo...


se falasse. falha, sempre fala. arredava o pé daqui se fosse
surdo,
mas não sou e, impulsivo, fico pra querer te ouvir


abelardo! chega! estranho você, sempre estranhei, não quero
beijo nem
que fique pra me ouvir. me ouvir pra que? um
franco!

sim, sou um franco

um fraco!


também


abelardo... (era esse o meu apelo); que você ficasse e que me
ouvisse
francamente mas é incapaz de ser franco... se fosse mas
é à você, abelardo,
que ainda apelo ouvidos


francine... (seu nome sempre ficou doce quando eu pensei, até que
não pudesse mais, até transbordar nos nossos diálogos loucos e esféricos)

não comece a frase com nomes próprios


você começou antes

abelardo!!
é como se eu pudesse morrer agora

e pode


é como se eu poudesse morrer mais agora

e qual a diferença?, todo mundo pode, e eu não sou budista, nem você

vou morrer agora! de asma estomacal

infância!!

corrompida!!


infância, francine...

infância corrompida, abelardo, morro de infância corrompida
e
de lirismo estocado da laringe até o estômago! corrompida!!, abraçada
por trás, beijada no pescoço, abelardo e
mordida

quando?

sempre

você revive?


revivo

infância de francine...

eu queria um escape. me oferece escape?


só a minha farta janela, mas é segundo andar,
talvez você só
quebre a perna. se for dinheiro, também não tenho

você é frio


não, só não ouço porque é melhor, eu me esqueço, francine...

egoístas nunca ouvem e, se ouvem, esquecem


mas e a franqueza?


essa eu deixo em casa

aqui é a sua casa ou você se mudou?

nunca é nem foi aqui. era como se fosse, mas agora já não

você agora é o confuso abelardo da caixa de atum?

não, agora eu sou o confuso abelardo dos diálogos que você
preferir

mentira!

verdade!, você é quem vive só de mentira, mente, memento...


me deixa ir


então vai


então vai foi uma frase tão largada, foi o estilingue que me caiu pra longe. e agora você repetindo;quando pára?

não sei. se viver for só repetição, eu não saberia


alitero, já...


nao devia...


vai me recriminar mais quantas vezes?


(mudo)


acabo, sempre acabei


não é desculpa. quem mente agora?

você ainda! e em terceira pessoa.

exponho e expus, quer mais o que? me abcesso! você nunca quis
nem que eu
ficasse... você finge

é crime querer que você vá logo embora?


é... as vezes demora pr'eu me convencer,
é assim que a gente
descobre que ama, quando fica descrente.

não somos dois


sei. quero só uns segundos pra me decidir pela sua expulsão


um, dois...


decidi


prazer.

igualmente

(sumisso)

Indecorosos...

para Bjr e Seven

Tenho uma memória bastante clara das aulas de Literatura que fiz ao longo da minha vida escolar, nelas, o poeta Olavo Bilac sempre foi fixado na minha imaginação como sendo aquele senhor polido, patriota, enfadonho e reaccionário. Daí o supreendente que foi, ao me inscrever e frequentar recentemente um curso universitário de Literatura Brasileira, descobrir que o tão proclamadamente apático poeta parnasiano, Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac, autor do Hino à Bandeira Nacional, adorador de formas marmóreas e da sobriedade era, na verdade, um devasso.
O poeta tem peças dum erotismo tanto perverso, delirante, pornográfico, que certamente corava as professoras tão sóbrias que tive . Fiquei depois descobrindo que ficou famoso o papelucho deixado por Emílio de Menezes para epitáfio do amigo: "Bilac esta cova encerra. Choram sacros e profanos... Muitos anos coma a terra, a quem comeu tantos ânus!". Se eu houvesse sabido dessas façanhas antes... teria sido uma aluna mais diligente. "Delírio" ganhou para sempre o meu favoritismo.

Satânia
(...)

Sobe... cinge-lhe a perna longamente;
Sobe...- e que volta sensual descreve
Para abranger todo o quadril!- prossegue,
Lambe-lhe o ventre, abraça-lhe a cintura,
Morde-lhe os bicos túmidos dos seios,
Corre-lhe a espádua, espia-lhe o recôncavo
Da axila, acende-lhe o coral da boca,
E antes de se ir perder na escura noite,
Na densa noite dos cabelos negros,
Pára confusa, a palpitar, diante
Da luz mais bela dos seus grandes olhos.

E aos mornos beijos, às carícias ternas,
Da luz, cerrando levemente os cílios,
Satânia os lábios úmidos encurva,
E da boca na púrpura sangrenta
Abre um curto sorriso de volúpia...

Beijo Eterno
Diz tua boca: "Vem!"
"Inda mais!" diz a minha, a soluçar...Exclama
Todo o meu corpo que o teu corpo chama:
"Morde também!"
Ai! morde! que doce é a dor
Que me entra as carnes, e as tortura!
Beija mais! morde mais! que eu morra de ventura,
Morro por teu amor!

Ferve-me o sangue: acalma-o com teu beijo!
Beija-me assim!

Delírio
Nua, mas para o amor não cabe o pejo
Na minha a sua boca eu comprimia.
E, em frêmitos carnais, ela dizia:
Mais abaixo, meu bem, quero o teu beijo!
Na inconsciência bruta do meu desejo
Fremente, a minha boca obedecia,
E os seus seios, tão rígidos mordia,
Fazendo-a arrepiar em doce arpejo.
Em suspiros de gozos infinitos
Disse-me ela, ainda quase em grito:
Mais abaixo, meu bem! ? num frenesi.
No seu ventre pousei a minha boca,
Mais abaixo, meu bem! ? disse ela, louca,
Moralistas, perdoai! Obedeci…

Última Página
Primavera. Um sorriso aberto em tudo. Os ramos
Numa palpitação de flores e de ninhos.
Doirava o sol de outubro a areia dos caminhos
(Lembras-te, Rosa?) e ao sol de outubro nos amamos.

Verão. (Lembras-te Dulce?) À beira-mar, sozinhos,
Tentou-nos o pecado: olhaste-me... e pecamos;
E o outono desfolhava os roseirais vizinhos,
Ó Laura, a vez primeira em que nos abraçamos...

Veio o inverno. Porém, sentada em meus joelhos,
Nua, presos aos meus os teus lábios vermelhos,
(Lembras-te, Branca?) ardia a tua carne em flor...

(...)

--
originalmente publicado em Obvious
imagem: galeria Olhares

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

O nascimento d'ela verkitschen

se é isso, então vai. e realmente foi, só que nunca é segredo o que a gente quer guardar; a gente conta, a gente fica esperando a vida inteira pra sentar do lado daquele ouvido e dizer, aquele ouvido que só tá ali pra ouvir mesmo, que acha até que gosta de ficar e ri, chora, acha bonito ou faz o bonequinho viu com a história. ela daí foi mas sem dizer que não queria não o “então vá”, queria mesmo toda era ficar e fazer a coisa de sempre. então vá foi uma frase falada curta tão jogada... foi o estilingue que me caiu pra longe sem nem uma benção. durmo de olho molhado em tudo que é medíocre e flores porque agora também sou kitsch. sumo aos poucos, e multiplico tanto que delirei em dúzias de braços, transas e etílicos num barroco plástico. nessas horas eu realmente fui; todo segundo que passa eu de verdade fui: a paralisia temporal. quase ser no agrado dos olhos dos tantos todos que me rasgam, devoram e limpam a boca. abcesso de bom momento.
--
agradecimento
a Cris Simon e ao Usina, onde o post surgiu e foi originalmente publicado - agradecimento.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Da ansiedade


se aflição corroesse, eu era um navio afundado.

Tira
a cara de estupidez
Tira teu tédio
Tira a culpa do casado
Tira os olhos d'um vizinho
Tira a chave debaixo de tapete
Tira meu medo
Tira
Tira teu erro
Tira cedo
Tira nossos
Tira novas concepções de dor
Tira fitas de cabelo
Tira aquela
Tira resto

Tira um instante
Tira de ouvido
Tira volúpia
Tira volátil
Tira destro
Tira sem afeto baixo
Tira afago
Tira à gemidos
Tira os pais de casa
Tira minha calcinha
--
requentado de 30 de março

domingo, 16 de setembro de 2007

Ato contínuo do morto

1
colocou o copo dentro dum pires de plástico que tinha e provou antes pra ver se tava bem misturada, fresca. a água! tá boa? ótima... não precisava de pratinho. e bebericou com os olhos arregalados olhando, não se sabia porque. pensou que era o teto. vai, anota. ela pegou a conta da light e continuou escrevendo três claras. onde tá escrito anis, coloca essência de baunilha porque vai dar certo do mesmo jeito, deixa eu ver aqui... que letra é essa? m? eu não entendo os garranchas da Aura. aqui... é m, é m. a chuva entrou pela porta aberta e a água que escorria da calçada ficou em cima do chão com um palito de picolé da rua, junto com ela entrou o pai com sangue na cara e os dentes que ficavam caindo no lábio.
pai!
tá pegando.. tá pegando... caí... caí da caixa d´água..

e eu fiquei olhando pro rosto dele quase preto com sangue e molhado e a testa fugindo pra lá e pra cá perdida. achei tudo um pouco estranho e a gente foi pro Souza Guiar até que o meu pai morreu querendo fechar um registro verde.

2
ficou lá em frente da porta chupando o cigarro como se tivesse tomando vitamina de abacate no canudo. pensou na história do apendicite e que salvava um casamento porque não era amigo da onça. dava uns trocados pra menina, ia pra casa assistir a novela e dormia o feriado todo. Gonçalo tinha arranjado uma prostituta. Na Gamboa só nascia prostituta e manicure naquela época, mas o Gonçalo preferiu uma prostituta da Gamboa que não era bonita mas ia lá que ele dizia que era sem ninguém, nem pai, nem mãe porque era um estúpido muito conhecido. Tinha levado sopa em pó certa vez e não se achava canalha porque tinha roubado da dispensa. ela não aparecia, passava das cinco e meia, Barão de Teffé, 306, e tinham umas bandeiras de países na fachada, já ia quase embora e topou no elevador. deu os trocados, contou do apendicite, foi pra casa e viu novela com a mulher. Elisa tinha uma mancha estranha no pescoço, uma vez no bar chamaram ela de malhada e agora a sua mulher não era mais Elisa, mas malhada pros amigos, pelas costas dele; às vezes pelo lado e ele fingia que não ouvia enquanto rodou a última folha no mimiógrafo.

3
mas ele tá bem? tá... tá bem. ela embrulhou o estojo de agulhas e puxou o peso de durex com o cotovelo, tentou cortar a fita, esticou demais até a segunda vez, que deu certo. ele pagou, ela deu três balas de tamarindo de brinde, ele agradeceu e ela mandou melhoras se chateando depois consigo porque ria sem querer, ria sem vontade.

4
turco filho da puta! uma menina minha e eu achando que você era como se fosse meu irmão!

5
arrastou o peso de durex com o queixo e segurou o embrulho com uma mão só, puxou a fita e cortou. pensou que a desventura era o acaso da aventura mas que queria mesmo era rir agora, não rir amanhã ou ano que vem lembrando do que de ruim tinha sido, rir no ato contínuo. ele pagou, ela estendeu duas balas de manga ou laranja (os dois pacotes eram amarelos), ele bateu a mão no botão da camisa, ela agradeceu, ele deu boa tarde. quatorze dias depois ela atravessou duma rua pra outra e ele puxou ela pelo braço e deu um beijo com a língua que parecia que a mão dele ia entrar direto no sutiã, quase entrou dela chegar em casa com tanto engasgo que teve febre pensando que a mão devia ter entrado.

6.
Eu queria tudo diferente... às vezes eu acho que esse cheiro não vai sair de mim e do cabelo. Isso me espanta em você, e acendeu um cigarro, foi pra junto da janela exatamente quando passou um Maverik vermelho escrito vendo raridade. Te espanta porque não precisou comer os ovos empanados do boteco, o moço me dava até um refresco de graça, junto com ovo... ovo cozido empanado, ovo à milanesa e um refresco bem ralo de maracujá. Só queria tirar o cheiro de peão de obra. Não sinto, nunca senti, não gosto de você assim. Riu de novo. Ri... ri que eu te prefiro, ri até com os dentes, Clarisse. Ficou d'um sussurro que se estendeu fresquinho pela sala e puxou uma mecha de cabelo dela com outros dedos da mesma mão de cigarro; prefiro você Clarisse à Macabéa.

sábado, 15 de setembro de 2007

Descrições rápidas do dia d'hoy

1
Ida para Ipanema. Chegada: Barra da Tijuca. O resultado foi um atraso de duas horas. Liguei: mãe! Estou perdida!! Mas como você conseguiu? Você não viu que o ônibus tava fazendo o itinerário errado? Achei que você tivesse desmaiado, só foi lembrar do que fazer quando chegou na Barra!Ao psicoterapeuta: mas por que isso acontece? Você acha que eu faço de propósito?

2
Dentista: sumida! Você faltou... bem.. está tarde, acho que não vamos ter como te encaixar.. pode ser pra terça às 15 e trinta? Não sei...

3
Dois ingressos pra peça do Melamed. Flávia disse: a gente vende na fila, é tranquilo. A vendedora dos ingressos disse no guiché: a chegada é às 7 e meia. Chegada: oito e 20. Com o dinheiro gasto atoa eu compraria um livro.

1,2+3
desventuras são aventuras? eu realmente achei que o ônibus fosse dar a volta, mas quando ele chegou na Linha Amarela, vi que não fazia sentido. também não como direito faz tempo. estou tão magra que dizia ao Bruno que um nu meu ia interessar só prum coveiro.

Lista de livros necessários pros próximos meses
Eça "A Relíquia" (parei no meio, perdi o livro)
Eça "O crime do Padre Amaro"
Balzac ... a escolher
Kundera... a escolher
Clarisse Lispector "A hora da estrela" (reler urgente)
García Marquez ...a escolher

esperando a peça do Melamed acabar (pra ver a Flávia, dava pra ouvir a música e as pessoas rindo do lado de fora, daí eu fui pra Praça Quinze, tava tendo um show do Alceu Valença, mas eu não achei o Bruno porque tinha muita gente e ele não me ligava de volta - talvez pra preservar a intimidade), CCBB, vitrine da Livraria Travessa, fotos, frustração e ninguém atende o telefone. preciso d'uns amigos às vezes, acho. não tenho me sentido realmente bem.



Flávia (22h, luneta e sapatos vermelhos)


Rapaz olhando/sobre os livros e dvds

--
desventuras são aventuras?

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Desventuras são aventuras ?





quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Jabberwocky


Ó fragúndio bugalhostro, tua micturiação é para mim
Qual manchimucos num lúrgido mastim
Frêmeo implochoro-o, ó meu perlíndromo exangue
Adrede me não apagianaste e crímidos dessartes?
Ter-te-ei rabirrotos, raio que o parte!
(Prostetnic Vogon Jeltz)



descendo sempre de_cadência, tem meu samba
pra me/te/lhe/se/consigo confundir qu'eu pego e barroco tudo
pra que senti-do-sentido pra fins sufixais? d'advérbios de tempo:
nunquista!
oh motivo? quem precisa de motivos quando se tem a mulher maravilha?
chove assim que terminar a escova infinitiva

terça-feira, 11 de setembro de 2007

O morto (still life)

Eu ficava sufocada no Barão de Tefé, tinham aqueles vidros parecendo almofada, o sol batia e o hall ficava entre os mais decadentes, até em dias de chuva... Contava as moedas e separava umas quatro pra sinuca, tinham de ser quatro, se não desse, completava lá com quem fosse porque homem naquela epoca ainda não tava em falta. Depois da escola (isso foi bem antes) eu passava o pé na rua, o calcanhar mesmo, fingia de ralado, ás vezes sentava o joelho inteiro no chão e ia pro Servidores chorar pros médicos porque achava tudo muito limpo, mesmo a comida de sal dos doentes. Puxei uma toalha de dois palmos de dentro da bolsa e tirei o suor da testa pra espantar o sufoco do Barão de Tefé, olhei pros vidros e pensei que não serviam nem pra retocar batom. Passava a mão no quadril e não achava mais nem uma nota mas pra lá não ia voltar e ele era um moço pouco curvado, ia ajudar, tinha levado um pacote de sopa em pó e já jantava pensando nos quatro dias de antes. Pai.. vai tomar um banho e, numa limitação hermética, coincidiu as casas do botão que tavam erradas e voltou pra dentro o pai, diferente da sopa que agora queria sair pra arejar, pra saber se era verdade que o mundo todo era um cheiro só de suor guardado, cimento e marreta de bater pedra. Fiquei clamando o elevador uns dois minutos até ele aparecer e disse denovo que não ia voltar hoje até que deu o sinal de térreo e ele apareceu atrás da madeira e da grade também acendendo cigarro de dois de mais nervoso e mais calor que a quentura q'ueu sentia. Depois continuou lá mudo, eu querendo entrar, você mudo e dois cigarros juntando cinza: não saía. eu vou pro 3, você informou igual uma balconista e eu perguntei qual três, nem sei de onde. Pra que quer saber, e ela até cuspiu mais do que o planejado. 306? Pombas mas a vontade de fugir parecia vontade de sair correndo e fazer xixi, ia embora, decidiu que voltava e voltava porque precisava fazer xixi e porque não sabia ficar dum modo direito, tinha medo de homem, se arrastava pra todo lugar por causa do gosto do suor velho que tinha ficado na camisa. Mais a sopa. Ele teve apendicite mas vim avisar pra você que podia precisar dumas notas pra Coca-cola. Não vem? Eu fiquei com os olhos tão cheios de água que não sabia se era alegria, tristeza ou era o pensamento já na Coca gelada. Pegou o embrulho pequeno e voltou pro armarinho, vestiu o avental e foram os dois cotovelos pro balcão esperando dar as sete com a chuva caindo e enchendo. Credo, tua morta! A outra sacudiu os dedos dos pés e continuou. Não voltava mais no Barão de Tefé, não ficava nunca num namoro e assim tava bom também. Acho que quase oito meses depois meu pai foi pra gaveta de concreto (foram partilhar) e o corpo não me largou nunca mais porque eu era eu e era ele que nem bucha vegetal tirava aquele cheiro do gosto do morto, de água, de pedra nem de pó de parede.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

O morto

Se fosse estranho você podia até parar de rir! Quase rosa, inclinada na mesa, ela balançava o queixo e o pescoço, mostrando a língua branca. Eu queria parar de andar feito gente o tempo todo, minha mãe dizia isso e eu nunca acreditei. Paremos, paremos, quantos anos ela tinha na época? Quinze... quinze e debochada. Eu olhei pra sua cara de casado, não posso esquecer, logo vi que você era casado. E a sua? velhos 23 anos numa curva embaixo dos olhos... de separada. Ela subiu novamente na poltrona mas riu menos, desfez os pontos do crochê por tédio.
Eu queria tudo diferente... às vezes eu acho que esse cheiro não vai sair de mim e do cabelo. Isso me espanta em você, e acendeu um cigarro, foi pra junto da janela exatamente quando passou um Maverik vermelho escrito vendo raridade. Te espanta porque não precisou comer os ovos empanados do boteco, o moço me dava até um refresco de graça, junto com ovo... ovo cozido empanado, ovo à milanesa e um refresco bem ralo de maracujá. Só queria tirar o cheiro de peão de obra. Não sinto, nunca senti, não gosto de você assim. Riu de novo. Ri... ri que eu te prefiro, ri até com os dentes, Clarisse. Ficou d'um sussurro que se estendeu fresquinho pela sala e puxou uma mecha de cabelo dela com outros dedos da mesma mão de cigarro; prefiro você Clarisse à Macabéa. Não sou nada não... Ele puxou outros pedaços de cabelo, ela se abriu ampla como um flamingo. Ele refez, ventou e se depuseram pro amor.

sábado, 8 de setembro de 2007

atualização às 23 e 57. sem febre.
mas porque fala de você na terceira pessoa?... ela.
é só pela prerrogativa do talvez não seja eu. é improvável que a história seja minha.

but that joke isn't funny anymore...
I've seen this happen in other people's lives
And now it's happening in mine

acostamento
era porque ela não tinha relógio e, se tivesse, nunca ia aprender a ver as horas se não fossem digitais. assim, não foi por preferência, como alguns percebem, foi por um engano sensorial de demora, de alongamento dos segundos no momento mais errado. segurou o alumínio do ônibus numa forma que ficasse segura - imaginou - contra freios bruscos e esperou por exatamente E²=m.c até que o moço parasse de lhe passar os quadris quentes de calça jeans e vontade. por que ficou então? por que não deu grito? quando o barulho acorda essa ida pra escola? explica talvez, ainda passante, que estranho seria impedir um segundo estabelecido de partir embora, como se tempo fosse corrente e inescrito. foi gentil como ainda é hoje; d'uma gentileza franca e trágica. a verdade é que, mesmo se acreditasse em grito, não ia ter coragem de fazer (o) como fazia bem silêncio.


A mulher de 21 anos quer beijar todo mundo, seduzir todo mundo, viajar com todo mundo por todo o mundo, conhecer todas as tribos, dançar todas as músicas, comer todas as comidas, beber. Vai pro motel com o sócio do pai. Vira a sua amante. Ele é maduro, gostoso, tarado e divertido. Tem 30 anos a mais do que ela.
Aos 22, seu hobby é provocá-lo, quando ele e a mulher jantam na sua casa com seus pais. O que ela faz sentada na mesma mesa? Absolutamente nada. Nem olha. Nem fala. Como uma mocinha emburrada. Pára de sair com ele, depois que ele no motel a chamou de criança mimada.
(Marcelo Rubens Paiva, "A mulher de")
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fui derrubada por uma virose, ficou um recorte que é o que vale mais a pena.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Corpo de texto

falo assim direto num vento que é pra não demorar, pra arrepender.

pra incompreender, eu pego e barroco tudo.


Imagino que, como se fosse água de chuva empoçada, esperava embaixo mesmo de uma baita chuva que fazia poças ao redor. Assim ninguém saía de casa, ninguém na rua, ninguém ia sair pra ouvir música pra ver nada, nem luz porque chovia pros cabelos grudando nas orelhas.

corpo de texto
o que saiu da roupa na água foi tinta verde azul, um verde azul claro meio desbotado - quanto como cal - mas fica forte depois. foi só colocar as mãos dentro do balde pra passar a cor pelo papel esfregando com as palmas o chão. entre uns cochichos e outros apareciam desenhos sem planejamento que foram expostos conforme algumas pessoas gostaram. eu daqui, pessoalmente não tiro esses vestidos, fico deixando a cor das estampas, das formas todas que formam e pontos, traços linhas, deixo elas indo cair pra longe e molhar outros pés que conheço, desconheço ou encontro na esquina. não tiro e não mudo, mal escolho, vou só pra cortar as arestas, bordar algo aqui, um botão pra perto da gola, uma bainha ou aplique de flor. entregas toda hora, às vezes demora uns dias, toda hora, qualquer uma assim... randômica! hora, roda, alinha-vão, colchete, manga, morango, limão.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Quermesse

Meu boa noite senhoras e senhoritas
/ com minhas fitas vou fazer você chorar
(Eu fico triste) pensando na minha vida
Quand'eu morrer o mundo pode s'acabar

s'acabar
s'acabar
(cancioneiro)

Pegou na mão mas não acreditava que realmente tivesse uma mão entre as suas duas e, não só uma mão qualquer, uma mão macia cheia de calos. No fundo tudo ficou vermelho, amarelo e novamente o escuro porque não ia ser a sua cidade mais. A mãe gritava no princípio e ele estarreceu em 13 anos de idade completos por um medo absurdo de ter uma mão macia de calos bem em cima da sua, bem num dia da santa. a moça afundada num mundo de cabelos que ele nunca ia mais ver igual chegou rápido perto do seu nariz e encostou a boca qu'ele encostou as costas no muro do único lugar escondido que encontrou e não sabia que ia ter língua passando na sua, foi quando se contorceu pra sair correndo depois (de mais medo), mas nunca saiu do lugar. Foi então, um bom tempo depois, que percebeu que duas pernas cheias de coxas mandariam nele pra sempre como mandaram desde que todos pegaram o ônibus e ele nunca mais viu a cidade como ela era sua daquela vez ou naqueles anos. Tinha olhado pra ela e fotografando com os olhos pra não esquecer, também aos prédios, e tinha deixado a língua da moça subir na sua pra nunca largar errado a letra"e" no meio das palavras: que era "é".
O senhor passou a mão na minha perna? Era pro que servia desamarrarem, amarraram pelo pulso pro soro não escapar da veia. Eu? Não.. Sim, o senhor. Qual o seu nome? Catarina. Não.. o seu nome Jussara, passei a mão na perna da Jussara.
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imagem de hkajiura em flickr

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Deus e os pedaços faltando

Um cientista chegou no céu e foi direto à Deus:
- Deus, vim aqui te avisar que você tá dispensado, não precisa mais ficar se preocupando com mais nada porque o homem já consegue fazer as mesmas coisas que você fazia desde o início. A ciência já consegue criar a vida, essas coisas.
- Puxa! - Deus ficou embasbacado - Interessante...! dá um exemplo aí

- Ah... nós podemos criar o homem do barro, assim, é simples.. é só juntar aqui..

- Ei, ei, ei! Vá arranjar a sua própria terra!
[d]eus como arremendo de tempo
depois da manicure pentencostal ter tirado um puta bife do meu pé só porque, numa distração perigosa, deixei escapar que não acreditava em [d]eus, tive um debate interessante com a Renata e a Juscot sobre esse assunto (obs: incrível como elas nunca me chamaram de tia). a Juliana estava um tanto histérica tentando reconstituir de onde veio isso tudo e pra onde iria isso tudo (usaria RioCard?) passando as mãos na bochecha, puxando os cabelos.... questionava que, se algo - um troço - explodiu ou se expandiu, de onde ele veio? o que fez o troço? conclusão: comemos um biscoito novo de mandioca e colocamos deus no pedaço que ela não conseguia mais ver daqui. assim.. deus como um remendo do que não sei onde começa.
daí cheguei em casa e lá estava o quase filósofo Rafael, muito paciente que tem sido comigo nesse pouco tempo que nos conhecemos, que me ouviu, destacou o quando [d]eus era desencanado e ajudou a reorganizar certas idéias (e D era deutério). foi assim que surgiu esse gráfico-esquemático-des-explicativo sobre [d]eus como um tapa-buracos para setores selados à vácuo. Espero que gostem e cliquem na imagem pra vê-la em tamanho maior.

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charge: Deus segundo Laerte
esquema principal: The Age of the Universe with new accuracy em WMAP Mission.
Inflação cósmica: In physical cosmology, cosmic inflation is the idea that the nascent universeexponential expansion that was driven by a negative-pressure vacuum energy density.
CMB: In cosmology, the cosmic microwave background radiation (most often abbreviated CMB but occasionally CMBR, CBR or MBR, also referred as relic radiation) is a form of electromagnetic radiation discovered in 1965 that fills the entire universe. (FONTE: en.wikipedia)

colaborou e co-produziu com deutério e outras dificuldades Rafael Santana do Aletômetro.
a manicure nunca mais voltou, acho que está de mal.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Martha

do filme de 1966
Martha: Seu porco...
George: Oink, oink
Martha: Amor... me faz mais um drink?
George: Meus Deus, você podia parar de entornar, não podia?
Martha: Ora... estou com vontade de beber!
George: Jesus.
Martha: Veja, querido, eu posso te beber em baixo de qualquer porcaria de mesa que você queira então não se preocupe comigo.
George: Eu já lhe dei o pagamento anos atrás, Martha. Não há uma premiação sobrando que você já não tenha ganho.
Martha: Juro, se você existisse, eu me divorciaria.

do dia em 2006
já tínhamos tudo planejado: do início confuso (a questão de sermos amigos) até a terceira separação amigável (eu vou fingir bem a conformação) onde você vai ficar com nossos filhos e eu com a conta do analista dos nossos filhos. somos um futuro casal infeliz tão perfeito que não começamos já por medo de provocar um desequilíbrio na ordem natural, mas isso realmente não importa porque eu sou teimosa. nunca consegui esquecer a primeira vez que você me disse "nonsense, Martha"...eu às vezes tento esquecer mas é o que fica, é o que fica junto daquela vez no museu de arte que a gente queria invadir uma festa do jardim, culminamos em muita bebida e eu morta de vontade de fazer xixi, você disse que ia fazer cabaninha junto duma árvore. daí fomos rodar na chuva cantando "who's afraid of virginia woolf?". acho que realmente isso não interessa às pessoas aqui como tudo que é meio público particular, a nossa infelicidade futura. talvez eu só quisesse escrever algo diferente do samba duma nota só, muito diferente de como eu me sinto no seu colo e você perguntando estou com cheiro de cerveja? não... você tá cheirando a você. daí você riu e perguntou. não sei...acho que é como cheiro de você. na nossa frente tinha um casal de rapazes se masturbando mas, definitivamente, não somos voyeurs. No outro fundo ela cantava: i dance like the wind! e eu pensava que não sei se é mais irritante ser pragmático ou ser esquizofrênico.
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Quem tem medo de Virginia Woolf? , peça de Edward Albee e filme de Mike Nichols.
postagem desinteressante e mal escrita

domingo, 2 de setembro de 2007

atualização às 10 e 35am: o queijo suíço (republicação às 3 e 48pm)
de criação randômica de-mente igualmente conteudada, o Limão tem passado à samba d'uma nota só. tanto autista, tanto esquizofrênico, com certeza encriptado demais. onde o sentido do escrito vai? vai parar? cada um toma o que quiser e faz de seu mas não acredito que o auto-mutismo seja o melhor dos programas.
a nota parada repetida estão sendo esses dias de seis aplicações de insulina, num gráfico glicêmico que parece não melhorar principalmente quando eu olho pro lado e (juro que é de repente) há um drink de vodka com morango ou com melancia na minha mão... não sei como ele pôde parar lá, mas está, ou estava. e um clima de doença que parece a tal nuvem negra dos pentencostais. estar doente é um conforto; faz tempo que não me arrasto tão indulgente com tarefas numa copulação de preguiça, dor e perda de peso. assim continuo com esses dias onde escrevo menos e sobre a mesma coisa, sobre só os rumores talvez cochichos que têm se espalhado e virado umas coisas mono que eu quero muito ouvir, dialogar pra rarefazer mesmo.

A falta da janela aberta

notas
eu quero que você fique porque estou ficando cega.
como está seu olho?
chorando
se me desencontro mais, me perco.

janela aberta
ficou olhando no espelho no intervalo entre uma refeição e outra (sempre, sem vírgulas) realmente pensando que estava mais magra, que os dias que passava infame dando goles e beijos cada um mais aleatório que o outro e até pagando as contas de luz, procurando emprego de um lado pro outro, cansada e magra. o olho fundo não tem a poesia dos olho de queda onde os homens se perdem; os olhos 'tavam tão fundos que tinha até aviso pra que ninguém caísse lá dentro. calhou d'eu passar na hora e ficar olhando ela olhando pra ela e se achando magra. virou pra mim, riu e disse que saúde é de perder igual tarracha de brinco... um vestido só alinhavado pra apertar mais depois e acompanhar os ossos que iam desmilingüindo no papel de doente. quem mais ia aparecer pra visitar? eu abri as janelas e ela sentou no sofá quieta como se fosse católica: quem mais sofre é a falta de janela aberta... o vestido e aquele tom de voz que parecia uma senhora de tão antiga. quase tive vontade de chorar porque ela era cortante como flor amarela e agora de vestido branco ou azul dependendo de como a luz batia. passa essa boca pra lá que eu abro sempre as janelas, isso é pra insistir! e o espelho ali em cima das coxas, pegava a mão e esticava a cara em direção às orelhas. depois encostou o pé no cachorro e dormiu pedindo um embalo, foi como se eu tivesse andado cansada e teimosa. guardei nossos laços com o cuidado de sempre e cantei baixo até chover aqui dentro.
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imagem: il medo di flickr

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