quinta-feira, 31 de maio de 2007

Brevidades


...tua bicicleta estacionada no início do caminho para a terra dos balões voados

Continue a manter em segredo o que é pra ser segredo... isso me deixa feliz, se puder subir a montanha comigo de quando em vez. Você sabe que subirei vez toda porque nos divertimos lá, até quando eu estou com sono, de olho fechado e fico vendo tiras de você através dos estrados, você me explicando o que é silêncio quando eu esqueci. De lá de cima a gente vê a vida em movimento linear. Mais o que? Mais tudo que a gente quiser que seja.

Que livro tu vai levar pra montanha? Um caderno... daí posso ler eu e você também. E você, que livro leva além daquele rádio? O processo. Deveríamos levar uma máquina fotográfica? Vamos fazer um piquenique na montanha? Vamos! Seríamos felizes... Eternamente felizes, e quando as coisas dessem errado... ainda assim seriamos felizes - a vida é só um tempinho horroroso cheio de momentos deliciosos - e eu me lembraria no dia seguinte da noite anterior.

Quando a gente se muda? Não sei... preciso arrumar as coisas, vasculhar gavetas... Pegue agasalhos. Vai levar alguma coisa do passado? Coisas do passado e asas delta.

A gente não pode ficar lá pra sempre mas podemos ir lá sempre. Sempre e juntos, e o caderno em branco e meu livro, a vitrola. Lápis. Uma maquina fotográfica. Na montanha.

Estou ansiosa!! E eu então! eu vou cuidar de você. E eu de ti. Você vai poder contar do caos. E você vai poder descortinar seus segredos

engraçado...a subida não cansa.


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desconstruiu: Bruno Cabelo

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Amenidades

Ainda penso com estranheza e delícia na nossa noite. Eu, cama, você, bêbados. Eu sobre um você bêbado. Fazia frio ontem. Hoje te olhei e pensei na estranheza e delícia da nossa noite. Eu sobre um você bêbado, em atenção, em vontade e em negação de coisas. Lembro bem de tudo sempre: noite, parede, vestido, sapato e mãos. Eu quis fugir. Mãos nas minhas costas e me senti adorada. Santa. Tua em meus melhores beijos, em quadris desajuizados, em pedidos e hoje te olhei; formais conhecidos impartilhados.

Necessidades

E assim concluiu que não havia nada de ilícito em seu modo político, polido, patético e apático de viver.
Conversava consigo próprio e com livros que, no falar baixo, exalavam quase sempre uma coisa que condicionara chamar de sabedoria.
Não teve filhos, - costumava jurar a certeza - mantinha dois empregados que administravam as questões domésticas, lhe engraxavam os sapatos e coziam as roupas necessitadas. Seus gastos eram poucos além deste; arroz, feijão, um quilo de legume, poucos gramas de alguma carne - que só não podia ser peixe de pele, por alergia.
Os únicos luxos eram os ternos do antigo emprego público, que gostava de ter sempre como se houvessem acabado de sair da alfaiataria e sabonetes que, dizia não serem assim caros, mas que custavam o quádruplo do preço popularmente pago. Mantinha esses detalhes em segredo por uma vergonha humilde. Assim, como não dava satisfações a ninguém, se permitia nunca pensar a respeito dos motivos e se entregar a espumas abundantemente brancas.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Resumo de uma noite anterior...(2#)

Disco-voador
limão, açúcar, canela, cachaça.

Fragmentos em letras minúsculas

no telefone, ana falava sobre ir ao médico. eu procurava na carteira o cartão do plano de saúde mas não enxergava nada porque alguém tinha apagado a luz. as pessoas tinham ido embora? mas tão cedo? queria beber, bebi. belle. a idéia do disco voador. eu estava feliz... felicidade é corda que a gente puxa, é linha de empinar papagaio que a gente corre pra pegar vento e fica curtindo ele lá no ar... mas não pode puxar com muita força, se não arrebenta. estava no banheiro e daí tinha um espelho e pensei: só os infelizes fazem isso. I was happy in the haze of a drunken hour, but heaven knows I'm miserable now. só os infelizes. entao achei que deveria parar de ouvir winehouse. lembro do cristiano, lembro da cara de preocupação dele e da júlia. lembro de estar tremendo de frio, pingando e dela dizendo que não queria mais me ver daquele jeito. no banheiro tinha um espelho e numa hora eu escorreguei, daí deitei no chão e queria dormir lá, em baixo dos estrados... mas então me lembrei que era um sonho irrealizável porque lá fora sempre há pessoas, daí levantei. lembro de dizer: ana, se veste, porque ele fica olhando pra ela e fico com ciúmes. e todos sabem disso... daí xinguei todo o clero. rezei o credo. o charuto continuava na minha mão e conversávamos sobre antipatias. eu não fui com a cara daquela garota, júlia disse, ninguém nunca vai mesmo... benjamin disse "gentil". já me chamaram de tudo nessa vida, de gentil fora a primeira vez. a culpa era dos et's: discos voadores geram et's.
mas você não, você me amou desde a primeira vez que me viu. sim. eu também. então eu quis bater no bruno porque ele é um grande canalha, divertidíssimo, mas canalha. eu vomitei no banheiro tão limpo da ana... ela disse, foi legal, fora a parte em que eu tenho de lavar o banheiro, foi legal. pedi desculpas, o que mais podia pedir? lembro que vomitei no colchão do pobre vicente e que dizia não ser alérgica a plazil. o vidro do meu perfume de baunilha na estante. no banheiro tinha um espelho e eu me olhei e me achei velha, tinha uma espinha na testa e a maquiagem era uma ilusão, minha máscara de carnaval em Veneza. toda vez que tocava beautiful day e o igor atendia ao celular eu achava que algo ia errado no universo porque aquele era o toque do celular da luana e ela foi embora pro sul. meu mundo girava pro lado correto, finalmente... depois eu não sei porque ficou girando rápido demais pro lado correto... girava. só os infelizes escorregam no banheiro, machucam o joelho e ficam deitados pensando em dormir ali. só os infelizes, mas tão contente eu tava, aniversário do JR, amigos, conversa boa e o charuto que eu não sei quem levou mas era presente e acho que fumei algo caro. não vi quando o papagaio se prendeu na árvore; eu continuei correndo e a linha arrebentou, acho que depois disso eu caí. is the triumph of a heart that gives all. that gives all.

domingo, 27 de maio de 2007

Resumo de uma noite anterior... (1#)

No aniversário, na festa, na casa da Ana, amigos, overreaction. O triunfo de um coração que tudo cede...

Suavemente,
os pulmões
de veludo vermelho
impulsionam alegremente
uma rede de oxigênio através do nariz, pela boca
Mas tudo em gozo que nos trás



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verso e vídeo: björk, triumph of a heart.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

...as bobagens...


Bj, o convite foi inesperado, você sabe, não sabe? Fiquei numa dúvida grande quando aquele rapaz perguntou: afinal, quem é Prill? Você disse pra eu me virar.... Inventei aquela fala absurda de que somos amantes eu você e o Neves. Cheguei a imaginar a cena dos dois moços, apaixonados, numa manhã ensolarada, entre as cobertas, entregando-me as chaves de sua página pessoal. rsss... São esses tipos de absurdos que brotam na minha cabeça em tempos em tempos (são freqüentes, confesso em particular). Podemos partilhar tantas coisas, percebo isso, me animo disso... ainda que a distância não deixe que façamos tertúlias mais bem regadas etilicamente, podemos ainda partilhar essas coisas que gostamos. Arte. Arte?
Essas produções que são técnica, estética e emoção.. são arte.

O convite foi inesperado porque até poucos dias eu estava tão atenta aos demorados olhares de vocês dois rapazes sobre toda aquela gama de palavras, imagens, sons que me ver ali, também olhando atentamente e trocando impressões, foi uma mudança e tanto de farol.
Tenho medo de decepcionar vocês, não estou a altura. É que, assim de longe, eu fico parecendo inteligente mas, vocês sabem, eu tenho o Google a meu lado e Ele me aconselha, me fala sobre tudo, me indica o que dizer e como agir, mas vocês parecem não ligar pra isso agora, principalmente você, Bj, que tem sido tão generoso comigo e atencioso. Adorei-te. Podes ter-me adorado primeiro, mas adoro-te mais. Admiro-te mais e não discuta mais isso comigo...
Se bem que já devíamos ter passado dessa parte em que rasgamos seda.
Minhas palavras, até essa linha aqui, não têm sido boas... eu te falei que escreveria apenas bobagem. Acho que você não acreditou. Pois deveria. (lembra daquele e-mail que eu te mandei quando estava bêbada..nossa! cara, ali mostrei o quanto eu estou apavorada... vocês dois parecem conservadores e eu pareço ter acabado de chegar de Woodstock).

Mas parece ser essa a minha forma - nada elegante e nada sutil, além de nada formosa - de agradecer e talvez me apresentar.
Olá leitor do Obvious! Essa sou eu. Estou me alojando num espaço que, originalmente, é de dois. Agora somos três. E agora? Escreverei.
Fomos preciptados Bj? Você em convidar e eu em aceitar? Mas isso importa agora? A mim não, estou extremamente contente que você tenha visto daí que estou num morrinho balançando minha bandeirinha verde-limão, repartindo neste endereço que ora vos fala, meus fragmentos de-mente absurda.
Sua perciptação me deixou feliz. Acho que estou apaixonada por você... será que vai dar certo? Ainda bem que prefiro as respostas às perguntas. Você já ouviu Summertime? Sarah Vaughan é incrível...estava a pouco ouvindo um cd dela de música brasileira e me peguei chocada com o poder que certas composições e interpretações têm.

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Cuidados na volta para casa

Minha Musa não é como ninfa
Que se eleva das águas - gentil -
Co'um sorriso nos lábios mimosos,
Com requebros, com ar senhoril.

Nem lhe pousa nas faces redondas
Dos fagueiros anelos a cor;
Nesta terra não tem uma esp'rança,
Nesta terra não tem um amor.

Como fada de meigos encantos,
Não habita um palácio encantado,
Quer em meio de matas sombrias,
Quer à beira do mar levantado.

(...)

(Gonçalves Dias)

A pé
1. colocar um casaco, se for noite;
2. passar com cuidado pela calçada do cemitério por causa das baratas;
2.1 caso escolha outra calçada, tomar cuidado com o lixo do supermercado que escorre até a rua;
3. fechar os olhos ao passar em frente à barraquinha de batata-frita;
4. andar até o meio da rua se o bar, no meio do caminho, estiver muito cheio evitando gracinhas dos moços frequentadores;
5. andar até o meio da rua, perto de casa, para desviar dos ratos;
6. estar com as chaves do portão e
7. cumprimentar as pessoas que estiverem na portaria (se houverem pessoas lá).

De ônibus
1. estar com um livro ou texto em mãos para a viagem;
2. ter o dinheiro certo do preço da passagem - para evitar que o motorista fique muito tempo contando o troco;
3. atravessar assim que saltar do ônibus evitando assim o pessoal da barraquinha de milho-verde verde, sempre de deboches;
4. estar com as chaves do portão e
5. cumprimentar as pessoas que estiverem na portaria (se houverem pessoas lá).

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Laço

Já não falava dos dois, mal falava dela. Falava dos programas novos, do trabalho, da última coleção de algo. Estranhou. Já não enrolava mais o lençol nas pernas de forma obcena, não mais como antes. Começava e prosseguia, mas em movimentos irreconhecíveis quase de cópia pálida. Já não lhe dedicava músicas, nem poemas bestas, nem tempo, nem gritos, ao que ele imaginava: dez anos e para onde fora? Dez anos de uma devoção que parecia então multiplicar-se e derramar-se sobre os tempos como se infinito fosse. Finito era. Mas que revés! Agora a amava, a queria, queria que ficasse. Grávida. Mas já não era sua a mulher e menos a barriga estufada. Agora queria que ficasse, ficasse ela, o filho, até o outro. Matava o outro. Queria que ficasse. E de andar só tornara-se irreconhecível. Um divorciado. Um viúvo. Um órfão. Conformado porque sempre de amor desiludido conforma-se. Há contas, há cargo, há café, há carro com pneus que precisam ser trocados. Moças não haviam, descobrira-se inapto à praticidades, descobrira-se sentimental, irracional, doente, saudoso. Os sentidos da objetividades, da sociedade e de outros acordos dos relacionamentos de nossos tempos já se des-sentiam. Iria elogiar o amor, iria desproporcionar, iria usar de artifícios torpes, álcool, suicídio e exaltar o desvario do amor disforme, over. Iria chafurdar na mais densa e pública lama.

quarta-feira, 16 de maio de 2007


- É verdade! acudiu o Ega. Você nessa noite parecia ter ás costas uma opa de irmão do Senhor dos Passos!
O conde sorriu. Irmão do Senhor dos Passos não, graças a Deus! Ninguém melhor do que ele sabia que nesses sublimes episódios do Evangelho reinava bastante lenda... Mas enfim eram lendas que serviam para consolar a alma humana. É o que ele objectara nessa noite ao amigo Ega... Sentiam-se a filosofia e o racionalismo capazes de consolar a mãe que chora? Não. Então...

(Eça de Queiróz, em Os Maias. CapXV)



Já se vai o Benedito...
(ou E agorinha lá se vai guerra)

Pensei em escrever algumas poucas palavras. Penso ainda. Poucas, bem poucas. Que sejam suficientes para dar conta de dizer que acredito n'um declínio visível da religião em nossos tempos. Haveria de ser isso uma coisa boa, liberal, mas na Terra de Veracruz, a baixa na moral cristã só consegue ser substituída por meio mililitro de péssima catequese. Daí alguém desiste de substituir uma coisa por qualquer coisa e resolve ser jovem empreendedor, montar uma empresa de câmbio e exportação de drogas, armas, muléres e/ou qualquer outra coisa muito lucrativa nos nossos tempos (como o jogo de gamão). A razão e a educação foram dar um passeio num lugar bem longe, disse de Góes, apoiado de perto por Denys Arcand. Ficamos nós aqui na barbárie estatal, no emburrecimento descontentado de todos nós e na violência que é pródiga nesses laboriosos rapazes e moças pós-modernos, tipo Colômbia.
Que venha Frei Galvão, que venha Bento, que venha Deus e o Diabo, que venha compadecer.

Desse canto eu escrevo ficção. Que não é fictícia, posto que real.

sexta-feira, 11 de maio de 2007

Segredo
O seio esquerdo era quase morto. Dormente. Um dia, uma queda de bicicleta, e lá ficou o seio esquerdo quase morto, dormente. Dias saía com rapazes, e lhes apalpavam o seio, e tocavam, acarinhavam, mas ainda o seio esquerdo, quase morto, sentia nada. Sorria, arfava, fazia que gostava, de nada... um dia contaria a ele do seu seio esquerdo, só pra ele, daí usariam o direito, que funcionava e era delírios. Mas não seu seio esquerdo: seu seio esquerdo era quase morto, dormente.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Regret. Relief.
Estou nervosa. Leio e [re]leio esta última postagem , e tudo que me vem à mente é o pessoal do PSTU gritando "Isto não nos representa!". Não... esta última postagem não me representa... é fruto de uma visão das coisas, uma visão de textos já passada, já passado em mim, de violências, perversões e fascínios que já não são mais meus. Mas reconheço que tem o seu valor e o seu lugar na minha construção de escrita, e a Belle gosta, o que me deixa Feliz. FELIZ BELLE FELIZ ANIVERSÁRIO!!
O que quero exatamente agora é Vespertine... é uma paz quietinha que se sente quando se está escondido em baixo da cama, lá em baixo dos estrados. Só pra imaginar e lembrar e ser eu, você, dados nós.


na campina

tem dias que eu queria que fossem dias
outros que noite
outros dias que chuva
e queria andar na rua
tem dias que eu queria andar descalça
e que fosse noite pra andar sem rumo
que é pra andar descalça
andar na sua
deitar contigo


Luiza
Ontem, durante uma fascinante aula, ela me disse: você só escreve ficção. Eu deveria ser Hobsbawn, deveria ser o Thompson, você não acha? Mas.. é que, Luizinha, eu já disse que não sei lidar com grandes arroubos autruísticos, com megalomanias, com análises universalizantes nem crítica de conceitos. Eu tenho dificuldade disso.. dificuldade de querer isso. O que eu quero é essa que você chama de ficção, mas que não é fictícia posto que real. O que penso e escrevo mal - mas escrevo - são os nossos miúdos, você sabe. Eu falo sobre La Llorona; falo de quando você esquece o Movimento Zapatista pra pensar numa certa igreja....

Joseph Ratzinger
O mais alto clérigo da [I]greja está no país. A imprenssa resolveu que resolveu debater o catolicismo, seus dogmas e futuro do cristianismo vaticânico... poucos parecem interessados. Finalmente esta semana entendi os projetos de Bento XVI e, se ele me perguntasse o que eu acho, eu diria que concordo completamente com tudo e que, se ele tivesse chegado uns 3 anos antes, eu não precisaria estar lendo na primeira capa do jornal mais barato e escroto do Rio de Janeiro que sou uma prostituta. Eu estaria lá com ele, genuflexionadamente.
Isso me lembra que, na verdade, não sei porque motivo estou no grupo de recepção ao bispo de Niterói que visitará a capela em que eu frequentava tempo atrás. É um gosto de reminiscência: um gosto de A menina santa, alguém que eu ainda sou, diria talvez José Roberto (antes de proferir "que gente sem [D]eus!"). Sou, ainda que se pareça não ser.

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ATUALIZAÇÃO
na campina escrito por mim
IMAGEM: de um site de flores... eu esqueci de ver o nome, me perdoem.

terça-feira, 8 de maio de 2007

Não esqueça

E numa santa e canonizada noite, em que vi você e que achei que seríamos... Não fomos. Daí nunca fomos. E me inscrevi em mim mesma como se fosse necessário apenas meu medo e vontade de me estirar sob os estrados da cama - e alí ficar bem parada e escondida - para achar que o mal era eu.

De repente me bateu contra a parede. Tentava não pensar. Tentava não sentir as mãos sobre mim ou a parede fria. Dor. Era dor que eu tentava não sentir. Ódio. Incredulidade. E ele, e o frio, e sua respiração como de um bicho...um bicho.
Não era normal, não era de homem.
Com aqueles dentes frios na minha orelha, na minha garganta...
Por que? Por que aquilo estava acontecendo comigo? Por que eu não conseguia fazer parar?
Ouvi meio distante minha roupa rasgar. As mãos sobre minha boca pressionando ainda mais minha cabeça contra a parede. Ansiedade. Ele me tocou os seios como se... tinha certeza de que eu não podia escapar, nem fazer nada. Senti os dedos quentes e terrivelmente lentos sobre mim. E o hálito quente no meu ombro. Me apertava sob seu corpo e eu me contorcia. Eu só me contorcia. Suspirei longamente. Seus dedos que ainda me tocavam, me tocavam toda. Senti meu estômago revirando e a minha mente ficou incapaz de compreender tamanha...
Aquela parede, as mão e o prazer que sentia... Eu sentia prazer! Sentia! E sentia nojo de sentir prazer! De sentir aquilo. Meus pés tentando tocar o chão. A ponta dos dedos. Me abriu as pernas. Não! Lágrimas...
Puxava meus cabelos.
Eu via o escuro. Me tocava, me mordia. Tentei lutar. Juro. Tentei lutar. Mas eu era incapaz, eu não conseguia, eu...
Totalmente imóvel. Era um choque, era um transe... Ele podia sentir o cheiro do meu medo. E aquilo o excitava.
Suspirando no meu ouvido. Eu estava possuída. Palavras incompreensíveis num tom que me levava a um limite estranho. Dentro de mim os dedos dele, movimentos rápidos. Mais uma vez lágrimas. Dor. Quem estava ali? Eu estava ali? Eu não conseguia dizer. No meu raciocínio paralisado, tentavam se acender luzes de explicação. Precisava me punir... Respirava com dificuldade de tanto... prazer. Então ficava com raiva, mas era bom... Meus joelhos arrastaram na parede áspera daí eu gritei de dor, mas meu grito não emitia mais som. Palavras incompreensíveis... Minhas mãos espalmadas. Precisava fugir. Fugir daquele que parecia arrancar meu espírito pra depois me fazer acreditar piamente que eu era dele. Sim. Era uma revelação.
Eu não me possuía mais. Embotada.
Me virou. Eu não podia ver. Olhar. Eu nem queria! Não queria olhar pra ele, pra mim, praquilo, nós...
Olhei.
Eu ia distante... Não queria que ele abrisse a minha blusa, mas não conseguia evitar, solucei num sofrimento indefinido. Ferozmente ele sugava um seio, lambia indiscriminadamente, numa língua rápida. Eu era dele. Do meu... Minha mente lutava contra isso, não podia aceitar, estava num abismo... Tudo girava, achei que ia vomitar. Que tipo de ser eu era, capaz de desejar que aquilo não terminasse mais?
Raiva.
Tentei mais uma vez golpeá-lo. Senti-o então entrar em mim. Brutalmente. Meu corpo parecia tão leve sob aquela terrível força que era dele e era minha, e eu estava tão pequena... e não podia conter um desespero que vinha porque já não parecia que pudesse acabar e... Braços. Eu me contorcia novamente pressionada contra a parede úmida. Minha companheira... Não podia olhar. Arfar.
Ele parou.
Bruscamente.
Minha cabeça caiu pro lado. Relaxei subitamente. Um pequeno tempo de alívio. Respirei exausta.
Então ele aproveitou este momento. Exatamente este em que respirei num tempo de alívio. Um movimento rápido que me roubou totalmente o controle do corpo, ele me virou. Não respirava. Respirava? Quem? Se houvesse um momento indizível, era lá que eu estaria. O único lugar onde eu, pensava, seria para sempre virgem... Eu estava errada. Eu estava vazia. As lágrimas não rolavam mais. Eu não tinha mais voz. Achei que havia acabado, mas estava errada. Eu...estava errada! Ele não esperou. Sem gentilezas. Aquela pessoa desconhecida me transpassava com força. Mais uma vez, e mais uma vez, e outra. Novamente encontrei minhas lágrimas e meus gritos encontraram os caminhos pras suas mãos. Vestindo alegremente seu orgulho... Eu estava certa disso.
E aquele sofrimento era tão novo... Incontrolável. Eu ouvia seus grunhidos atrás de mim. Era apavorante. Me achei assim morta mas, por algum motivo, não estava. Lamentava. Suas mãos mais uma vez me procuravam, desgraçadamente.
Como podia?
Com a ponta dos dedos, alheios à violência do resto do corpo, uma tortura tão doce, aquele lugar entre as minhas pernas... e...
E inacreditavelmente... todo o prazer, toda dor, toda raiva e náusea se fundiram numa coisa só. Meu corpo respondia, eu não perguntava, ele respondia, e ia sozinho sem mim, grudado de mim, apartado sem consentimento e daí eu senti...tudo! E o corpo dele disse ao meu que...
Subitamente me soltou. Choquei com um baque contra a parede. O que...?
Ouvi um som de zíper, passos. Ele me abraçou por trás e me prendeu em seus braços.
- Minha garotinha... - ele sussurrou levemente - eu disse que nunca esqueceria minha promessa...
Com isso me conduziu cuidadosamente, silenciosamente rua abaixo e para o carro. Ele abriu a porta de passageiros e carinhosamente me fez sentar no banco. Entrou então ele mesmo em seguida fechando a porta. Olhou beligerantemente para o relógio do painel.
- Vamos chegar cedo em casa hoje... - ligou o carro e eu caí num profundo sono com suas palavras nos meus ouvidos: "eu disse que nunca esqueceria minha promessa".
E não o fez.

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escrito em abril de 2004 e modificado esta noite, porque reli e achei um lixo completo. baseado na história Don't Forget de Alekzander Sangekis (a quem nunca mais encontrei). epígrafe minha, baseada em mim mesma, em nada.

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Outra de outra problemática

Nunca admitira que gostava de ter hora pra chegar. Abriu a porta num sentimento único de estar num lugar conhecido onde nada lhe aconteceria, nada de hostil que não fosse executado por si própria. Passando a mão na testa para tentar conter o suor, tirava os sapatos esfregando um pé contra o outro. Silêncio como aquele só encontraria ali. Um silêncio de carros passando e de música longe, música longe e ruído de gente que era um som que incomodava a maior parte do tempo. Não fazia questão alguma de estar perto de pessoas. Esperava delas sempre uma pedra na cabeça a qual responderia com um semblante chocado e resignado; pensaria: isso dói pra cacete!
Parece escroto dizer que sempre tinha sido assim, da mesma forma que a descrição do seu modo de viver é escrota. Certamente o é de fato. Imaginar-se num mundo onde se é a única própria companhia é um exercício mental chato a qual pouquíssimos se lançam de boa vontade: o restante foi com certeza atirado. Mas, escroto ou não, digo que vivia só e que quase podia dizer que gostava de ser só.
A acompanhavam, inanimadamente, no apartamento alugado à preço ridículo: os livros e a TV que nunca desligava e que nunca assistia. Também as tortas de chocolate distribuídas em pequenos pires largados pelo chão, na mesa de telefone, estantes e cômoda de sapatos. Telefone para que as pessoas pra quem nunca ligava, lhe ligassem e para compromissos porque pra viver ainda necessita-se trabalhar ou necessita-se simplesmente de dinheiro.
Amava. E já não se lembrava de como era sua vida antes que esse meteoro atingisse uma existência que passava desapercebida por toda existência. Casado. Mas, não que isso em sua opinião atentasse demais contra a moral, não fora sempre casado. Na verdade o incômodo maior era: amava a esposa.
Amava a esposa....
Atravessou os três(?) metros de sala e de carpete pra chegar na cozinha e abrir a geladeira. Fechou a geladeira e daí tudo ficou escuro novamente. É ingênuo achar que só um amor que nunca acontece a tivesse posto ali naquela cozinha escura e que cheirava a confeitaria. Pessoas perdem pais, filhos, irmãos, saúde, bilhetes de loteria premiados e último ônibus pra casa, mas permanecem vivas. Continuam vivendo e rindo de boas propagandas, coninuam normais, continuam votando e comendo as comidas que mais gostam e pescando. Ás vezes continuam transando ou se formam, desenvolvem fobias, compram móveis no carnê etc. O que havia de diferente então? Não sei, na verdade. Acho que algumas pessoas recebem tantas pedras na cabeça que, simplesmente, ficam loucas a ponto até de receberem pedras imaginárias na cabeça. Ninguém está lhe tacando nada, mas se sente e aí é como se fosse. E é.
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