sábado, 30 de junho de 2007

Era ainda agora...

sob a murta e flores histéricas
o Limão não é um blog, não é não... é uma criação (uma surgeção) randômica de-mente randômica instalada no blogspot. ai... isso não entretêm. não forço ele a ser assim - me esforço justo pro contrário. mas fico cheia de recusas, não quero falar dos meus dias de ontem ou transontem. me sinto como comentendo um crime: narcisismo. o Limão n'é nada além dum lugar para onde os pensamentos podem fugir e o que traz a angústia é que, por vezes, fogem os pensamentos errados, os que não queria, os que deveriam ter continuado lá quietos na deles, sem dar ares de graça ou desgraça. mas eles se organizam em palavras, em palavras em filas que eu não gosto. não escrevo pra mim, elas (as palavras) são de indiscrição. se o Michel Melamed viesse me perguntar (ele não virá, suponhamos só) se ele viesse me perguntar pra quem eu escrevo, eu diria pra você (secretamente diria pro poeta). não escrevo pra mim, preu me ler, escrevo pra espetáculo, pros do outro lado das polegadas (ego, delicioso ego) escrevo por mim. Michel, escrevo por mim (acabou de me ocorrer) pra fins exorcísticos. porque as palavras moram em mim como uma possessão, têm vida própria, asas e se ultilizam de violência pra sair. elas são os pássaros do Hitchcock.

uma calmaria lá no alto
daí tudo se acalma novamente pra podermos ouvir. ficou calmo, o poeta voltou, eu me embebedei, conversamos, você disse num momento em que refletíamos sobre o que eu ia dizer: "se você ficasse eu ficaria e ficaria na chuva no sol sós nós os girassóis o mar o canto da sereia. e preencheria o espaço do teu silêncio com o meu silêncio kafkiano contemplando teus mistérios, pois em segredo te amo". depois disso eu caí (de sono ou num sono) porque todo segredo deve ser mantido atrás da boca, toda paz deve estar na parte de dentro das portas e nenhum mistério nos têm desvendado. as palavras foram somente suas e mais uma vez, deliberadamente, roubei (as) numa tentativa desesperada de escrever no outdoor que tem aqui em cima da padaria em frente de casa, que sou como a baleia assassina presa à baía, numa armadilha. (baleia assassina presa à baía numa armadilha...)

breve aporte
Pri... fui expropriado! Ora essa, incrada em Santa Teresa? Levaram o meu carro! Meu amigo, digo por aqui também que sinto muito. Não sinta... Sinto... Se você fosse ainda comunista poderia já ter seu consolo desde o primeiro instante, podia dizer como o pai do Woody Allen no Annie Hall: deixe roubar! ela é pobre, é negra, não tem oportunidades; se não roubar de nós, vai roubar de quem? Incrada em Santa Teresa: como foi isso? Eu saí de casa, olhei em volta e fui tomado por um sentimento de orfandade...

sexta-feira, 29 de junho de 2007

Nas flores

silêncio
se eu ficasse, ficaria de boca calada. e de dedos calados que é pra não pegar no papel, não escrever carta. se eu ficasse, ficaria tão de boca calada que era pra não te assustar, pra não te escapulir... mas fugiu! gritei, corri na chuva, montei bicicletas, subi nas árvores, mas fugiu... gritei.
meu pássaro colorido, meu poeta dos girassóis, eu sereia, e quem vai longe é o mar. gritei o que não era mais mistério, me desvendei.

son[o]s
Eu queria ter cabelos bonitos... não tenho. Sim, são bobagens, mas queria ter um teto pacífico. As idéias se vêem sob essa murta, sob essas flores histéricas e não se sentem nada confortáveis. Dizem em coro: só há paz nos seus cachos, mas os cachos se desfazem! Queria um chapéu, me esconder. Sorte minha que as pessoas não sabem que sempre chego atrasada porque estou ralhando com meus cabelos. Seja bonita Clementine!! Não seja feia! Eu continuo ralhando comigo mas... a transformação não acontece. Só nas minhas fantasias... Na minha imaginação não sou nada do que sou, nunca. Na minha imaginação eu sou sempre eu, como eu era desde qu'eu nasci.

papai-noel
Foi na época do Natal. Eu cheguei na clínica, entrei na sala. Bom dia. Era cedo, ainda não sei como consegui acordar cedo. O médico perguntou como eu estava, me pediu pra sentar. Mal. Por que acha que está mal? Eu esperava alguma outra pergunta.. como ia imaginar que ele fosse freudiano? Porque cortei os pulsos. Ele não se impressionou. Tentei colorir (de bom vermelho) a história, dramatizei... o ele não deu a mínima.
Ainda não consigo me dizer como foram aqueles dias, me esqueci e é como se nunca tivessem acontecido. Estive no inferno e lembrei de você. Pronto, foi a única notícia que recebi de mim mesma até hoje. Vagamente me vejo tentando assistir às aulas, mas com muito sono, e muita sede. E me lembro de ter desmaiado no baheiro, de ter batido com a cabeça no bidê e depois chorado muito. Vagamente... e dores por todo o corpo. O outro médico era judeu, me disseram isso depois mas nunca soube porquê. Você acredita em Papai-Noel? Não... Pois devia...ele me trouxe você de presente. Cheguei em casa e comprei duas garrafas de cerveja pra esquecer que ele tinha me examinado antes.

quinta-feira, 28 de junho de 2007

O dia ficou igual a tarde de ontem

tree that grows hearts
Aí acabou que o dia ficou igual à tarde de ontem:
uma luz, um sol, quente. terminou com a viração. Fiquei segurando o papel com o cotovelo pra ele não voar, mas ele voou. Papel é folha, não resiste ao vento de fim de tarde e se joga da árvore. Logo eu... que me pensava pé-de-corações, pra cada fruta que arrancavam, logo tinha outra. Voou a carta com tudo o que eu tinha escrito. Calcula-se que, ao final, não se perdeu absolutamente nada.

noite de ontem
não há mistério a ser desvendado
o pano amarrei fui eu, com um nó na nuca
pra não ver que o mistério todo se ri

explicação
porque fico... reticente.

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Beirada de escada

bondinhos e transeuntes
de perdição
perdida,
foi quando te encontrei
foi de render
era amor pra bordar
pintei

lembraças estranhamente lembradas: aula
olha... eu não acho que não daria certo nós dois... você é comunista! e também acho esse seu papo muito canastrão.
tudo bem, tudo bem... eu entendo, você tem razão. mas será que eu não podia só transar com você? é só sexo. só quero comer você. juro! é verdade!

beirada de escada
e fiquei sentada na escadaria, tentando barrar o vento com os braços. o sol ultimamente têm se posto muito rápido e começa a ficar frio pacas. eu nem trouxe um casaco! essa vontade estranha de sair correndo pra casa não é uma vontade de verdade de ir pra casa, é uma necessidade de encontrar você em algum lugar, não sei.. eu tinha dois olhos de onde saía muita água. mas por que você quer isso? por que? porque eu preciso beijar você, porque eu assistia novelas demais quando tinha doze anos e ficava sonhando de dia, de noite - até de tarde! - com o dia em que eu ia beijar, em que algum menino ia me beijar na boca. sabia que só beijei na boca com... quantos anos eu tinha mesmo? acho que com quatorze anos! o menino disse - bom, ele era já um homem, não um menino - "eu queria mesmo era te dar um beijo", pensei num tá bom, não estou fazendo nada melhor mesmo, já passei da idade, preciso beijar. beijei. mas não foi igual na novela, eu detestei. ainda estou esperando ficar como o beijo da novela; acho que quando eu te encontrar vou ficar querendo que você me beije como nos beijos da novela. escrevi tudo isso barrando o vento com o braço pra folha não voar. atrás tinha um poema do Gregório de Matos: nasce o sol e não dura mais que um dia. acaso. e fiquei com medo que você se entristecesse ao ler... mas é que foi a folha que eu tinha. o sol tava amarelo fraco no chão e ventava. meus dedos iam ficando roxos embaixo das unhas. eu tinha esquecido o casaco. fiquei com frio na escadaria e de camiseta verde.

terça-feira, 26 de junho de 2007

Sozialwissenschaft

laço
O que ela disse foi curioso:
prefiro ser sua escrava que ser escrava do sistema.

Essa história de sistema... Essas teorias da conspiração... eu não acredito em teorias da conspiração, são bobocas. Só acredito que as moléculas conspiram; os nossos genes, por exemplo, ainda vivem no Paleolítico e acham uma boa que ainda vivamos como naquela época em que éramos almoço. Mas... isso não vem ao caso.
Mas foi o que ela disse a ele: "prefiro ser sua escrava que ser escrava do sistema". Eu também. Prefiro morrer por alguém que morrer por algo.

ausência
As coisas ditas são sempre essa incerteza. E essa aqui não está para escritos. Fui morar numa casinha enfestada de cupins-pins-pins... e não vou sair de lá. Sei que uma lagartixa vai olhar pra mim e fazer assim.

Não há inspiração nem dia a ser contado. Nem música, nem foto... nem nada. Quero deixar tudo por um momento. Ou dois, talvez.

sozialwissenschaft
estava pensando no autruísmo... o que? Max, como o quê? Solidariedade Orgânica! ele me olhou e balançou a cabeça num sim, deu outra mordida feroz no sanduíche. desde que esses neodarwinistas vieram com essa história de genes, fiquei desiludido. ajeitei a gravata dele. ainda que... na verdade nem sei se o desgosto maior é para com eles, nem mesmo se para com o Èmile... talvez mais com o Guevara... com o Che Guevara?? sim... veja bem, a questão é nunca ganhei um poster com meu rosto estampado, acho isso frustrante. você sabe que não fico bem de boina. é difícil pensar no autruísmo quando Guevara tem o rosto estampado em camisas. entendo... mas pra quê pensar em coesão social com base em tradições reacionárias se você pode fuzilar? é como aquela música do Dr. Dre "we got guns so we not got stress"... exato, minha amiga! Max... esse sol nem se compara ao de Galápagos!

Bandidagem Zona Sul

Tudo bandido... Não há paradoxo entre o meu discurso e o meu repúdio; é o portrait da barbárie.

O Globo Online, TV Globo e CBN

Sereno

I left a note on his dresser
my old wedding ring
With these few goodbye words
How can I sing...?
Goodbye old sleepy head

editorial

A linha editorial do Limão andou confusa (descambada) nessas duas últimas postagens. Esse certo tipo de bagunça incomoda mas isso não importa de verdade. Na verdade, quem destoou mesmo foi só o Marvin.

sereno
como no jazz, no blues... importa chafurdar na mais densa e pública lama dos desejos mais egoítas. estar à noite, estar no sereno. jurar que já não se pode viver sem ele ou sem ela. beber e amargar melancolicamente os dissabores. dia seguinte é acordar bem cedo, é eito. só porque poesia, amor e drama nunca foi de comer.

few(?) words
Há uma frase atribuida a Oscar Wilde (me lembrei agora da Unciclopedia que atribui todas as citações do mundo ao Wilde) que diz: 'Viver é a coisa mais rara no mundo. A maioria das pessoas apenas existe'. Hoje acordei pensando nisso... e algo me vinha sem a menor profundidade mas com grande força quanto mais eu pensava nessa afirmação: bullshit!
Coloco minhas mãos fantasiosas na minha cabeça de imaginação e resolvo que só existir é bom e sábio. Minhas únicas ambições são pequenas. Sou marcadamente medíocre e tenho nisso certo orgulho. Tenho ganas por às vezes formar frases curtas que terminam com um ponto final. Mas... é que isso tem muito a ver com uma coisa de família... a minha família também é assim, é uma família de pessoas que só existem, pouco ambicionam. Ser medíocre é encontrar-se consagrado pela reprodução barata d'A última ceia ou d'A travessia do Mar Vermelho. É tudo duma pobreza quase indecente.
A necessidade faz com que se vejam as coisas de outros modos.. o agrupamento de pessoas necessitadas torna todo relacionamento familiar consuetudinário. Faz o medíocre tornar-se tão barroco que fiz aqui este espaço (subcripto e assignado). Gosto de só existir, de existir em realidades práticas e concretas porque elas me parecem confortáveis. Já foram tão ruins que hoje são dadivosas e se derramam sobre a varanda, os passarinhos na gaiola, a louça e todo o resto. Desprezo a política, desprezo o governo, a economia, a globalização, desprezo a estatização do racismo, desprezo a militância, e o engajamento. Quero existir em alienações. Quero o imediatismo e a esquizofrenia. Me rasgar por um drama ínfimo. Quero ser como se o universo tivesse tantos bilhões de anos, que minha vida vai se acabar já.
Nunca fui de grandes arroubos textuais, nunca soube fazer análises dos processos históricos totalizantes. Sou amante, nem poeta. Portrait.

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Marvin: o andróide paranóico

Com o cérebro do tamanho de um planeta, Marvin, o andróide de O Guia do Mochileiro das Galáxias é um protótipo da Companhia Cibernética Sirius equipado com tecnologia de Personalidade Genuinamente Humana (PGH). Possui uma inteligência 50 mil vezes maior que a de um ser humano, mas é, segundo o próprio, subestimado. Há razões para que Marvin se sinta assim: sua ocupação principal é a de (...digamos) hostess da nave espacial Coração de Ouro; deve receber visitas, fechar e abrir portas, servir e eventualmente enfrentar quaisquer outros tipos de seres que estão, invariavelmente, em maior número ou são, também invariavelmente, maiores e mais fortes que ele. Consta também que foi esquecido num estacionamento por 40 milhões de anos, trabalhando boa parte desse longuíssimo período como guardador de naves espaciais.

Marvin apresenta-se sempre num estado depressivo: desanimado, entre lamentos, cabisbaixo, grosseiro e egocêntrico. Isso explica e des-explica como tornou-se o personagem mais marcante da saga: seus prognósticos pessimistas e sua visão cáustica da existência são responsáveis por algumas das melhores frases dessa brilhantemente insólita história do genial escritor e músico Douglas Adams, já contada como série de rádio, de TV, livros e filme. O robô possui fãs por toda parte – há entre certo grupo (de depressivos?) um verdadeiro culto a este (in)simpático equipamento – e inclusive ele recebeu menção por parte da banda inglesa Radiohead, que gravou em seu álbum mais célebre, o Ok, Computer, uma música chamada “Android Paranoid”. Não estou dizendo isso para agradá-lo, asseguro. Eu, por exemplo, adoro o Mavin, mas ele não irá acreditar, tenho certeza. Sei que ele me detesta. Inclusive não há motivos para se deliciar com suas quotas:


Sobre a vida
Vida? Não me falem de vida
A Vida. Pode-se odiá-la ou ignorá-la, mas nunca gostar dela!
Gozado, justamente quando você pensa que a vida não pode ser pior, de repente ela piora ainda mais.

Sua visão das coisas
“Ei, Marvin, meu velho, como vão as coisas?”
”Muito mal, eu suspeito.”
Não finja que você está com vontade de falar comigo. Eu sei que você me odeia. Faz parte da estrutura do Universo. É só eu falar com uma pessoa que na mesma hora ela me odeia. Até os robôs me odeiam. É só você me ignorar que eu provavelmente vou desaparecer do mapa.
Eu estava muito entediado e deprimido, aí me liguei na entrada externa do computador. Conversei por muito tempo com ele e expliquei a minha concepção do Universo.
”E o que aconteceu?”
”Ele se suicidou.”
Isso de nada adiantará, vamos todos morrer... se tivermos sorte!

A natureza
“Tinha oceanos?”
”Se tinha! Oceanos enormes, com ondas bem azuis...”
”- Não suporto oceanos...”
Em infravermelho posso ver,
como odeio a noite

Sobre si
Você acha que VOCÊ tem problemas? Experimente ser um robô maníaco depressivo...
"Ah,vou bem" disse Marvin "se você por acaso gostar de ser eu,o que eu pessoalmente detesto."
Minha capacidade para ser feliz poderia ser colocada numa caixa de fósforos, sem tirar os fósforos antes.

Os outros

Só ao tentar me colocar no seu nível intelectual, fico com dor de cabeça.
"Diga-me" perguntou Arthur "você se dá bem com os outros robôs?"
"Eu os odeio."
Gostaria de dizer que é um grande prazer, uma enorme honra e um privilégio para mim inaugurar esta ponte mas, já que não estou com meu chip de cinismo ligado, quero dizer que odeio e desprezo todos vocês.
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originalmente publicado em Obvious

sábado, 23 de junho de 2007

Deux fois, deux dames (danse)

le fox
Nada foi ofensa... invejei teus sabonetes desde o primeiro dia. Desde o dia em que seu telefone tocava na bolsa mas você não estava e eu fiquei apavorada de ter de mexer nas suas coisas e desligá-lo. Depois você berrava nos corredores de pedra e ferro: não quero seu dinheiro, quero você! E fiquei impressionada com seu fôlego e roteiro. Hoje você acha que foi ofensa e tudo o que eu fazia era invejar os teus sabonetes enquanto conversávamos sobre o frescor que eles te trazem (mesmo que frescores somente prometidos pelos fabricantes)... Tenho nutrido sempre os sentimentos mais díspares, num afasto e outro que quero por perto. Talvez porque você me confunda, talvez porque você me veja demais, mais do que deveria e assim me conhece.. .você não deveria ser das pessoas que me conhecem e isso me assusta. É diferente, é igual... é desejada e eu invejo... é desajeitada e eu me preocupo... está aqui mas não deveria. Tão fora de lugar. Hoje comprei um difusor porque quero cachos assim como os seus, onde há paz e onde, ultimamente, há aquele rapaz irritante de quem gosto tanto. Fora de lugar Isabelle. Te adoro d'um susto que me faz gritar chorando, dormindo.

le waltz
Mas ele tem toda a razão... roubo as palavras. É que me parece que poucas coisas vão ser mais incríveis que virar uma rua e ouvir meu nome gritado, você de azul, eu de chapéu de palha, as ruas de paralelepípedo e tanta gente que, como é que você me achou? Também capuccino. Conheci a Flávia em baixo da cúpula do Centro Cultural e tomamos capuccino com você pagando (falida, falida...). Desde então foi isso... O dia na praia foi o inesquecível para melhor, o inesquecível pra pior foi quando eu fiz você se perder de carro à noite e ele, novamente, teve razão: Priscilla precisa de um GPS. Fiquei atarantada aquele dia... mas não quero falar disso. Na verdade, não quero falar de nada. E a peça com o Werner Schünemann de cueca(??) (risos) (vírgula) fiquei constrangidíssima! E a parte em que ele se declarava pra namorada "ah, essa é a minha garota... de programa!". E também a peça do Sérgio Brito em que você dormiu! Tinha aquele bilheteiro lindíssimo que achávamos que estava olhando pra nós mas, na verdade, estava olhando para o meu amigo com quem havia tido um caso (caso com o bilheteiro). Conhecemos um farol e lá em baixo no precipício tinham casas que pareciam que iam cair, mas não caíam. Numa outra vez, embaixo da mesma cúpula, eu paguei o capuccino e fiquei tentando entender o porque diabos você queria ser minha amiga. Daí te amei (já amava desde que você se ofereceu para comprar os ingressos pra peça do Michel... que louca! chuva, Copacabana... você se ofereceu pra comprar ingressos para mim e nem me conhecia). Daí ele apareceu e te amou também. Não tenho ciúmes, vou cantar: i know you love her.. i love her too, i know she likes you. Aquele dia na praia foi um dos dias mais felizes que já tive, porque na noite anterior eu tinha desaparecido de mim mesma.

contradança
você me tocando e me dizendo no ouvido pra eu ficar bem quietinha porque você ia fazer passar... escrevo meu sonho pelo mesmo motivo de poesia, por vertigens (por giros dos girassóis). eu sou só um in-vento que leva embora dezenas de nuves que te passaram aos olhos, te-livro, encanto num canto (90º parede e parede). se você diz, chega logo verão, então serei-a. tua sereia. numa felicidade dança e se diverte... fico bem quieta (o ar pára para passar pela boca) ... moço, passou - que só há paz nos meus cachos. apareceu só pra me roubar (o tempo verbal) (ponto) roubei-lhe então os poemas. re-tive-os. se se deu conta não sei... mas sentia falta dos nossos passeios e divagações em comum. incomum.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Findo

início
Extraí uma música dos arquivos pra te mandar. Se alguém está enjoado de ouvir essas coisas de guardar vontades, pode sair, pode ir ler outro lugar... aqui só tem disso agora. Pensei em escrever sobre o liberalismo, escrever um grande "soy a favor" no título sugerindo que o capitalismo não é filantropia, que a América Latina é de criar parasitas, que os comunistas deveriam parar de achar que o autruísmo é a ordem do dia porque nada nunca parece suplantar o ego de existir de dor ou de prazer... porque é tudo só seu. Só do eu.

fôlego
fiquei um tempo que não consegui contar pensando em diversos suspiros. ele ficou um tempo encostado numa das paredes (descascavam, aparecia a pintura cinza, mas era bege) esteve assim por uns longos segundos. nunca é fácil fugir de uma vontade de fazer algo que não era nada poético. ela ia assustar, d’um susto pediria que não tivesse mais fim.

apnéia
costumo tomar banho com um sabonete delicioso - Isabelle tem algo contra a dizer para os sabonetes cheirosos - e é bom como o mundo parece completo só porque meu sabonete é deu mel com raspa de juá. não paro pra pensar nisso, deixo ele ser só sabonete, só de um cheiro tão bom que o banho dura. semana passada o chuveiro queimou e enfrentei bem a água gelada. água gelada no inverno é de doer a pele, principalmente quando não tenho nada de chocante a dizer.... vontade de um grande tamanho, dizer aquilo tudo que eu decorei, não levem a mal. ai Isabelle... sorte que teus banhos são de um invisível mudo. sorte que teus sabonetes garantem um frescor que sua pele nunca sentiu...

sopro
separei minha vida em uns tomos. percebi que segredo bom deve sempre ser mantido da boca pra dentro, como que hermeticamente fechado no inconfessável. incompreensível.

fim do
você disse que sentia. eu disse que ia escrever, mas agora você está aqui e quero que tudo se dane. não quero escrever! desculpe leitor... é um egoísmo que me ataca sem mais nem menos, como uma bebedeira que te derruba enquanto você tenta disfarçar. então você tenta disfarçar mas fica...fica e quer ir, e quer ser a única pessoa a estar lá, fazendo absolutamente nada. gritando do alto da montanha e ouvindo o barulho engraçado que o eco faz quando sua voz se espalha entre uma brisa e outra. forte. vento. estilhaços de ar no que era pra ser rarefeito. agora se enche de sopros, suspiros, ruídos e rotações dos meus dedos entre os seus cabelos que tua mãe reclama. não corta. só agora tive coragem pra me aventurar...

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Aporte de um único tipo (citações profusas)

sempre fico
queria ir embora pra sempre... deitar no alto da montanha [ eu, a vitrola, o processo]. não estou te abandonando, moça... vou ali na esquina comprar um cigarro e já volto [se eu começar a fumar agora]. mas se eu for definitivamente [ o que acho que não vai acontecer ], se eu for, tu sabe onde me encontrar [ siga os balões ]

eu quero que você fique porque estou ficando cega.
como está seu olho?
chorando

já volto volta? volto. alguns minutos.

... Mas um dia volvi aos lares meus.
Partindo eu disse — "Voltarei!... descansa!..."
Ela, chorando mais que uma criança,

Ela em soluços murmurou-me:
"adeus!"
(c. alves)

então ele foi e começou a chover. chovia tanto que logo eu estava nadando. se ao menos tivesse aqueles equipamentos de mergulho que você falou... mas afogo em bobagens extensas, das que ninguém tá afim de saber. ainda não acho que deveria ter ouvido os conselhos médicos, sempre dando uma de Winehouse: você sabe por que está aqui? eu disse que não fazia a menor idéia, que ia perder o meu amor e é sempre bom ter uma bebida por perto nessas horas. daí o médico disse: "eu acho que você está ficando deprimida".
certa vez, quando eu estava deprimida e fui ver um médico porque sentia dores por todo o corpo, ele pediu meu telefone. cheguei em casa e tomei duas garrafas de cerveja pra tentar esquecer que ele me examinou antes de pedir meu telefone. mas...isso não vem ao caso. há ainda uma justificativa para as borboletas: tudo que é selvagem acaba por ser, maliciosamente ou cientificamente, retido. Durkheim me retêm, ele me falou sobre isso um dia (faz tempo) enquanto comíamos um sanduíche num pátio em Sorbonne (às vezes te acho louca. mas é uma loucura boa, maravilhosa! uma loucura bossa-jazz-blues-progressivo-tropicália-indie-folk). foi o que ele disse...

O medico disse a ela, anos atrás, que ela estava doente
O médico disse a ela, anos atrás, pr'ela tomar uma pílula...
O médico disso isso, há anos atrás, que ela ficaria cega se ela não fosse cuidadosa

eles deixaram Lisa ficar cega...
o mundo estava sob seus pés e ela estava olhando pra baixo
eles deixaram Lisa ficar cega...
mas todo mundo que ela conhecia achava que ela era bonita
mas levemente retardada
bonita, mas temperamental
bonita, mas levemente retardada
bonita
(beautiful, belle&sebastian)

terça-feira, 19 de junho de 2007

Aportes de todos os tipo


Breve momento de beirada

Quer? Ahhmm, não, obrigada. Parou de fumar? Não, não é isso (eu não fumo), é porque fico com medo de alguém me ver e me agredir. Mas o que aconteceu? É que tenho escrito muito... é isso. Escrito? Mas.. escrito o que? Literatura? Não.. só escrito merda (preciso comprar um maço desses...).

Breve momento de beirada (em outra beirada, onde tinha grama molhada)
Daí você chegou como se fosse normal, como num eu estou sempre disponível. Me beijou. E era de beijo e ruídos porque a saudade apareceu sem ninguém avisar, como aqueles caras que nos assaltaram certa noite (foi horrível). Quanto de ciúme que vai me bater quando você passar com a sua menina? Em quantas paredes você vai bater quando eu passar com o meu rapaz?

Num penso
Não importa o que parece estar escrito, não importa o que de fato quer ser dito. Quando você lê vira tudo seu: a palavra é sua, a frase, o poema, o sucedido. É o que você faz que é.

Contação de história
Eu estava fazendo mais uma visita à uma escola de tendência alternativa que se quer "crítica dos conteúdos". Não é isso que importa. Estavamos assistindo à contação de uma história quando reparei numa das crianças vindo na minha direção. Tive pavor como o ET do Spielberg. Ele levantou o polegar num sinal de positivo e eu não soube o que fazer; olhei pra minha mão, mas não saía nenhum sinal de positivo de lá, olhei em volta e não tinha niguém pra me salvar. Aí ele me cutucou com um dedinho de, no máximo, 5 centímetros. Cutucou a minha coxa: quer brincar de esconde-esconde. Eu?? Mas por que eu?? Mas ele não me ouviu, já tinha se metido atrás d'uma cortina e insistia pra eu entrar também, aproveitando antes pra jogar mais pano em cima dele porque dava pra ver os fundilhos. Juro que cogitei entrar naquela cortina verde com detalhes coloridos (retalhos). Cogitei, cogitei, mas algo tinha me prendido com concreto no chão, um vou não vou. Pavor como o ET do Spielberg.
O momento passa. A professora com cara de ser a mais rabugenta, com cara de ter sido a única a não se impressionar com o barulho d'um apito que imitava um passarinho todo amarelo, arrancou ele de lá de trás da cortina verde e retalhos, puxando pelo braço. Ensaiou um beijo afetuoso, mas eu desconfiei. Ficamos nos olhando por aquele tempo que leva prum tempo passar e eu ficava pensando quando é que nós iríamos conseguir nos esconder de verdade pra ninguém achar tão cedo.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Desencontros coincidentes (nunca acontece com quem não sai, sorte)

Pra lá é sempre estação das chuvas, é só cruzar a porta e sair. Sol mesmo é a des-hostilidade da parte de dentro das portas


Esta semana
Procurar um analista deveria ser a prioridade. Você reparou como tudo ia bem entre nós até eu te contar algo constrangedor capaz de pulverizar qualquer interesse de alguém por mim? Tenho pensado no porquê d'eu ter feito isso e a resposta é óbvia, porém aterra, daí não revelo. Estou tão cativa da inspiração que é tão sua (nossa!) que hoje [des]inspirei. Tenho expirado a cada minuto só querendo fazer confissões, pra ter tempo de pronunciar o nome do assassino. Eis a verdade: se me desencontro mais, me perco. Não por perdida, que já sou, mas por achar que só me encontro com você por perto sem saber pra onde vamos. Delirantemente. Alcolizada. Poeta não sou: amante.

A semana próxima
Impossibilitada. Nah, desliguei nossa conversa um instantinho pra escrever (olha que acabei de ligar novamente, quer que eu ponha sua foto, egoncentrismo que só encontro igual quando me olho no espelho!).... não consegui terminar de ler a Colleção de Leys do Império do Brazil, acho que é a prova (en)finda da minha incapacidade. Acho que deveria largar a História porque o ponto de vista panorâmico me escapa. Dizem: a maioria das pessoas simplesmente existe. Não vejo mal em simplesmente existir. Impossibilitada. É como se eu fosse impossibilitada de fazer qualquer coisa que se mova. Isso é um blog? Por que falar de mim mesma soa como crime (ego). Vá, uma música nesse violão (que tem uma borracha no meio) porque o barulho do silêncio é alto pra cacete (play that again, Sam).

A semana passada (desatino)
A subjetivação do cotidiano, a exacerbação de seus sentidos, tem por base a seguinte linha: nada é mais poeticamente instigante, nem desperta maior apego, que o inútil.


Rememberância (presente, nunca reeditada, nem deletada)
Você demorava muito a chegar... mas daí quando chegou, vindo lentamente, o cinema cheio, pensei o que diabos estou fazendo aqui? Daí nos abraçamos e eu chorei porque você tinha demorado tanto que eu achei que nunca chegaria; parecia um afogamento porque eu afundaria p'ra sempre assim que você me soltasse, você afundaria p'ra sempre se me soltasse. As mentiras vieram depois, mas esse pedaço eu guardo como se fosse verdade porque se parecia muito com uma verdade. Depois conversamos sobre carpas e peixes-beta.

sábado, 16 de junho de 2007

Postagem

Num bom dia de sábado, enquanto arrumo a casa, deixo uma postagem sabadesca talvez provisória. Uma fita delicada que embala a (findada? finada?) semana dos namorados pros que costumam estar des(apaixona)(aponta)dos.

Belle & Sebastian cantam...
Jonathan David


e ela vai sorrir pra você
ela vai segurar sua mão
vocês vão se apaixonar, não tem outro jeito
e eu vou fazer isso também dia desses

eu sei, você gosta dela
bom... eu gosto dela também
eu sei, ela gosta de você
[isso] não é como se eu tivesse sendo mandado pra guerra
há coisas piores no mundo...

sexta-feira, 15 de junho de 2007

num grito tentei não dizer mais nada
desimportante que era
chegava de amor
chegava repetitivo
chegava sem festa
ficava sem roupa
num grito tentei não dizer mais nada
fala mansa, moça braba, sono solto

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Chegou com o amanhecer

episódios

#1
Quando amanhece, pras seis da manhã, eu acordo e me bate uma insônia terrível... de repente então durmo e só consigo acordar novamente (definitivamente) ao meio dia. Agora tenho conseguido acordar às 10h mas, mesmo assim, as pessoas reclamam que nunca conseguem falar comigo ao telefone esta hora.
Sei que fiquei pensando em cachos e comecei a me sentir muito mal, não por causa os cachos, mas alguma virose. Isso é um blog? Então qual o pudor de descascar e descascar, por imaginações à fio, eu? Porque parece crime. Fui pra cama dormir na parte da tarde e pensei nas hostilidades de quando ponho os pés no chão e o caos gira. Quando foi que comecei a ser tão vítima? Quando foi que começaram essas pedras imaginárias? Bem direto na testa. Pronto, o episódio acabou. Porque é muito chato.

#2
Sentada entre os dois, na cama. Alguém iria descer pra pegar o pão, ele começou a ler o jornal na cama e ela abraçou o outro porque fazia frio, também chovia do lado de fora, como sempre. Pra lá é sempre estação das chuvas, é só cruzar a porta e sair, sol mesmo é a des-hostilidade da parte de dentro das portas. Seus amigos, seus amantes. Uma preguiça absurda sempre tomava conta nos momentos mais próprios. Alguém ia comprar o pão, ela ia ver se a água fervia. No almoço comeriam fora. Não havia pressa pra escolher: seus amigos, seus amantes, nunca seus irmãos. Escolheria os pães, talvez frutas, e compraria a peso.

#3
Insônia. Seis da manhã era a hora da insônia. Sentou na beira da cama e o sol refletiu nos cachos tons avermelhados de uma tintura antiga. Depois bateu um vento e não parecia que fosse chover hoje. Depois espirrou porque não conseguia dormir de meia, não conseguia dormir vestida e esse era o pior do inverno. Espirrou. O sol agradável, o silêncio dos pequenos barulhos numa sensação de estar só - ruim. Pensou em fazer e não tinha ninguém com quem fazer amor nem nada, mas pensou: Rua Serra do Cipó... que era pra amar por carta, que era pra ficar pensando na subjetividade inútil das coisas que acontecem com todo mundo. Olhou desvairada pro telefone que tocou de-re-pente. Não atendeu. Nunca atendia - motivava protestos por isso. Foi para o banho e riu travessa num som que até o vizinho do quarto andar ouviu (por intuição) o que o levou a escrever um poema que achou tão estúpido que depois rasgou, só porque não era poeta, ou não achava isso de si, era até bobagem. Só achava que devia deitar em papel todos os sorrisos que lhe transbordavam às seis da manhã.

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Don't you have a word to show what may be done
Have you never heard a way to find the sun
Tell me all that you may know
Show me what you have to show
Won't you come and say
If you know the way to blue?

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imagem: Getty Images
verso: Nick Drake

quarta-feira, 13 de junho de 2007

J.R.

Ela falava sempre desse filme, “O fantasma da ópera” e ele já esquecia de dizer que o dinheiro já não era mais problema. E ela dizia que isso era pessoal. O amor não era medido pelo fato de se saber onde estava o sabonete. Bebel, era uma dona de barraquinha de cachorro-quente. Mas nunca um sabonete de motel. É, ele não queria animar o sabonete. E não era o sexo que mandava. Ela sabia quantos tinham (sabonetes). Ele queria era botar o pinto pra fora. Nenhum dadinho erótico. E ele sempre repetia isso. Todos riam, todos viajavam. Essa cena sempre fora legal na minha cabeça; era preciso escrever sobre isso. A iniciativa era sempre dela. Ela me batia sempre.

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por Jefferson. Amigo visitante, bem vindo, sob ciúmes do espaço.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Quem levou você pra longe da minha terra?

Tem dias que eu saio de casa pra chegar num lugar mas eu me perco. Olhei pro endereço umas cinco vezes e já esquecia o que tinha acabado de ler. Pelo menos não peguei o ônibus errado. Andei pro lado errado, fui parar numa rua que não tinha nada a ver. Casas lindas, lugar deserto. Cheguei, assisti à reunião num outro colégio com uma proposta pedagógica alternativa que se quer "crítica dos conteúdos" - segundo Demerval Savianni. Subornei meu irmão e ele foi ao banco por mim. Esqueci de tomar insulina. Senti o dia perdido quando tudo parou no engarrafamento.
Escrevi no e-mail: não sou poeta, sou amante. Ainda sim enviei. Sinto uma saudade tão estranha... tão estranha.
Devo procurar um psiquiatra novamente?
Na sala de espera, que tem uns quadros abstratos na parede amarela - o prédio é lindo mas a atendente não gosta de mim, será que sou psicótica? Eu ia me lembrar do vaso de petúnias, não sei se vocês conhecem essa história, o vaso de petúnias materializa-se no espaço e começa sua trajetória de queda livre; a única coisa que lhe passou pela cabeça foi: oh no... not again!. Muitas pessoas já refletiram sobre isso.

láforismo
eu tinha dois olhos
que te viam
dois olhos, eles tinham visões de
sumissos
mas viam acima de tudo três ou cinco pessoas
que passavam por mim mas eu quase não sentia

eu tinha dois olhos muito comuns
que podiam fechar
dois olhos, eles sempre souberam que nos veríamos
inúmeras vezes
em várias paredes
vários centros
e cidades, e nos vimos

eu tinha dois grandes olhos brancos com marrom
que as vezes não te viam
porque você não vinha
e dois olhos de onde saia muita água
eu tinha três filhos imaginários contigo
eu tinha olhos pra tirar roupas
os anos todos se passaram com os olhos que eu tinha
o tempo todo d'eu fingir que cria
que você queria

eu tinha dois olhos encantados
que morreram caindo lá de cima
fazendo um barulho tão horrível
que nenhum ouvido quis ouvir

--
das petúnias: Curiosamente, a única coisa que se passou pela mente do vaso de petúnias ao cair foi: Ah não, de novo não! Muitas pessoas meditaram sobre esse fato e concluíram que, se soubéssemos exatamente por que o vaso de petúnias pensou isso, saberíamos muito mais a respeito da natureza do Universo do que sabemos atualmente. (DOUGLAS adams in: Hitchhiker's Guide to the Galaxy ).

vídeo e verso da postagem anterior:
Nick Drake, Pink Moon

domingo, 10 de junho de 2007

Domingo cobriu o sol de sábado

As filas cresciam em frente àquele brinquedo... lembro que ele me parecia gigante, assustador. Eu não podia andar nele porque era muito pequena. Queria andar de qualquer maneira. As cadeirinhas penduradas que giravam. Acabava andando nos cisnes. Eram bons, eram bonitos, rápidos. Brancos, amarelos, em detalhes pretos. O vento batia como sempre bate quando rodamos em cisnes. Não sinto falta, foi tudo em-completo. O dia terminava num céu de montão de cores.
E aquele frio na barriga me acompanha ainda... toda vez que te vejo. Só agora tive coragem pra me aventurar.

e é uma lua rosa
sim, uma lua rosa

sábado, 9 de junho de 2007

Nem tão ao norte, nem tão ao sul

Feriado. E feriado santo! Fui ao shopping resolver problemas bancários, ver a vida, ver as pessoas. Refletir. Porque sempre reflito muito quando estou sozinha e caminhando. Tanto que, quando chego em casa, agradeço aos céus por poder conversar com outra pessoas além de mim que, à passinhos por dia, me torno minha pior e mais insuportável companhia.
Lá em cima minha mãe ri com o Jô Soares; já não lhe acho graça. Enfim...

Ida
Uma caminhada até a metade do caminho para pegar o ônibus. Sim, há um ônibus que passa em frente à minha casa e que vai para o shopping, ou melhor, uma van (perua, besta, kia) que vai para o shopping, mas o preço é tão absurdo, mas tão, que não pago, não mesmo; R$1,80 (92 cents, pela cotação de hoje). Ando a pé metade do caminho (Argel) para tomar o ônibus de 0,55 centavos (cerca de 28 cents) e iria tranquila se meu salto alto não estivesse quebrado. Sim...ele estava quebrado antes de'eu sair de casa, tentei lhe colar uma borracha mas esta desintegrou-se após uns 20 passos. Tudo bem. Ouvia música... Acho que ouvi Don't smoke in bed (Nina Simone) umas 5 vezes (esta postagem está cheia de números, estranho). Depois de uma demora absurda, chegou o tal ônibus, finalmente. Cheio o shopping. Impressionantemente cheio. Entrei na primeira loja de departamentos. Corações! Oh! (fiz um "oh" mental) Era dia dos namorados. Essa semana é a semana do dia dos namorados. Corações, muitos corações. O supermercado construiu uma prateleira imensa ornada de champagne e pro-seccos. Não dei bola, fui procurar bebidas (vodka em promoção), batata-frita... depois à loja de eletrônicos: um microfone, à loja de animais: roupas de frio e sapato para meus cãezinhos, banco: tirar dinheiro.
Fui buscar meu cartão da loja de departamentos. Pegar senha..aguardar... a atendente era uma versão indígena da Björk, usava sombra verde nos olhos. Ela falava comigo e eu insistindo comigo mesma que estava conversando com um elfo. Não queria um namorado, queria alguém pra quem falar mal da Digest Readers. E o elfo então disse que a loja estava diminuindo o limite do meu cartão. Senti meus olhos enchendo d'água, meus olhos metafóricos, meus olhos fúteis... explicava: a senhora demorou demais a efetuar os últimos pagamentos... mas (o mas), à medida em que for pagando na data correta, nós aumentaremos novamente seu limite. Pensei: mas não dá pra comprar um par de sapatos! ou Mas só dá pra comprar um par de sapatos! Eu precisava de um cinto. Queria um namorado... pra vestir um espartilho, não um espartilho desses exuberantes, mas um que disfarçasse as gorduras localizadas - muito mal localizadas, importante frisar. Agradeci ao elfo e fui embora. Hora de experimentar peças. Entrei na cabine; meu deus... como eu consigo andar tão má vestida? E o salto ainda quebrado, cada passo que eu dava era um som oco e outro metálico, indiscritível. Só Douglas Adams conseguiria descrever o som de um galho de metal arranhando num piso lisíssimo de shopping center. Eu não ligava para o dia dos namorados, mas queria comprar um pijama rosa. De corações. Nada de encontrar um cinto. Comprei um belo chapéu bege na feira à preço baixo. Depois voltei novamente à pé por Argel.

A conta
roupa de inverno para o Muhammad..R$12,00
sapatos azuis para o Beethoven ....R$9,00
hear phones ......................R$10,00
microfone .........................R$7,00
porta-cd .........................R$10,00
chapéu engraçadinho ..............R$10,00
chocolates dietéticos .............R$3,00
pagamento da internet doméstica ..R$15,00
vodka 7% ..........................R$7,00
batata-frita.......................R$5,00
total____________________________R$119,00

que horror!!!! nunca deveria ter feito essa soma, essa racionalização de gastos.... que pessoa sem sabedoria. queria um namorado pra absolutamente nada, pra tudo.


rememberâncias
eu conto à ele e espero que surja alguma centelha de ciúme nos olhos, uma crítica, um desagrado... nada! ele não se importa, compreende, aconselha, consola... e isso me arrasa. é o pior.

a sua mulher me contou... é verdade? é. eu não sei o que eu pensei... agora percebo que fui estúpida. disse algo como, eu quero ajudar, eu te adoro, ainda somos amigos... ele parecia arrasado. conversa. numa outra vez ele me deixava na porta de casa e eu dizia, engraçado como parece que posso te beijar a qualquer momento, ao que ele respondeu: mas você sabe que não tem nada a ver. lembro que fiquei gelada por dentro. de pavor. de estranhamento.

eu a abracei. o ônibus ia embora, ia partir, estava na sua hora mas eu... abraçá-la. você é a pessoa que eu mais amo no mundo. lembro que chorei e ela também. o ônibus precisava ir embora, a hora. você é a pessoa que eu mais amo no mundo, por isso eu prefiro que você vá. eu sei, ela disse. e chorou também muito comigo. minha pequena. foi o divórcio; na sua ausência dói quase nada.

achei o chapéu tão bonito. só há paz nos meus cachos... olhos pros cachos balançando quando abaixo a cabeça e bate sol, bate sol e os cabelos ficam em tons avermelhados. da antiga tintura.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

A Montanha (posfácio do epílogo)


Às centenas ficaram os suspiros, suspensos entre vastas nuvens de frio e imensos vazios. Estava escuro, mas isso não é o importante. Engraçado que à noite certas imagens que vemos parecem preto e branco, lá se pareciam preto, brancas e azuis. Verdes. Eu disse: está frio. Então fizemos amor. As centenas tornaram-se as necessidades e o abraço durou exatamente 730 anos, depois despediram-se de sua montanha e fechou-se bem o portão atrás de si. Às centenas entornaram os suspiros, o desejo, as insanidades, mornos, tão mornos... caindo sobre todas as árvores, pedras, flores, bicicletas, fotografias, e balões desaparecidos. Cairam sobre nossos planos e sobre as músicas que ouvimos. Hoje é o silêncio quem conta das lembranças e da ausência.

eu passarei por tudo isso
antes de você acordar
assim eu me sinto feliz
de estar segura com você aqui em cima
--
verso: Björk, Nellee Hooper & Marius De Vries
imagem: Evgen Bavcar

terça-feira, 5 de junho de 2007

Swallows


os pássaros voaram assim do nada
e as moças de alheios
o pássaro fora da gaiola
disse: acalma
e eu, moça passei
em teclas de piano
assim falsa
e elas abriram as braças e sairam voando
o que não fez sentido
só há paz nos meu cachos

disse: acalma
moça pensei
assim intranquila
ele vai morrer entre os outros pássaros
prendi na gaiola
mas ele me vê e se agita
é de risco que quer voltar
de risco que quer voar
por ser bobo e por ser pássaro
por ter visto as árvores mais altas que as mais altas árvores

moça escutei
assim conformada
abri a janela e fez-se frio
que só há paz entre meus cachos

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you'll never walk alone, Nina Simone,1958.
imagem: Evgen Bvcar

a terra dos balões voados (sempre prefácio)


rede de pescar balões, bicicleta, escada, música, casacos de lã (ou um outro tecido quente e macio, incapaz de furar balões), pequenos botes, solidez de algodão doce, bobagens inúteis que a gente vai ficar sem saber porque levou, mapa rabiscado, kafka, caixas onde você guardou aquelas palavras...
mas penso (ainda) na,sensação de estar-se preso num balão que voa mais alto que as árvores mais altas e que conduz (pista secreta dos pássaros) aos frios ares daquela terra. meus pensamentos voam presos a balões que desaparecem e, por vezes, não os encontro mais - enroscam em galhos. por vezes não me lembro como volto. por vezes estou, irresistivelmente caindo. (mas) não tem importância. hoje na tua manhã pensei que cair fosse voar, então voei, e lembrei com nitidez da esmaecida eu aos menos 9 anos.

--
[Des]construiu e disse "moça..." Bruno Cabelo
imagem: Evgen Bavcar

segunda-feira, 4 de junho de 2007

a terra dos balões voados


tua bicicleta e a pista secreta dos pássaros
não sei se você sabe, mas existe a terra dos balões voados. acho que você recorda bem daquele dia em que você deixou o balão escapar - sem querer, coisas de quando se tem menos de 9 anos. ele escapou, eu vi...estávamos juntos e fiquei em silêncio vendo você acompanhar a subida do balão (não lembro a cor). ele subiu muito, foi muito alto mesmo e tinham umas ávores e ele foi mais alto que a mais alta e, de repente, desapareceu.
esses dias eu fiquei pensando nisso...pensando muito forte nisso. daí acabei descobrindo que você tem razão, ele desapareceu. não estourou, nem ultrapassou a estratosfera... ele foi para a terra dos balões voados, a terra onde estão todos os balões que nós ganhamos nas quermesses, festas de aniversário, feiras e pracinhas. estão todos lá, como a gente lembrava que eles eram.
fácil de chegar lá não é...não mesmo. há de se seguir alguns pássaros e outros balões que constantemente vêm sido perdidos por meninos e meninas com menos de 9 anos. o que sei com certeza é que ele fica bem próximo da Terra das Sombrinhas desaparecidas.
--
[Des]construiu e disse "moça..." Bruno Cabelo
imagem: Evgen Bavcar

sábado, 2 de junho de 2007

Pervesidades

Adorei esse cheiro. Ele disse e ela o olhou bem firme, incrédula. Ele levou os dedos novamente ao nariz e aquilo incomodou. Adorei esse cheiro. Olhou pra fora, as faixas da rua passaram rápido como se não fossem traços; uma linha só. O cheiro, o gosto... perversões que nunca foram suas, certamente dele a quem não conhecia. Perversões. Certa vez provara do seu próprio gosto e desde então não fora seduzida por ninguém além de si própria. A idéia não fora sua. O quente, o cálido, o morno, o doce em ofensa. Negava-se. Adorei esse cheiro. Jogara-se do carro em movimento.
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