sábado, 31 de março de 2007

Da espera (um outro caso)

Não sei o que tenho, só atraio gente esquisita. Não sei porque acabo me envolvendo. Tenho bom coração... Não entendo os homens... tento ajudá-los, mas não entendo. Seu padrasto é outro caso. É tão estranho... claro! Como escritor...e americano. É bom de cama e muito sensual... Hoje ele me chamou e eu vim, achando que ia dar uma trepada e veja no que deu: aqui estou, maquiando um cadáver.
Ok, gostei de você, não me incomodo mas... agora não sei se vou transar ou não.
(in Kika, de Almodovar)

Então fiquei ali sentada, com a minha cara impaciente de sempre, olhando a cidade pela janela, batendo com os dedos no queixo. Então não iríamos transar. Tudo bem, aquilo já tinha ficado bastante óbvio; eu junto da porta, vestida, calçada... você continuava estirado no sofá - seminu - e lendo. A questão que me corroía não era aquela, era que você parecia estar agindo como esses caras que juram que a mulher está louca pra ir pra cama com eles... um absurdo você ter pensando isso! Tudo bem... tudo bem..eu confesso que exagerei quando arranquei o jornal da sua mão só pra que você me desse atenção, isso foi maluquice... Daí, como eu te disse, detesto agir como uma mulher histérica e, por mais que você me diga que todas as mulheres são histéricas - e essa teoria não é sua, mas do Nelson Rodrigues - eu não aceito porque a Condoleezza Rice não é histérica; "mas a Condoleezza não é mulher", dissemos eu, você e o Arnaldo Jabor. Levantei e fui pra junto de você, sentei numa almofada e falei sobre algum detalhe da minha vida, mas então comecei a rir porque não conseguia me lembrar porque tinha começado a falar aquilo e também porque fiquei nervosa. Tentei te explicar isso mas também não consegui. Você ficou com o livro parado no ar e eu me perguntei por que diabos você não estava vestido. Então você prestou atenção no que eu disse, mas não entendeu o própósito já que, como eu disse, fiquei lá rindo e tal e não expliquei. O que na minha mente gostaria de ter explicado era que algumas pessoas passam por certas coisas que as deixam tão abaladas - e a todos ao redor tão chocados - que só lhes restam duas opções: o suicídio ou a aceitação. Como Darwin me disse naquele carnaval em Galápagos, o instinto de sobrevivência acaba ganhando quando não se trata dum cara maníaco depressivo, então estava ali eu - por enquanto. Outra coisa - a principal - era que, na verdade, eu não dava a mínima pro fato de transarmos ou não. Ok, confesso que passei a noite inteira esperando o dia amanhecer pra transarmos, mas já estava conformada.
Então a campainha tocou e você foi correndo se vestir, atender...era da farmácia, entregando o analgésico.
Fui à pé pra casa logo depois sem te dizer que só queria que ficássemos ali: eu sentada junto da janela, com certa cara de impaciência e você lendo com toda atenção, seminu, mas desejando secretamente que eu me fosse. E não ficaríamos sozinhos.
Em
casa, acendi um cigarro junto a porta da varanda e a cidade estava alí, de carros frequentes, música e crianças com cafifas. Acendi um cigarro e observei toda a cena, folgada, com pouca roupa achando que o tempo já não estava tão abafado quanto ontem porque às vezes ventava. Acendi um cigarro e descobri que ficava deprimida quando fumava.

sexta-feira, 30 de março de 2007

Da espera

Então ficou ali sentada, com a cara de espanto como se houvessem lhe dito a maior barbaridade, o que de mais chocante já ouvira na vida. Decidiu falar qualquer coisa mas desistiu assim que a primeira letra, da primeira palavra, desapareceu de sua mente voando com aquelas asas imensas que ela conhecia. O que ele queria afinal? Que ela se ajoelhasse, que chorasse, que corresse pra casa da mãe? Ele era quem deveria fazer alguma coisa que... o telefone tocou duas vezes seguidas - o que foi estranho - e ele correu para atender.
Ali sentada no chão da sala, quis vomitar, mas se limitou a cair pro lado como um saco cheio de compras. Ele queria. Ele queria. Ele queria...
O que diabos uma pessoa fazia quando, depois de dez anos esperando feito uma estúpida, descobria que amava somente na medida dos indiferentes e que só o que queria o tempo inteiro era uma cama sem os estrados quebrados?
Ele voltou, daí disse que era da farmácia e que o analgésico havia acabado. Ela suspirou e pensou que, se não fizessem amor naquele exato instante, comeria o sinteco. Na verdade comeria o sinteco desde a tarde em que, esperando no museu, o viu tomando um café e resolvera olhar pra sua testa como se nunca a tivesse visto.
Eram um acontecimento axiomático, quem se importava com analgésicos? Sabia agora como vivia a última ararinha azul recolhida ao cativeiro pela salvação da espécie.

Sem título2
Tira a cara de estupidez
Tira teu tédio
Tira a culpa do casado
Tira
Tira os olhos do vizinho
Tira a chave debaixo do meu tapete
Tira meu medo
Tira erro
Tira as novas concepções de dor
Tira as fitas do meu cabelo
Tira aquela música
Tira de ouvido
Tira um desajuízo destro
Tira um instante
Tira núpcia
Tira volúpia
Tira meu afeto casto
Tira meu afago
Tira meus gemidos
Tira meus pais de casa
Tira minha calcinha

domingo, 25 de março de 2007

Portrait 2


Quando, eu nasci meu pai - muito bêbado - fez um samba que gravou com os amigos num bar. Alguns anos depois, como eu tinha muita vergonha da fita, desgravei. Por cima coloquei a historinha de "João e Maria". Assim então ficou resumido tudo o que viria depois...

quinta-feira, 22 de março de 2007

Portrait

Esclareço aqui algo: não sou de grandes arroubos textuais. Não consigo discorrer sobre a guerra civil carioca, sobre os novos cálculos para o PIB nacional ou sobre o Al Gore e os discursos norteamericanamente piegas (soou redundante?). Não consigo. Não sou de grandes arroubos textuais.....
Reconhecido assim esse meu ponto, toco a dizer que a minha praia é o portrait... Só sei falar mesmo é sobre o pequeno, o bobo micro-cotidiano infinito (o piso da minha varanda estufou outro dia acho que por causa do calor... eu estava lavando a varanda e fiquei pensando..minha nossa, essa casa vai desabar dia desses. o Mohammad - meu cachorro - quase teve um ataque do coração... ele tá velho demais pra esses surrealismos de varanda).
Portrait porque é um retrato, uma fotografia próxima, quase íntima, quase despudorada de uma realidade, de uma pessoa, de uma existência de alcova. E adoro existências de alcova, existências em família. Galáxias reduzidinhas...
Uso essas palavras como uma justificativa pra minha falta de jeito com as coisas maiores e mais sérias... eu não dei certo como comunista, daí virei hippie (mas como a roupa indiana anda cara, virei neo hippie), não sei como enxergar e dizer o que eu vi pelo Hubble, não sei.
Os filmes que mais gosto, os livros que mais curto... não falam de grandes revoluções (nem da dos bichos), nem fazem grandes vôos pela política ou pelos problemas sociais com megafone em riste.
Meus contos favoritos não pedem reforma política (talvez agrária), meus filmes favoritos não enxergam as manobras políticas por áreas de influência e nem saem dando tiros pelas ruas, explodindo prédios, nem têm orçamento de 55 milhões... nem as minhas músicas (!): elas são tão mesquinhas quanto eu e só pensam em si próprias... o sistema carcerário brasileiro? Mas, é como diria o Sky Lab: eu tô pouco me importando com as baleias...!- pausa longa - mas..olha..eu acho importante que alguém se importe com as baleias....

Perdões pelo cansaço de ler até aqui.

ps.: como deu pra perceber, não morri na viagem. mas, já diria a minha vizinha: da próxima não passa. enquanto isso eu vou lembrando do banho de mar em Cabo Frio às 3 da manhã...

PRISCILLA
Sabe o que falta pro nosso relacionamento ser perfeito?

LUANA
[vigiando a próxima onda e ao Igor] O que?

PRISCILLA
Vocês se tornarem exibicionistas e eu... voyeur.

terça-feira, 20 de março de 2007

Novas aquisições musicáticas

BACK TO BLACK | 2006
Amy Winehouse

Para os que me conhecem razoavelmente bem, não é de se espantar que eu esteja envolvida com uma nova obsessão musical; tudo graças à um feliz acaso: estava voltando outro dia do centro do Rio numa van que, como é costume das vans, estava sintonizada na rádio JB. Aí, num desses programas de resenha de discos (não sei qual foi nem quem fez, não dava pra ouvir direito), saiu um boogie, um jazz'ado, um soul, um negócio, um barato louco... ele identificou a moça: inglesa, turbulenta, de voz potente, precoce, cujo álbum de 2006 acabava de lançar aqui no Brasil, um álbum chamado Back to Black ... Annie? (lembrei da Annie Hall)... e fui pro Google e achei Amy Winehouse.
Dia desses meu irmão descobriu um site aí onde você faz downloads de albuns
completos e corri pra fazer ele baixar o tal disco... fiquei surpresa demais. Você conhece Sarah Vaughan? Billie Holliday? Imagine-as cantando isso:
Tentaram me fazer ir pra reabilitação mas eu disse "não, não não"
Tenho andado mal mas quando eu voltar vocês vão ver, vão ver, vão ver
Eu não tenho esse tempo e se meu papai acha que eu tô bem...
Ele tentou me levar pra reabilitação mão eu não quero ir, ir, ir
Esse é o refrão de Rehab, a primeira faixa de trabalho do Back to Black... e, de verdade, não é nem a ponta da questão. A Winehouse encarna um blues sec. XXI chocando no papel de diva-decadente que lhe cai como uma luva. E era justamente o que eu estava precisando desde que a Shakira resolveu que iria balançar a bunda com a Beyonce - o que me deixou muito confusa: o comportamento esperado era "continuo lambendo a sola dos seus sapatos" ou ser gostosa puramente?
Talvez eu esteja ficando velha ou a Shakky tenha ficado ocupada com as novas
concepções de si própria enquanto eu me enfiava em dezenas de roubadas que terminaram muito mal - todas (na verdade, o meu biógrafo vai achar que elas foram ótimas). Posso explicar: é tão reconfortante saber que mulheres perdidas, bêbadas, corpulentas, passionais e de manolo blahnike têm seu lugar ao sol, que fui capturada... afinal eu preciso de uma figura feminina que me diga que "beleza!" senão eu enlouqueço. E, em tempo, é melhor lembrar: sim, sou uma escrava das tendências.
Amy Winehouse tem uma voz absurda, arranjos deliciosos e músicos que a sustentam como se ainda estivéssemos nos anos 50 e os albuns fossem gravados num take só. Pra quem se interessa por degradação feminina, roupas chiquérrimas, drogas, jazz e se sente órfão da Lauryn Hill,
Back to Black é um prato fundo - uma verdadeira fossa. Mas acho que pessoas com esse perfil não ligam pra isso, ao contrário, chafurdam alegremente.
Serei a próxima de um outro cara em breve Não deveria me masturbar outra vez Deveria ser minha melhor amiga nessas horas E não ficar me imaginando transando com caras estúpidos Tears Dry On Their Own Eu meio chapada E as lágrimas que já secaram Tenho que seguir em frente sem meu homem Back to Black Enganei a mim mesma exatamente como eu soube que faria Eu te avisei que eu era encrenca ...você sabe que não sou nenhuma boazinha You Know I'm No Good Sob odes fúteis E zombada pelos deuses E agora a moldura final: o amor é um jogo de azar Love Is A Losing Game Avise seu namorado pra da próxima vez que vier Pra ele comprar sua própria maconha e não usar mais da minha Addictec

quarta-feira, 14 de março de 2007

Esta é uma postagem pessoal

E num fundo raso...reinou a frivolidade.

Viajo amanhã pra não sei bem aonde, mas acredito que volto semana que vem. Nessas horas me vejo imersa nas paranóias familiares que me fazem ir com facilidade para algum parágrafo do Nelson (Rodrigues); saúde frágil, perigos da rua, acidentes de trânsito etc.
Penso que vou morrer, dessa vez vou morrer. É quase a mesma convicção que a minha vizinha tem de que o marido dela irá morrer - não passa desse mês! Ela repete com tamanha certeza que todos assistiram à Copa do Mundo um tanto aflitos aqui em casa porque ela subia, descia e repetia: dessa Copa ele não passa!
Sou como ela, juro que dalí não passo.

fomos tão longe, tão longe, pra encontrar ninguém menos que niguém. depois você me deixou sozinha, mas isso nem é interessante de verdade (um pouco mais do que aquela música que a gente ouviu no carro quando levaram o celular da sua mãe).

Então penso a respeito da morte demais. Sigo a filosofia seguinte: beba rápido pra beber mais. Trata-se de um ato insandecido de vivência cometido por certas pessoas: envolvem-se em abusos, em desvarios, em abismos e histerias. Às vezes há muito pra se beber, outras vezes não; cada ocasião é um risco de o número de garrafas serem contados para menos, do dinheiro acabar, da festa acabar. Mas isso não importa: beba rápido para beber mais, ou pra acabar logo. Não..não recomendo que ninguém faça isso, mas me auto-recomendo altamente que jamais desvie a atenção desse princípio útil, básico e ordinário.

Escolheu alguém pra amar... e a não-retribuição fez de tudo lá péssima idéia. Das festinhas às sugestões do pai, dos chás e dos beijos esporádicos em rapazes, dos pequenos prazeres solitários; tudo era decretado então ruína, tudo era decretado então fruto da má vontade de um, de um só, que lhe negara seu único capricho, a única pretensão que tivera até então na vida. As outras tantas negações menores tornavam-se doravante fantasmas de buracos que cultivava em si, doloridos ou dormentes, agora inexpressivos.



domingo, 11 de março de 2007

Semanário

Visitação
O que muita gente estava esperando, há muito tempo, aconteceu essa semana...e fiquei embasbacada de descobrir que não era o show do Roger Waters e seu Dark Side of the Moon (um minuto de silêncio pela minha dor: não irei), mas a visita de BUSH, George W. ao nosso humilde country.
Desde o show do U2 eu não via tamanha peregrinação nem tamanha mobilização, só faltaram as rapariguitas mostrando os seios varonis ao líder americano que veio pr'essas bandas cumprir agenda da turnê 2007 da Casa Branca que, dessa vez, cobriu a la gente de Latino America. Quem não gostou nada foi nosso amigo Chavez que, ao contrário da galera que brincou carnaval no bloco Simpatia é Quase Amor, não acredita que Luftal irá resolver o problema de gás da Bolívia, tudo bem... não dá pra agradar todo mundo.
Distribuindo elogios à política lulítica e jurando que Brasil e Estados Unidos têm em comum o grande potencial pra liderância energética planetária - o que fez o ego do brasileiro médio inflar absurdamente, Bush causou grande furor e manifestações em sua passagem fazendo com que fôssemos parar direto e reto na primeira página do The New York Times para alegria da galera do PSTU (conhecido como Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados), que recebeu grande destaque.
Uma pena que, mais uma vez, a exemplo do Coldplay, do Aerosmith e do próprio U2, não rolou o esperado show no Rio de Janeiro. Com certeza ia bombar, opinaram uníssono os adeptos de trocadilhos sem graça. Fica pra próxima.


Balísticas
Gracinhas à parte, penso em quando foi que "paz e amor" virou algo ridículo de se dizer... Enquanto isso a imprenssa vende seus jornais e os planos de saúde pegam carona em outdoors com pombos.


FONTE.
na imagem, manifestantantes caprichando no BUSH GO HOME no The New York Times dessa quarta. Ads by Mastercard.

II

RESUMO: o desencontrado começo

E as mesmas flores estavam lá, intensamente, excessivamente vermelhas. Os cabelos estavam num corte diferente e não poderia tê-la reconhecido de imediato. Casada. Como aquilo tinha acontecido? Proclamas, noivado, vestido...num tempo tão curto. Responderia tempos mais tarde: paixão fulminante e irresponsável, uma gravidez inventada só para dar sabor de escândalo familiar à cerimônia.

Tomou o chá de uma vez só. Ainda sentada no banco de mármore, ela levantou o braço esquerdo e consultou o relógio discretamente. Revirou em seguida a bolsa, não encontrou o que não procurava, enfim, tornou-se estática mais uma vez.
Pensou em ir lá, em falar com ela, cumprimentar, esbarrar ou pedir informação sobre a exposição. Pensou cinco vezes sobre cada possibilidade e, antes que entrasse na sexta, lá estava ela com os olhos grandes e pintados de mais bem voltados pra sua testa.
Naquele mesmo lugar ele a tinha visto chorar e esfregar a cara compulsivamente dizendo que estava tudo bem, que se ele queria terminar que, assim fosse em frente, terminassem, que tudo bem, que chato, que coisa ruim, tudo bem...
E olhava para sua testa.
Cinco meses depois ele ainda se martirizava pelo que fizera, ela se limitava a enrolar ainda mais as longas pernas no lençol de forma obcena, e nada era mais contundente que o seu silêncio aterrador.
A cerimônia de casamento fora simples, os amigos de sempre presentes e ela agindo como se tivesse nascido exclusivamente para ser sua possessão e inteira desgraça confusa.

quarta-feira, 7 de março de 2007

Histórias desconexas I

PONTO: a percepção dos fatos

Sentiam-se infames. Quinze anos atrás estavam jogados em alguma existência, pelas escadas públicas como se não tivessem casa, pais, cama; refletiam sobre o mundo exclusivo e hostil, quase esquizofrênico, de suas cabeças de 12, 13, 14 anos, numa solidão tão cotidiana que soava como a única possibilidade óbvia de vida. Partilhavam agora as respectivas peles, gostos, dedos. vozes. Docemente infames.
Sem que a certeza do isolamento se afastasse, sentiram-se, amantes, absurdamente e confortavelmente sós.


terça-feira, 6 de março de 2007

Das novas aquisições cinemáticas

Semana passada terminou a Mostra Inéditos no Rio do CCBB que aprontou mais de uma dúzia de filmes que jamais entraram em circuito comercial aqui no Rio - e que certamente nunca entrarão. O encerramento da Mostra me fez montar uma espécie de fechamento dos filmes que mais gostei; dos filmes pelos quais estou COM-PLE-TA-MEN-TE obcecada (nem minha mãe me aguenta mais, Luana está à beira de um colapso); uma montagem feita só com os filmes da tal mostra, mas todas as películas que me vêm rondando a mente nesses últimos tempos. Seriam estas...
DÁLIA NEGRA
(The Black Dahlia|2006|Brian de Palma+Josh Friedman[screenplayer] e James Ellroy[romance de])


Confesso duas coisas: 1. só assiti à dois filmes do Brian de Palma e 2. sou completamente apaixonada por filmes noir. O Dália Negra é o segundo remake de um noir que sair em grande circuito com certo estardalhaço (mesmo que com críticas péssimas lá nos EUA), o primeiro foi SinCity que não chega a ser um noir verdadeiro mas... uma visitação, SinCity é um Frank Miller, é um quadrinho que transita pelo submundo com suas mulheres sensuais, policiais que são heróis exemplares e muita calhordagem da máfia (tão sedutora quanto as mulheres)... mas é em Dália Negra que os anos 40 aparecem com todas aquelas cores obscuras e linguagem romancesca-trash . Bom..não vou ficar conceituando porque fico parecendo escrota e ainda corro o sério risco de alguém que entenda do riscado ler isso aqui e me denunciar.
A história gira em torno do assassinato da atriz aspirante Elizabeth Short que foi encontrada morta em
1947 num terrrreno baldio californiano cortada ao meio, sem os órgãos internos, com a perna quebrada e com um corte na boca de orelha à orelha. Seria aceitável se não fosse um caso verdadeiro. Só o caso, vale dizer, o filme é uma versão para o caso dada por James Ellroy em seu livro de mesmo nome já que até hoje não se sabe quem matou Betty nem qual foi o motivo.
Ellroy escala para essa missão os
detetives Buck(Hartnett) e Lee (Eckhart), o primeiro, um humilde policial cujas pretensões não passam muito das de ter uma vida tranquila, o segundo, um homem ambicioso e obcecado pela resolução do assassinato. No meio deles, mas nunca entre eles, está a loira Kay Lane (Johansson). Não vou me fazer de rogada ao dizer que o filme se torna ainda mais iluminado (no caso..mais dark) com a entrada de Madeleine Linscott, absurdamente interpretada pela absurda Hilary Swank que bagunça o harmônico triângulo Buck-Kay-Lee e traz pistas chaves para a resolução da morte da infame Dália Negra (Kirshner); é a minha personagem favorita do filme, nem precisa dizer...
Os
diálogos são bem rápidos - tenha em mãos seu controle remoto - e o mistério é mantido à base de muito jogo de roteiro e imagens cuidadosamente editadas, bem mantido num filme delicioso e perturbador. Atenção para a trilha: "Love for Sale" do Cole Porter interpretada por K.D Lang..ai ai...


VIVA ARGÉLIA!
(Viva Laldjerie|2004|Nadir Moknèche)

Assisti ao Viva Argélia! (não me perguntem o por que desse ponto de exclamação porque eu não saberia responder satisfatoriamente) pela primeira vez no cineART UFF com a bela Luiza, lembro que chegamos super atrasadas (como de costume) e ficamos boiando, já que o filme já tava lá pros seus 20 minutos de começado. Mesmo assim saí arrasada do cinema... tinha adorado o filme de uma forma tão sem noção que só fui conseguir me responder o que realmente eu tinha gostado nele agora, uns quatro meses depois, ao re-velo na Mostra Inéditos no Rio (detalhe foi o escândalo que eu armei quando vi Viva Argélia(!) na programação, mais uma vez Luana esteve a ponto de surtar porque eu já tinha ouvido a música tema umas 300 vezes graças ao 4shared.com).
O filme se passa na Argélia (oh) de 1997 recém "saída" da
guerra civil - as aspas porque, mesmo durante a trégua, ataques terroristas eram constantes - contando a história de três mulheres: Papicha (Biyouna), sua filha Goucem(Lubna Azabal) e da incansável prostituta Fifi (Nadia Kaci). As três moram num decadente pensionato com mais algumas famílias. Nada demais, não?
Mais tarde descobri que o Nadir Moknèche é conhecido por aí como o Almodovar do mundo árabe... já digo porque. Papicha
(ou melhor, a senhora Sendjak), uma viúva, é ex-dançarina/stripper e vive das recordações daquele tempo (e de pizzas..muitas pizzas), Goucem tem à 3 anos um affair com um médico casado que as sustenta eventualmente mas o cara, repentinamente, começa a dar mostras de que vai cair fora do relacionamento sem o sonhado casamento com a moça, eventualmente trabalha com certa justeza na loja de fotografias de Monsieur Mounfouk. Já Fifi..bem...Fifi está sempre muito ocupada com seus clientes.
As coisas parecem indesdobráveis já que temos, até então, casos estagnados. Talvez não haja um ponto de conflito... as próprias existências são o conflito. Mesmo assim os acontecimentos vão sendo desfiados bem à nossa cara; os conflitos entre Goucem e a mãe, as aventuras de Papicha e Tiziri (Lynda Harchaoui) - a vizinha pré-adolescente - em busca da reabertura do antigo Cabaré Le Copacabana, além das nuanças da cosmopolita-decadente Argélia: uma junção de África, fundamentalismo islâmico e Ocidente cuja combinação fascina já no primeiro minuto.
Sou obrigada a destacar a cena em que Papicha,
desiludida em perceber que seu mundo julga sua arte como crime e em perceber que sua filha de 27 anos está triste com o rumo que a vida as levou a ter. Está sentada assim na praia e começa a ouvir uma música vinda do bar. Alguns minutos depois já está completamente bêbada, disposta a dar os braceletes de ouro em troca de mais uma dose de wisky - é impedida a tempo por um homem que lhe paga a bebida.
Pede então para que coloquem uma música de Chebba Djenet (a Princesa do RAI - música argelina, também descobri isso depois) e começa a dançar levando todos os clientes ao mesmo. Depois é o roteiro do bêbado.... chora horrores lembrando-se do marido morto. Morreu num atendado? Não,
morreu de nojo, ela diz.


DONNIE DARKO
(Donnie Darko|2001|Richard Kelly)

Fui obrigada a colocar os dois posteres. Richard Kelly não deixa ser uma tarefa fácil explicar a sinopse surreal que envolve o
clássico cult Donnie Darko. Por que me ufano do filme?? Se eu tivesse um filho, ele seria o Donnie... rsss (ou talvez eu seja ele, mas tenha vergonha de contar a vocês, daí arranjei essa desculpa do filho). Perturbado, desajustado, sonâmbulo e esquizofrênico, o adolescente Donald (Gyllenhaal) é constantemente visitado pelo coelho gigante (e feio pra burro) Frank (Duval) (a carinha dele é essa aí do segundo poster) que insiste para que ele o obedeça executando certas....tarefas (imagine a tarefa pelo machado na mão do moço). Pros admiradores e saudosistas dos anos 80, a trilha sonora e o ambiente é um prato cheio (Joy Division, INXS, Echo and the Bunnyman...), pros que curtem uma viagem confusa por si mesmo é um banquete completo. Donnie se torna cada vez mais doente por não compreender as questões óbvias da existência: por que estamos aqui? pra onde vamos? Pra que estamos e pra que vamos? E tome de consultas com a psicóloga, de remédios desconfiáveis e de preocupação dos pais...
Acompanhamos assim uma vertiginosa viagem de Donnie por multiplas especulações a respeito da ordem natural das coisas, do tempo e da agonia de saber que a culminancia de isso tudo é um grande sei-lá-o-quê apavorante.
Ele acorda certo dia com uma turbina de avião caindo em cima de seu quarto, no outro quase atropela com seu pai uma velhinha no meio da rua e noutra noite está com a menina dos seus sonhos, Gretchen, assistindo um filme de
terror ao lado de Frank, o coelho. Alice compreenderia tudo.

DONNIE
Por que você está vestindo essa roupa estúpida de coelho?
FRANK
Por que você está vestindo essa roupa estúpida de humano?



comentários: os comentários feitos estão sendo respondidos na própria caixinha de comentários. obrigada.
FONTE: Internet Movie Database & Comme au cine.com



Brota um limão!


Diz a Wikipedia (aka: Larrousse):

O limão é o fruto do limoeiro (Citrus x limon), uma árvore da família das rutáceas. Também conhecido como limão verdadeiro, é originário da região sudeste da Ásia. Desconhecido para os antigos gregos e romanos, a primeira referência sobre este citrino encontra-se no livro de Nabathae sobre agricultura, datando do século III ou IV.

Trazida da Pérsia pelos conquistadores árabes, disseminou-se na Europa. Há relatos de limoeiros cultivados em Génova em meados do século XVAçores1494. bem como referências à sua existência nos em

Séculos mais tarde, em 1742, os limões foram utilizados pela marinha britânica para combater o escorbuto, mas apenas em 1928 se obteve a ciência sobre a substância que combatia tal doença, batizado ácido ascórbico ou vitamina C, na qual o limão proporciona em grande quantidade: o sumo do limão contém aproximadamente 500 miligramas de vitamina C e 50 gramas de ácido cítrico por litro. Atualmente é uma das frutas mais conhecidas e utilizadas no mundo.

Popularizou-se no Brasil durante a chamada Gripe Espanhola (epidemia gripal de 1918), quando atingiu preços elevados, chegando a ser comprada por de dez a vinte mil réis cada unidade.


Com 20 mil réis você também podia adquirir um escravo bacana no início do século XIX, mas isso não vem ao caso. O que realmente vem é que, após ter cometido Orkuticídio, - falaremos disso noutra ocasião - achei que seria uma boa coisa criar um blog pra fazer a mesma coisa que eu fazia lá no meu falecido perfil: escrever uma grande quantidade de coisas que ninguém vai ler. Só que, nos blogs, sempre me pareceu a intenção principal escrever mesmo; pra ser lido ou não,. lembro que na escola a gente até falava de blogs como se fossem terapia. Na época eu me forcei a criar um mas não tive o menor sucesso: era arrogante e queria fazer uma página foda que ninguém tivesse feito ainda. Percebe-se que fracassei; eu não sabia ainda que, o que realmente ia fazer sucesso, iam ser os relatos de Bruna Sofistinha (ou Surfistinha, para os íntimos e para os babilônicos).

O limão é uma fruta que eu gosto. Sabia que os diabéticos podem consumir limões sem restrição alguma? Pois é..sei disso porque sou diabética. Gosto de limão - não sei se passei a gostar mais antes ou depois de ter lido esse lance da não-restrição - e achei que ia ser um nome que não me causaria problemas - pessoas com blogs com o mesmo nome, por exemplo "Café Expresso". Juntei o limão com o "expresso" - pra dar um ar de imprenssa, pra forçar uma seriedade e tcharam, brotou um limão.

Ainda não tenho objetivos claros para o blog mas, imagino que possa usar esse espaço para colocar inultilidades que são por si só inúteis, mas de bom tom, lisérgicas e, por definição, azedas.

fonte: Wikipedia.ORG | verbete: Limão
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